A tarde desta terça-feira (1), Dia Mundial de Luta Contra Aids, está recheada de boas conversas no webinário “Pandemia dentro da Pandemia”. Neste momento, a psicóloga Juny Kraiczyk, da Ecos Comunicação, está conversando com as ativistas Marta Mc Britton, do Instituto Cultural Barong, e Jacqueline Côrtes, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, sobre a “Mobilização da Sociedade Civil e apoio às populações vulneráveis” em tempos de covid-19. Jean Carlos Dantas, do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, completa o time de debatedores.

Jean contou que logo no começo da pandemia uma das preocupações era criar estratégias para que as pessoas vivendo com HIV pudessem cumprir o isolamento social recomendado pelas autoridades de saúde, sem deixar de lado os cuidado com a saúde e a continuidade do tratamento antirretroviral.

“Em parceria com o Barong e o CRD, começamos um trabalho sem pretenções para viabilizar a entrega de medicamentos para os pacientes com risco acrescido de contrair covid. Deu super certo. Também estamos integrados na campanha Voluntariado Pelas Américas, com a Cidadãs Posithivas. Muitas pessoas nos procuraram porque precisavam de questões básicas e alimentação”, disse Jean, agradecendo o comprometimento da sociedade civil na pandemia. “As casas de apoio, essenciais na luta contra aids, também receberam recursos nestes meses de pandemia”, acrescentou.

Do Barong, Marta McBritton lembrou que desde os primeiros dias de coronavírus, a equipe tem se unido em torno do Projeto Balaio para garantir o fornecimento de alimentos básicos e a entrega de medicamentos antirretrovirais para os pacientes que por algum motivo não conseguem retirar nos serviços de saúde. “O Jean me procurou para criarmos juntos uma rede para a retirada de antirretrovirais. Isso foi no sábado à noite, na segunda o projeto já estava pronto e começamos a divulgar, mesmo sem nenhum recurso”, comemorou Marta, dizendo que a ONG já entregou mais de 2 mil cestas básicas e kits de prevenção. “A gente não consegue que a iniciativa privada enxergue o HIV como questão de saúde sexual e reprodutiva. No panorama geral, a responsabilidade social ligada ao HIV e para inglês vê.”

Jacqueline Côrtes lembrou que “o controle social só não é possível como necessário sempre. A covid-19 traz o retorno da conexão entre as ONGs/aids.”

Assim como Marta, Jacqueline também está preocupada com a sustentabilidade das ações da sociedade civil. “O setor privado ainda vê a responsabilidade social como isenção de impostos. Precisamos de responsabilidade social para desenvolvimento sustentável, isso vai além do meio ambiente. Nós, pessoas com HIV, negros, LGBTQIA+, mulheres, pessoas em situação de rua, somos parte de tudo isso.”

 

Apoio às populações vulneráveis

Jean mencionou alguns projetos de sucesso para promover dignidade e qualidade de vida para pessoas que vivem com HIV/aids, principalmente durante a pandemia de covid, como o Projeto Balaio, em parceria com o Barong. Para ele, a solidariedade marcou esse momento.

“O ativisto é um comprometimento. Quem é ativista ou quem trabalha com HIV/aids olha para o mundo de um jeito diferente. Existe um ativismo que construiu a nossa reposta e o ativismo online. Hoje percebo que existem muitas pautas que atravessam a pauta do HIV. Mesmo antes da covid, já tínhamos outras doenças para ficar atentos”, disse ao ressaltar que os serviços têm que estar preparados para dialogar com as diferentes necessidades de cada população.

Para Jacqueline, a dificuldade em prestar ajuda esbarrou em limitações financeiras das ONGs. “Muitas instituições deixaram de fazer acolhimento porque perderam recursos. E em um cenário como no governo atual, vamos nos recorrer a quem?. A sociedada civil brasileira se escravizou muito com os editais de governo com quantias mínimas. Hoje, a gente percebe o quanto a gente mendigava um tostão para fazer alguma coisa e agora esse tostãzinho deixou de exitir.”

A ativista conta que a principal preoupações no início da pandemia era garantir suporte às pessoas com HIV em um cenário onde não haveria consultas e toda a atenção da saúde estaria voltada para covid. Assim, surgiu a Voluntariado para as Américas, iniciativa voltada para gerar apoio à população com HIV/aids, especialmente mulheres em vulnerabilidade social.

 

Perspectivas para 2021

Para Marta, o fato de já existirem lições que foram aprendidas faz com que não haja mais tempo a perder para que a sociedade civil pense em uma resposta humanitária consistente para 2021. “Isso é ativismo, temos que começar a trabalhar agora para que o ano de 2022 também seja diferente. Urge a gente conversar para construir uma resposta para os próximos anos.”

A coordenadora do Barong também questionou o fato de que há 6 milhões de testes para covid presos no aeroporto de Guarulhos. “O Barong faz testes nas ruas, porque não estamos com estes testes na mão? Há várias outras instituições que fazem também este trabalho. Não faz sentido estes testes estarem parados aqui do lado”, disse ao falar sobre os corte de orçamento que aconteceram no início do ano, mas que, apesar das dificuldades, não foi impeditivo para a continuidade dos trabalhos da instituição.

Jacqueline concluiu que ainda é possível enxergar o futuro com otimisto. “Pela primeira vez na história deste país, 40 pessoas transexuais foram eleitas, quilombolas foram eleitos, aumentou a quantidade de mulheres prefeitas. Talvez a gente não consiga assistir a isso tudo, mas essa mudança já está acontecendo. Essas pessoas vão dar trabalho nas Câmaras de Vereadores. Esse novo olhar chacoalha. E nós vamos continuar nosso trabalho, unindo nossos esforços, confiando no poder público que a gente pode confiar, e pode levar um tempo, mas aqueles que não confiamos vão ficar para trás. Sou otimista! A vida vai seguir e vamos seguir com nosso trabalho.”

 

 

Confira a programação webinário:

14h30- Mobilização da Sociedade Civil e apoio às populações vulneráveis

Participação: Marta McBritton (Barong), Jacqueline Côrtes (Cidadãs Posithivas) e Jean Carlos Dantas (CRT – DST/Aids)

Mediação: Juny Kraiczyk (psicóloga)

16h30- Covid 19 e HIV: Impactos globais e nas gestões públicas

Participação: Ariadne Ribeiro (Unaids), Maria Clara Gianna (CRT/ Aids SP), Adele Benzaken (ex- Depto. Nacional de DST/aids)

Mediação: Fabi Mesquita (jornalista)

O webinário faz parte de uma série de ações que a Agência Aids vem realizando em homenagem ao Dia Mundial de Luta Contra Aids. O webinário tem o apoio da DKT do Brasil, da GSK/ViiV, da Gilead, da MSD, do Senac São Paulo e do Fundo Positivo.

Acompanhe as discussões ao vivo pela TV Agência Aids, Facebook e Youtube.

Redação da Agência de Notícias da Aids