Ser pai é mais do que um papel; é uma jornada de amor, aprendizado e responsabilidade. É estar presente nos momentos importantes, oferecer apoio incondicional, e ser um guia ao longo da vida. É aprender com os desafios, celebrar as conquistas, e ser uma fonte constante de força e inspiração. Ser pai é amar sem limites e fazer a diferença na vida de seus filhos, todos os dias. Por isso, neste Dia dos Pais, a Agência Aids conta uma história de amor e acolhimento que supera qualquer estigma ou preconceito. Apresentamos a trajetória do comunicador, influenciador digital sobre HIV/aids e ativista David Oliveira e de seu pai, o senhor Samuel, que, com apoio incondicional, demonstram como o amor e a compreensão têm o poder de transformar vidas e derrubar todas as barreiras.

David, idealizador do projeto doses de vida, dedica a vida a promover a conscientização sobre HIV, prevenção, educação em saúde e direitos humanos, especialmente em espaços religiosos. Ele encontrou aceitação e apoio incondicional em seu pai. Embora sua vivência com HIV não tenha sido fácil no início, ele compartilha que a força e o acolhimento recebidos do pai foram fundamentais para enfrentar qualquer preconceito após o diagnóstico positivo.

Nascido em 1992, ele é filho de uma pernambucana e um paulistano. Desde a infância, lembra-se de ter sido cercado de carinho e de ter crescido em uma família amorosa. “Eu era muito mimado pelos meus pais e tive uma infância feliz”, recorda. Apesar das dificuldades financeiras, crescendo na periferia da zona leste de São Paulo, David nunca sentiu falta de afeto. Seu pai, em especial, sempre foi um exemplo de generosidade e cuidado, tanto com a família quanto com todos ao seu redor. “Meu pai é aquele cara que passou fome na infância, trabalhou duro a vida toda e, mesmo aposentado, continua trabalhando. Ele sempre compra comida em grande quantidade, não só para nós, mas também para suas irmãs, sobrinhas e colegas de trabalho. Essa é a forma dele expressar amor.”

O ativista ressalta que, embora mantivesse uma boa relação familiar, discutir sexualidade sempre foi um desafio devido à postura conservadora e evangélica de sua família. Mesmo assim, ele sentia que seus pais estavam sempre dispostos a apoiá-lo em suas questões.

Ao falar sobre sua ancestralidade, sua relação com a negritude e a construção de sua identidade e consciência racial, ele comenta: “Eu sou um preto não retinto, de pele clara. Raspar a cabeça me dava uma certa passabilidade. Já meu pai sempre usou cabelo black, crespo, e eu me via nele, meu nome era aceito, então acabava projetando isso nele.” O ativista admite que sua consciência racial se desenvolveu mais tarde na vida, especialmente após o diagnóstico de HIV. “Foi ao perceber a fragilidade da vida e a importância de um espaço seguro de afeto que compreendi que meu pai sempre foi, de fato, o meu herói.”

David também reflete sobre as dificuldades que pessoas LGBT+ enfrentam para receber afeto. Ele observa que muitas vezes essas pessoas não encontram o mesmo nível de apoio e carinho que ele teve de sua família e enfrentam dificuldades para aceitar serem cuidadas. “Meu pai sempre foi uma exceção a isso, e sou grato e reconheço o privilégio que tive em contar com esse tipo de apoio.”

O apoio incondicional no pós-diagnóstico

O HIV entrou na vida de David como um choque, abalando muitas de suas certezas e mudando completamente seu rumo. A notícia chegou em um momento crítico, quando ele já estava gravemente doente. “Quando descobri o diagnóstico, meu pai foi a primeira pessoa a saber. Lembro que era uma manhã ensolarada; a moça da UBS me ligou. Recordo exatamente daquele dia, o sol, a roupa que eu usava, o lugar em que estava, mas não consigo lembrar como voltei para casa, o caminho que fiz. Lembro também que, ao chegar em casa, meu pai me encontrou e perguntou o que havia acontecido. Eu disse que contaria depois, mas ele insistiu que eu poderia falar. Então, revelei que estava com aids, nem mencionei HIV. Ele me disse que eu não estava sozinho e que enfrentaríamos tudo isso juntos.”

Seu Samuel já havia acompanhado de perto amigos e familiares afetados pela aids, cuidando deles e oferecendo apoio. “Meu pai me deu dinheiro para eu ir ao SAE. Ele conhecia o SAE porque havia levado alguns amigos que se tratavam lá e, infelizmente, faleceram de aids,” conta David. “Meu pai foi comigo à primeira consulta com o infectologista. Em todos os momentos, ele sempre foi minha maior referência de acolhimento. Quando fui ao meu primeiro encontro sobre juventude no CRT, contei a ele, e ele disse: ‘Vai sim, vai te fazer muito bem, você será abençoado lá!’.”
Religiosidade

O relacionamento de David com seu pai também foi fundamental em seu envolvimento com a comunidade religiosa. Após se afastar do fundamentalismo religioso, David, que se identifica como cristão protestante (evangélico), decidiu migrar para uma igreja progressista, e seu pai respeitou suas escolhas, oferecendo encorajamento e orientação. “Meu pai é uma pessoa conservadora, mas com uma visão muito sensível para a humanidade, para a arte, para a subjetividade das pessoas… Quando conheci a igreja ‘Rede 80′ – ‘Rede’ se refere à palavra cabeça, e ’80’ ao Salmo 109, versículo 80 -, lembro que meu pai olhou para o meu pastor na época e disse que confiava nele, que cuidaria de mim, especialmente porque era um pastor preto, jovem… Isso foi importante, e meu pai percebeu isso.”

Saudável, forte e ativo, David continua a usar sua visibilidade para promover a conscientização sobre o HIV e apoiar outras pessoas que têm histórias semelhantes à sua. Seu pai, por sua vez, segundo David, demonstra um orgulho constante pelo trabalho do filho, acompanhando suas aparições na mídia e compartilhando suas conquistas sempre que possível. Neste Dia dos Pais, David faz questão de expressar novamente sua gratidão e amor por seu pai, deixando uma mensagem especial para o seu Samuel: “Pai, quero dizer que você é minha dose de vida. Você é a minha vida. Se hoje existe um David que ama e é apaixonado pela vida, é em grande parte porque esse David ama muito você.”

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

David Oliveira

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