Nesta semana aconteceu, em São Paulo, o 12º Encontro de Relações Humanas em HIV/Aids. De iniciativa do Instituto Vida Nova, o evento reuniu representantes de diferentes movimentos sociais para abordar tópicos relevantes na agenda HIV/aids.

Já no primeiro debate, a palestrante Liliana Mussi, do Coletivo Terra das Andorinhas, trouxe para o centro das discussões a prevenção combinada, dando ênfase na PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), PEP (Profilaxia Pós-Exposição) e redução de danos como estratégia complementar na prevenção ao HIV, além de frisar que a indetectabilidade da sorologia positiva quebra a cadeia de transmissão do vírus (I=I).

‘‘É muito importante a gente saber e disseminar que a pessoa que está com a carga viral indetectável já não transmite mais o vírus’’, falou.

Em sua apresentação, também destacou que a testagem regular para o HIV e demais ISTs são estratégias eficientes de prevenção e promoção de saúde.

‘‘O que acontece é que muitas pessoas não sabem que têm HIV, e se não sabem, não estão em tratamento e então podem estar transmitindo’’, disse.

Liliana não deixou de fora da sua fala a questão do estigma e do preconceito, ela entende que este segue sendo o maior adversário na luta contra a aids. ‘‘Hoje o tratamento é eficiente e gratuito, mas o maior vilão, que é o preconceito, faz com que muitas pessoas não busquem o diagnóstico, não queiram saber sua condição, além de que a discriminação leva muitos a não realizar tratamento regular com qualidade, o que acaba contribuindo em complicação e até morte’’.

Sociedade civil

O evento também trouxe à tona a história do movimento social de luta contra a aids, destacando suas conquistas e desafios ao longo das quatro décadas de epidemia. Os responsáveis por fazer este resgate histórico foram: Margarete Preto, ativista e representante do Instituto Cultural Barong, e o ativista Paulo Giacominni, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+).

Margarete começou rememorando a chegada do vírus da aids ao mundo durante a década de 1980 nos EUA. Apesar de a história exata acerca do surgimento do HIV ser complexa e cheia de reviravoltas, os Estados Unidos da América é tido como o primeiro país a registrar oficialmente um diagnóstico de HIV/aids.

Naquele momento, os estadunidenses eram tomados pelo medo de uma doença desconhecida e ainda sem tratamento, tal ignorância gerou propagação de ideias erradas, e não demorou muito tempo até que os estigmas e preconceitos criados saíssem da órbita norte-americana, e fossem espalhados por todo o mundo, e o Brasil não ficou de fora.

Margarete fez questão de frisar que os 40 anos que se passaram não foram suficientes para a humanidade eliminar o preconceito em torno da aids.

No contexto brasileiro, ela comentou que a 8ª Conferência Nacional de Saúde foi um marco na resposta brasileira.

‘‘Não tinha ainda tratamento para a aids, mas com as diretrizes do SUS, com a sociedade civil impulsionando o governo, começamos ter resposta; a exemplo de São Paulo que a sociedade impulsionou tanto até que surgiu o Programa Estadual nesse bojo’’.

A representante do Barong elencou também que outro divisor de águas foi a Constituição de 88, que decretou a saúde como direito de todos e dever do Estado.

“Com a chegada do SUS, as coisas mudaram, os movimentos sociais se uniram e se qualificaram. A Constituição assegurou que a saúde e a participação popular é direito, e a participação popular foi fundamental na construção da política de aids brasileira”, lembrou.

‘‘Não é porque o governo é bonzinho e fez algum favor, todas as conquistas foram a base de muita luta, o movimento se organizou e foi a luta’’, disse Margarete, ao convidar cada um a pensar qual seu lugar na participação popular na luta contra a aids, frente às deficiências e necessidades existentes.

Indignação correndo na veia

Paulo Giacomini, deu continuidade no debate reforçando que o estigma contra homens gays, prostitutas, usuários de drogas e haitianos nos primeiros anos gerou desinformação em massa, desinformação essa reforçada pela própria imprensa da época.

Giacominni teceu duras críticas ao cenário atual do movimento social, às negociatas políticas e ao desmonte das políticas brasileiras de aids. De acordo com o ativista, o movimento de aids perdeu força e propôs uma autocrítica e responsabilidade com a causa. “Para ser um ativista é preciso ter indignação correndo na veia”, opinou.

Entretanto, afirmou que apesar dos pesares, “o movimento ainda é forte.”

Os participantes tiveram a oportunidade de aprender com as experiências dos ativistas e refletir sobre os desafios atuais que ainda precisam ser superados para eliminar o estigma e a discriminação associados ao HIV. Cada discussão reforçou a importância contínua do engajamento, da educação e da colaboração para enfrentar os desafios relacionados ao HIV/aids e avançar em direção a uma sociedade livre da aids.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

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