A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) emitiu uma nota técnica em que recomenda a priorização de pessoas que vivem com o vírus HIV na vacinação contra a varíola dos macacos. No cenário em que o Brasil lidera os óbitos provocados pela doença no surto atual, os especialistas alertam que os dados têm mostrado um maior risco para hospitalização e óbito no grupo. De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, desta segunda-feira, foram registradas 11 mortes pelo vírus monkeypox, 9.475 contaminações e 4.665 suspeitas em análise no país.
“Não há, nesse momento, indicação de vacinação ampla contra essa doença, devendo ser priorizado grupos com maior risco para o adoecimento. Dados brasileiros mostram que no Brasil, casos graves de monkeypox tem acometido, principalmente, pacientes infectados pelo HIV sendo responsável pela imensa maioria dos óbitos. Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Infectologia sugere que, neste momento, a vacina seja priorizada para PVHA (pessoas vivendo com HIV/Aids), com contagem de linfócitos TCD4 menor que 350 células/mm3, seguidos por aqueles que, independentemente do resultado do CD4, não estejam em tratamento antirretroviral”, diz o documento.
A recomendação foi assinada pelo presidente da SBI, Alberto Chebabo, e pelos coordenadores do Comitê de HIV/Aids da sociedade, José Valdez Madruga e Tânia Vergara. A nota cita ainda um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) que aponta que quase metade dos infectados no país (40%) eram portadoras do HIV.
“Não sabemos ainda se o status de portador do HIV aumenta a probabilidade de ficar doente por monkeypox. Porém, já é sabido que PVHA e com imunocomprometimento grave correm maior risco de desenvolverem quadros graves, ou até mesmo morrerem, se forem infectadas”, escreveram os infectologistas.
A diretriz da SBI pede que a priorização seja de pessoas com HIV que tenham a contagem de linfócitos CD4+, um tipo de célula de defesa do sistema imunológico, menor que 350 células/mm3. Em seguida, aqueles que, independentemente da contagem, não estejam fazendo o tratamento com os antirretrovirais.
Isso porque, ainda de acordo com o relatório do CDC, 82% de 57 pacientes internados com a varíola símia analisados no país viviam com HIV, 72% com contagem inferior a 50 células/mm³. Além disso, apenas 9% recebiam a terapia com os medicamentos antirretrovirais.
“Com base nos dados analisados, o CDC reforçou as orientações de que os profissionais da saúde devem testar para o HIV todos os pacientes sexualmente ativos com suspeita de monkeypox no momento do atendimento (a menos que o paciente já conheça seu status sorológico) e devem considerar o início precoce e a duração mais prolongada da terapia específica para monkeypox (ainda não disponível no Brasil, exceto no cenário de pesquisa clínica) naqueles pacientes altamente imunocomprometidos, com suspeita ou diagnóstico laboratorial confirmado”, explicam os especialistas da SBI.
Eles lembram, por exemplo, que o primeiro óbito brasileiro pela doença, registrado em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi num paciente de 41 anos que vivia com HIV e tinha contagem dos linfócitos CD4+ de apenas 53 células/mm³, além de ter um quadro agravado de imunodepressão devido ao tratamento quimioterápico de um linfoma, câncer no sistema linfático. “Desde então, até o dia 04/Nov/2022, o Ministério da Saúde registrou onze mortes por monkeypox no Brasil, a maioria ocorrendo em PVHA e com imunossupressão significativa”, diz a nota.
Apesar do cenário de alerta em relação à população com HIV, no Brasil, até então, a estratégia do Ministério da Saúde envolve apenas a vacinação de profissionais da saúde que atuam no atendimento de pacientes com varíola dos macacos e de contatos próximos aos contaminados.
Há cerca de quatro semanas, a pasta recebeu o primeiro lote com 9,8 mil doses da proteção, parte de um acordo mediado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) que prevê 50 mil aplicações. O imunizante é o Jynneos, fabricado pela farmacêutica Bavarian Nordic, que também é utilizado por diversos países com campanhas de vacinação mais avançadas, como os Estados Unidos e o Reino Unido.
Redação da Agência Aids com informações