Durante o 14º Congresso Paulista de Infectologia, realizado no final de agosto, o médico infectologista Sidnei Pimentel, do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo (CRT-SP), conduziu uma aula sobre os desafios e avanços na prevenção do HIV entre adolescentes no Brasil. O foco foi a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), uma estratégia de prevenção essencial, mas que ainda enfrenta barreiras significativas entre os jovens.

Dr. Pimentel começou sua apresentação destacando o cenário global e nacional do HIV entre os jovens. Ele trouxe à tona dados alarmantes: globalmente, cerca de 4 milhões de jovens entre 15 e 24 anos vivem com HIV. No Brasil, a taxa de detecção de aids entre adolescentes de 15 a 19 anos triplicou entre 2006 e 2015, subindo de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes. “A epidemia vem crescendo entre homens que fazem sexo com homens, mulheres trans, travestis, usuários de drogas e profissionais do sexo.”

Segundo o médico, embora a PrEP seja uma ferramenta crucial na prevenção do HIV, sua adesão entre adolescentes ainda é um grande desafio. “Apesar de ter sido liberada para essa faixa etária no Brasil em 2022, nenhum adolescente menor de 18 anos procurou os serviços de saúde para iniciar o uso da PrEP entre setembro de 2022 e agosto de 2023.”

As razões para essa baixa adesão incluem a falta de percepção de risco entre os jovens, o estigma social, o medo de efeitos adversos e a insatisfação com o atendimento médico. “Além disso, há dificuldades entre os próprios prescritores, que muitas vezes desconhecem a PrEP para adolescentes ou sentem desconforto ao abordar questões de sexualidade com essa população.”

Um aspecto destacado foi a importância da confidencialidade no atendimento a adolescentes. Garantir que eles possam acessar a PrEP sem a necessidade de autorização dos pais é fundamental, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) protege esse direito a partir dos 12 anos, desde que o jovem seja considerado maduro o suficiente.

Dr. Pimentel também ressaltou estudos e projetos importantes em andamento, como o Projeto PrEP1519, que avalia a eficácia da PrEP entre adolescentes LGBTQIA+ em Salvador, Belo Horizonte e São Paulo. “Iniciativas como essa, além do uso de tecnologias como chatbots para educação em saúde, mostram-se promissoras para engajar os jovens na prevenção ao HIV.”

Encerrando sua apresentação, o infectologista propôs uma reflexão: “seria mais eficaz reduzir as barreiras nos serviços de saúde ou levar a prevenção para fora desses espaços, atingindo os jovens diretamente em seus ambientes? Essa questão, levantada em um artigo do pesquisador Draurio Barreira, aponta para a necessidade de repensar as estratégias de prevenção do HIV para adolescentes. Inúmeros estudos científicos têm comprovado a importância dos educadores de pares na captação, vinculação e retenção de participantes, especialmente em populações de maior vulnerabilidade e minorias étnicas ou sexuais.”

O 14º Congresso Paulista de Infectologia destacou a importância de estratégias inovadoras e inclusivas para aumentar a adesão dos adolescentes à PrEP. Compreender as barreiras e buscar alternativas que dialoguem diretamente com as necessidades dos jovens são passos fundamentais para conter a epidemia de HIV nessa população.

Vinicius Francisco, especial para a Agência Aids

Dica de entrevista

CRT

Tel.: (11) 5087-9901