A coluna senta aqui com Marina Vergueiro recebeu nesta semana a ativista e jornalista Julianna Motter e idealizadora do coletivo lesbiano Velcro Choque. Julianna é doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas na Universidade Federal da Bahia, integrante do Grupo de Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura. Ela também pesquisa sobre lesbianidades, novas tecnologias de gênero e sexualidade, discurso de ódio, lesbofobia algorítmica e resistências.

As duas conversaram por quase uma hora pelo Instagram oficial da Agência Aids e falaram sobre violência dentro das comunidades LGBT+, plataformas digitais e sobre as tecnologias de gênero. A ativista Julianna entende a importância de lutar para o bem de todos independente da orientação sexual, “a questão da militância, vem de uma tradição que separa sexualidade de outras coisas,  separa a sexualidade de todas as questões da nossa vida”.

A jornalista acredita que discutir sobre esses assuntos faz a diferença na luta contra o estigma. “Eu acho que sempre fui impulsionada por esse ato, de tentar dar vazão às coisas”, enfatizou Julianna.

Lesbofobia algorítmica

A lesbofobia algorítmica é uma das pesquisas em que Julianna trabalha. Ela explicou na live que é, e porque o termo é pouco usado.

“Lesbofobia algorítmica é um termo que realmente não aparece muito, esse termo veio a partir da minha pesquisa de doutorado é a derivação de um pesquisador que eu admiro muito, Tarcísio Silva, que pesquisa racismo algoritmo, é de uma corrente de pesquisas que tem pensado nas discriminações a partir dos algoritmos. Então é um mapeamento de violências lesbofóbicas de modo geral, que se desdobram para outras identidades desse grupo LGBT.  A maneira que essas plataformas se apropriam e são estruturadas a partir de códigos, e que por isso dizem o que deve ou não aparecer nos resultados, formulando assim jogos de invisibilidade. Minha pesquisa se localiza em pensar como essas plataformas de modo geral ajudam a dar visibilidade ou não a temas como a lesbianidade”, contou a pesquisadora.

“Resumindo, lesbofobia algorítmica é a maneira como as plataformas aprenderam e aprendem a lidar com esses temas e como nós reagimos em torno disso”, completou Julianna.

Tecnologia de gênero

“A tecnologia de gênero é sobre as tecnologias, como roupas que vestimos, vocabulários, maneiras que a gente se comunica, ela percebe esses acréscimos nas nossas vidas enquanto tecnologia, que vão aperfeiçoando, desconstruindo e atenuando essa ideia de gênero e sexualidade”, explicou a filósofa.

Velcro Choque

Em um momento do bate papo Julianna falou sobre o coletivo Velcro Choque. “Partimos do pressuposto que a intervenção urbana é uma tecnologia artística, uma tecnologia de criação de memória, então acredito que sim, que ele seja uma tecnologia de intervenção” revelou Julianna.

A ativista relata sobre a criação e desenvolvimento da Velcro. “O projeto Velcro Choque existe desde 2016, era um período em que eu pesquisava sobre espaços de socialização de mulheres LGBT especificamente de mulheres lésbicas no Distrito Federal, então o Velcro nasceu para cobrir o ato de demarcar espaços, onde lésbicas estiveram aqui, socializaram aqui, evidenciar um pouco mais, entendendo que espaços públicos são espaços discursivos e temos que disputar esse discurso”, informou a idealizadora do projeto.

Julianna  disse que a pandemia de covid-19 foi desafiadora para a continuidade do projeto. “Em 2020 no contexto da pandemia, tivemos que nos apropriar dessas plataformas, no caso o instagram, para demarcar, muitas dessas intervenções, que acontecem no DF, mas também existe intervenções em São Paulo, em Salvador e no Rio de Janeiro”.

Para a jornalista, a Velcro vai além de uma página no instagram e de intervenções, “a Velcro veio muito com esse esforço de lembrar que a gente existe e que formulamos esses espaços mais voltado para as lesbianidades e também pensando em outras ideologias existentes”, informou Motter.

O fato de existir preconceito e discriminação dentro da comunidade LGBT é algo pouco discutido e muito delicado, “é uma questão que está muito em disputa, há uma dificuldade muito grande no movimento lésbico de acolher, inclusive quando você se posiciona contra a trasnfobia percebe-se que há um racha, para mim é importante que a gente comece a pensar como podemos acolher essas outras identidades. Infelizmente a gente tende mais a excluir do que acolher, essa questão é muito grave.”

Educação Sexual

Ao falar sobre educação sexual, Julianna disse que a “sexualidade faz parte da vida humana, e devemos falar sobre, nem sempre se baseando apenas na internet porque a internet é uma grande fonte de desinformação também, eu acredito que a melhor forma de enfrentar esse tema é discutindo sobre o assunto”, concluiu.

Assista a seguir o bate-papo na íntegra:

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)