ONGs aids, movimento social, pesquisadores, profissionais de saúde e instituições que trabalham com o tema estão convidados a participar do GT
19/04/2017 – 18h20
Na foto, da esquerda para direita: Carlos Henrique, Aline Ferreira, Ângela Tayra, Analice de Oliveira e Sandra Santos
Quais as necessidades, dificuldades e anseios de um jovem que nasceu com o vírus HIV? Quais os impactos do uso do tratamento antirretroviral a longo prazo nessa população? Como ela vive e quais são suas perspectivas de futuro? Foi pensando em questões como essas que a Rede de Jovens São Paulo Positivo, com o apoio institucional do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP (CRT-SP), convidou instituições, sociedade civil e governo que atuam com jovens soropositivos de transmissão vertical (TV –infectados pelo vírus durante a gestação, parto ou amamentação) a criar um grupo de trabalho (GT) a respeito dessa população.
A primeira reunião do GT aconteceu, na manhã desta quarta-feira (19), no CRT-SP. De acordo com Aline Ferreira, da Rede de Jovens SP+, esse não é um grupo de acolhimento, mas um meio de pensar e estruturar ações conjuntas com os jovens, sociedade civil e governo. “É importante sabermos onde estão os jovens de transmissão vertical, trazê-los para ocupar espaços e fazer parte desse GT”, explicou Aline.
De acordo com a epidemiologista Ângela Tayra, da Vigilância Epidemiológica do CRT-SP, cerca de 9.055 jovens, de 13 a 29 anos, vivendo com HIV no estado de São Paulo, desenvolveram a aids em algum momento da infecção. Destes, 39% são de transmissão vertical. No entanto, 1.827 notificações vieram por meio dos laboratórios da rede pública e não dos ambulatórios. “A notificação só é feita quando são casos de aids. Mas esse dado também mostra que há uma subnotificação dos casos nos serviços”, disse a epidemiologista.
Embora seja a primeira reunião oficial, o GT já começou a buscar estratégias para mapear junto aos serviços e instituições onde esses jovens estão. “Muitos jovens de TV passaram por casas de apoio ou adoções. Têm as vulnerabilidades sociais, falta de acesso à educação, dificuldade no mercado de trabalho e de falar a respeito da sorologia. A vivencia dessa população, muitas vezes, é silenciada. A ideia é construir juntos políticas afirmativas para essa população”, ressalta Aline.
Da Fundação Poder Jovem, a pedagoga Sandra Santos disse que o Hospital Emílio Ribas tem cerca de 625 jovens de TV, de 13 a 25 anos, cadastrados no serviço. “Por conta dos óbitos, não temos certeza desse número. Estamos levantando”, afirmou. A Fundação atende cerca de 45 jovens vivendo com HIV, em que cada um deles pode levar um amigo ou familiar para fazer as atividades da instituição.
Primeiro emprego
Por meio das ações da Poder Jovem, Sandra observa que a inserção no mercado de trabalho é um anseio desses jovens, mas, ao mesmo tempo uma dificuldade: “No momento da entrevista, eles não têm segurança. Sentem que as pessoas estão olhando e julgando. Já pensam no tratamento, se terão que faltar no trabalho para ir ao médico, se manterão o sigilo sobre a patologia. Na Fundação fizemos uma parceria com uma empresa que os ajudará por meio de uma consultora. Mas essa é a realidade deles.”
Marcelo é um dos jovens que frequentam a Fundação, o nome é fictício, pois ele pediu para não ser identificado na matéria. “Falta muito investimento para a gente. O governo tirou a gratuidade do trem e metrô das pessoas que vivem com HIV, antes esse direto nos permitia ir às consultas ou cursos. A nossa família também precisa de atenção, pois muitos não sabem lidar com a patologia. Falta acesso a atividades culturais e preparação profissional. No mercado de trabalho, as empresas não querem funcionários que faltem. E aí como fazemos em relação ao tratamento?”, questionou Marcelo.
A assistente social Analice de Oliveira, da Gerência de Prevenção do CRT-SP, lembrou que a população de jovens de transmissão vertical nasceu em um cenário caótico da epidemia: “Os profissionais de saúde e as famílias não sabiam se eles sobreviveriam a infecção. Não haviam expectativas. Por isso, não fizemos um planejamento para o futuro e estamos com esse prejuízo hoje. Existe uma lacuna que precisamos estudar, trabalhar e avançar.”
Estudos científicos
A ausência de pesquisa cientifica, sobre os efeitos dos antirretrovirais em jovens que fazem tratamento desde que nasceram, é uma busca da estudante de psicologia Aline Ferreira. “Esse é um vazio que eu e a Micaela Cyrino vemos na literatura. Entendemos que a aids é uma doença nova, mas já está na hora de fazer pesquisa nessa área. As vezes, a pessoa está bem em relação a sua sorologia, mas não está com a medicação. Quais motivos, de fato, dificultam a adesão ao tratamento?”, indagou Aline.
No final da reunião, diversos encaminhamentos foram pontuados para o próximo encontro. O convite continua aberto para todas as instituições. “A intenção com esse recorte populacional é ouvir, somar e trabalhar uma ação conjunta”, afirmou Analice.
Dica de entrevista
Rede de Jovens São Paulo Positivo
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Programa Estadual de DST e Aids – CRT-SP
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Daiane Bomfim (daiane@agenciaaids.com.br)