No 14º Congresso Paulista de Infectologia, realizado em São Paulo, Paola Alves de Souza, doutoranda da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora da Educação Comunitária da Casa da Pesquisa do CRT/Aids, trouxe à tona uma questão crucial: a inclusão e permanência da população trans em pesquisas clínicas. Em sua palestra intitulada “Quem tem medo de travesti? Caminhos de Acesso e Permanência da População Trans em Pesquisa Clínica”, Paola destacou os desafios enfrentados pela comunidade trans na área da saúde e a necessidade urgente de criar um ambiente mais inclusivo e acessível.

Durante sua apresentação, Paola abordou o preconceito estrutural que muitas vezes impede a participação de pessoas trans em pesquisas clínicas. Ela destacou que “essa exclusão não é acidental, mas sim resultado de barreiras sociais, falta de políticas públicas inclusivas e desconhecimento das necessidades dessa população.” Essas barreiras, segundo Paola, dificultam o avanço de uma ciência que seja realmente representativa e justa.

Um dos principais pontos levantados por Paola foi a importância da educação permanente para os profissionais de saúde. Segundo ela, “é essencial que esses profissionais estejam preparados para atender pessoas trans de maneira competente e sensível, levando em conta suas vivências e utilizando uma linguagem respeitosa.” Além disso, ela enfatizou a necessidade de uma abordagem interseccional no cuidado à saúde, considerando as múltiplas opressões enfrentadas por pessoas trans, negras e periféricas.

Paola também trouxe reflexões teóricas para embasar sua fala. Referenciando pensadores como Michel Foucault, Letícia Nascimento e Carla Akotirene, ela argumentou que “a inclusão de pessoas trans nas pesquisas clínicas requer uma transformação cultural profunda, que promova respeito, visibilidade e equidade.”

Além disso, ela discutiu a “Política de Inimizade” do filósofo Achille Mbembe, que explora o medo de grupos marginalizados, e sugeriu medidas práticas para combater essa exclusão, como a contratação de pessoas trans em equipes de pesquisa e a criação de ambientes de trabalho verdadeiramente inclusivos.

O momento também foi histórico por outro motivo. Paola celebrou a presença inédita de mulheres trans na mesa de abertura do congresso. Em suas palavras, “Participar deste congresso é um marco histórico não apenas para o Congresso Paulista de Infectologia, mas também para o Brasil. Pela primeira vez, tivemos uma palestra de abertura em um congresso de medicina conduzida por mulheres trans, abordando temas de prevenção e combinando estratégias biomédicas, sociológicas e psicossociais.”

Vinicius Francisco, especial para a Agência Aids

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