Nesta segunda (27),  a coluna “Senta aqui, com Marina Vergueiro” recebe a jornalista Veronica Linder, que é jornalista, podcaster e empreendedora.

Veronica construiu sua carreira ajudando mulheres a se conectarem consigo mesmas através de informações, produtos e serviços que auxiliam no empoderamento sobre questões e atividades práticas relacionadas à maternidade, feminismo e amamentação.

Ela é mãe de gêmeas, que vão completar quatro anos de idade, e foi questionada por Marina o porquê de haver tanta violência contra mulheres que são mães, como o fato de que profissionais de saúde disseram que Veronica sequer poderia amamentar as filhas, justamente por serem duas ao mesmo tempo.

“A violência é bem estrutural. Além disso, a gestação é um processo psíquico e hormonal muito complexo. O mínimo que precisamos é de um núcleo de assistência, que envolva a família. No cenário em que estamos, restam às mulheres entrarem em um ciclo de falta à promoção da saúde e sobra a indústria lucrando com esse sofrimento”, disse Veronica.

“Quando um médico diz que uma mãe não vai conseguir amamentar, ou questiona como ela vai conseguir voltar a trabalhar se ela está amamentando, isso é lucro pra indústria do leite, dos apetrechos. Ela é violentada nas três fases desse processo, que é gestação, o parto e puerpério. É um combo e é por isso que é tão difícil falar disso, porque é uma parte da sexualidade feminina, onde é colocada toda pressão em cima da mulher. Quanto menos ela estiver informada, mais vulnerável ela vai estar. Me parece um grande esquema de lucro.”

Transmissão Vertical

Veronica conta que já foi procurada por algumas mulheres com dúvidas sobre transmissão vertical. “Temos poucos estudos que falam sobre isso e, enquanto a gente não conseguir fazer os estudos, nunca teremos uma resposta.”

Para Veronica, a questão da amamentação por mulheres com HIV vai muito além da discussão que gira apenas em torno do vírus. “Pra você fazer a fórmula, primeiro precisa da ajuda do SUS para ter acesso à fórmula, depois você precisa de água. E aí vem o questionamento, essa mulher tem água em casa? Essa água é tratada? Porque se a água não for tratada, a criança pode morrer de diarreia. Então quer dizer: existe a chance dessa criança pegar o vírus, lidar com ele a vida inteira, mas não morre. Ou alimentar com fórmula sem água tratada e não ter como combater uma outra doença em decorrência de uma água contaminada.”

Acolhimento

Marina questionou como pode ser realizado o acolhimento de uma mãe que vive com HIV e não pode amamentar seu filho. “Já recebi relatos de uma mãe angustiada porque estava com o peito cheio de leite, a criança buscando o seio de maneira inata, e a mãe precisar negar”, contou Marina.

“Isso é um problema de saúde pública, porque não temos como abraçar todas essas mães. Essa mãe deveria ser acompanhada desde o pré-natal, é uma demanda psicológica, ela precisa de acompanhamento. O corpo da mulher é muito potente na lógica de gerar e nutrir. Por isso que me espanta não existirem estudos sobre isso.”

“Um desmame também é um luto. Você ter um bebê nos braços e não poder seguir essa sequência biológica é um luto para o corpo. Então é importante também fazer esse corpo entender o luto e, para isso, é necessária uma grande habilidade psicológica.”

 

Redação da Agência Aids