Com o objetivo de sensibilizar futuros profissionais da saúde para o enfrentamento ao HIV/aids, a Agência Aids se juntou ao Senac São Paulo em um ciclo de palestras sobre prevenção combinada. A ação acontece em alusão ao Dezembro Vermelho, mês de enfrentamento ao HIV/aids.

Liderados pela jornalista Roseli Tardelli, diretora desta Agência, desde o começo de novembro, infectologistas e ativistas da luta contra aids estão percorrendo diferentes unidades do Senac São Paulo e conversando com alunos da área de saúde sobre prevenção do HIV, autocuidado e cidadania.

“Retomamos um projeto já antigo de rodas de diálogo com a Agência Aids, após a pandemia, e a cada ano direcionamos para um grupo diferente de alunos: ensino médio, programa aprendizagem e agora os estudantes das áreas de saúde, bem-estar e segurança do trabalho. Acreditamos ser um tema muito relevante do ponto de vista socioeducacional, mas também pensando no autocuidado, na prevenção das infecções, transmissão do vírus e sobretudo no combate ao preconceito“, disse João Henrique de Freitas Alves, da Gerência de Pessoal, do Senac São Paulo.

Nos próximos dias, as unidades São Miguel Paulista, Santos, Vila Prudente e Largo 13 vão receber especialistas e ativistas para um ciclo de debates sobre a temática.

“O Senac tem sido pioneiro em difundir informações sobre prevenção  ao HIV e ISTs em geral. Ações importantes que contribuem para os jovens e  os futuros profissionais de saúde percebam nossas vulnerabilidades e manejem melhor os instrumentos que o SUS oferece para prevenção”, disse a jornalista Roseli Tardelli.

No dia 30 de novembro, por exemplo, os alunos de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, terão a oportunidade de esclarecer todas as dúvidas sobre o tema com a infectologista Marinella Dela Negra e o influenciador digital e publicitário Lucas Raniel. Lucas vive com HIV há mais de 10 anos e tem usado as redes sociais digitais para disseminar informações corretas e pertinentes sobre HIV e combater o preconceito. Já a médica Marinella tem uma longa trajetória nesta luta, foi responsável pelo atendimento das primeiras crianças vivendo com HIV no Brasil.

No dia 5 de dezembro, os alunos do Senac Santos vão receber para o debate o epidemiologista Fábio Mesquita, uma das maiores autoridades sobre aids do Brasil, e o ativista Beto Volpe, que vive com HIV desde os anos 1990.

A infectologista Amanda Fernandes e a ativista e consultora em HIV/aids, Silvia Almeida, conversarão no dia 07 de dezembro com os estudantes da unidade Vila Prudente. No dia 08, as conversa será na unidade Largo 13, com o infectologista Vinicius Borges e a ativista Silvia Almeida.

 

A dinâmica

Nos encontros, os especialistas vão abordar as principais estratégias de prevenção ao HIV no Brasil, com foco na mandala da prevenção combinada, que busca alcançar um impacto máximo na redução de novas infecções pelo HIV ao combinar estratégias biomédicas, comportamentais e estruturais baseadas nos direitos humanos e em evidências cientificas.

Uma delas é a testagem regular para o HIV, que pode ser feita gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs).

Outra ação fundamental que compõe a mandala é a prevenção da transmissão vertical, a partir de exames pré-natais, diminuindo o risco de transmissão do HIV da mãe para o recém-nascido: na gestação, no parto ou durante a amamentação. As imunizações para hepatite B e HPV também são práticas essenciais contempladas no programa.

A redução de danos para usuários de álcool e outras drogas também é determinante para evitar a transmissão, promover a qualidade de vida e garantir o acesso à saúde. Oferta de insumos individuais como seringas e agulhas, intervenções comportamentais e estruturais, que combatem o preconceito a esses públicos, são alguns exemplos de medidas que podem ser adotadas.

O uso de preservativos internos e externos, além de géis lubrificantes, disponíveis gratuitamente no SUS, são o carro-chefe para a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, sendo fortemente recomendados. Já as Profilaxias Pré e Pós Exposição ao HIV são outros avanços disponíveis gratuitamente no SUS. Consiste no uso de antirretrovirais (ARV) para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV.

As Unidades do Senac Tiradentes, Campinas e Osasco já receberam o ciclo de palestras. O ativista Américo Nunes e o infectologista Álvaro Furtado estiveram na unidade Tiradentes. A ativista Jenice Pizão, fundadora do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, e o infectologista Josué Lima, conversaram no dia 7 de novembro com os alunos de Campinas.

Já a infectologia Marinella Dela Negra e a ativista Jaqueline Côrtes estiveram em 8 de novembro na unidade Osasco.

Conheça os palestrantes:

Dra. Marinella Dela Negra, infectologista e Presidente da AACPHIV.

Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1971), mestrado em Medicina (Gastroenterologia) pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas de Gastroenterologia (1995) e doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2004). Foi supervisora de equipe técnica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professora adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É presidenta e fundadora da  AACPHIV – Associação de Auxílio à Criança Portadora de HIV , criada em 1989 graças a uma doação.A Associação teve como atividade inicial o auxílio às crianças  infectadas pelo HIV e suas famílias através de doação de alimentos, e medicações não disponíveis na rede publica. Com a chegada dos antirretrovirais e o tratamento das crianças que  passaram a atingira idades maiores e e com a diminuição da transmissão vertical graças à identificação e tratamento das gestantes com HIV a atividade da Associação   transformou-se. A Associação  passou  a  fornecer a estas crianças e aos jovens a condição de, através da adesão ao tratamento, a possibilidade de ascensão socioeconômica através da educação. A Associação  já formou 30 adolescentes em curso superior, custeando seus estudos.

Lucas Raniel

Lucas Raniel vive com o HIV há 6 anos. Ele resolveu tornar público seu diagnóstico após passar por uma série de preconceitos e enfrentar a depressão. Para ele, estar hoje com a carga viral indetectável (HIV intransmissível) é ter qualidade de vida. E é exatamente isso que ele busca comunicar com os seus vídeos. “A gente tem que investir agora em comunicação de qualidade, realista, sem sensacionalismo, sem moralismo e sem terrorismo. Acho que quando a comunicação sai desses âmbitos, ela se torna mais efetiva e faz com que as pessoas se interessem pelo assunto e comecem a interagir e a se informar mais sobre o tema”, disse em entrevista à Catraca Livre. Com seus vídeos, ele busca mostrar que ter o resultado positivo para HIV em mãos não é o fim do mundo, como por muitos anos foi entendido pela sociedade, e que saber seu status sorológico é uma das formas mais importantes de se cuidar.

 

Dr. Fábio Mesquita

Formado em medicina pela Universidade Estadual de Londrina, é doutor em saúde pública pela USP (Universidade de São Paulo). Coordenou os Programas Municipais de DST/Aids em Santos, São Vicente (litoral de SP) e São Paulo. Chefiou as unidades de Prevenção e Direitos Humanos do então Programa Nacional de Aids do Ministério da Saúde. Foi fundador e é membro honorário permanente da Associação Internacional de Redução de Danos (em inglês International Harm Reduction). Com vasta experiência internacional é consultor da Organização Mundial de Saúde.

 

 

Beto Volpe

Autor do livro “Morte e Vida Positiva”, ativista, Beto Volpe nasceu em São Vicente.Ao receber seu diagnóstico positivo para o HIV em 1989, aos 28 anos achou que não daria conta de seguir sua trajetória. “Meu mundo desabou, eu estava certo de que não resistiria aos meses seguintes.” Beto contraiu o vírus em encontros desprotegidos quando vivia em Santos, epicentro nacional da doença durante décadas. “Eu e meu namorado na época abrimos mão do preservativo, quando o relacionamento terminou resolvi fazer o teste. A enfermeira me chamou, falou o resultado e na hora eu disse que tudo bem, ela perguntou se eu realmente tinha entendido, que ela estava preocupada. Eu já estava meio que preparado, esperando.” O diferencial neste momento delicado, segundo Beto, foi o apoio que recebeu. “Uma coisa que não posso deixar de falar é que sempre tive apoio total e irrestrito da minha família.” Depois do susto inicial, Beto tornou-se ativista, fundou o grupo Ipupiara e desenvolveu vários trabalhos de prevenção na Baixada Santista.

Dra. Amanda Fernandes

Formada pela FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA – FAMEMA, trabalhou como1º Tenente Médica pela Marinha do Brasil e trabalhou no Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP) na função de plantonista do Pronto Socorro e adjunta da Divisão de Medicina Concluiu residência médica em infectologia no IAMSPE .É pós graduada em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar, concluída em março de 2023 pelo Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa  Trabalha diretamente com Ists/HIV e aids no SAE Santana – Serviço de Atenção Especializada, Centro de referência em IST/Aids Marcos Lotemberg (2023 -atual). Médica Infectologista responsável pelo atendimento de pacientes com Infecções sexualmente transmissíveis e HIV, bem como atendimentos de Prevenção de ISTs (PEP e PREP)

 

Silvia Almeida

Uma das pessoas mais conhecidas no ativismo da aids, Silvinha, como é chamada, vive com HIV desde 1994. Trabalhou como facilitadora no projeto Lá Em Casa, atuou como consultora de prevenção às IST/aids, compõe a equipe do Instituto Cultural Barong e coordena o grupo Toque de Mulher, no GIV (Grupo de Incentivo à Vida). Também faz parte do MNCP (Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas),rede de Mulheres Vivendo que realizam trabalhos de prevenção. Foi consultora do Unaids, programa da ONU para HIV/ Aids.

 

Dr. Marcos Vinicius Borges

Marcos Vinicius é também conhecido como Dr. Maravilha, nome de seu canal de saúde voltado para a população em geral e especialmente para a população LGBT. Seu conteúdo nas redes sociais, em seu canal no Youtube e em seu blog tem ênfase em doenças infectocontagiosas, epidemias emergentes, novidades terapêuticas e bem-estar integral. Infectologista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, decidiu criar estes canais de comunicação porque percebeu que havia um despreparo muito grande dos profissionais de saúde para lidar com a soropositividade e a questão da diversidade sexual.

Redação da Agência de Notícias da Aids