O ano de 2022 só começou e já estamos vivendo um momento complicado. Impulsionados pelas viagens e confraternizações de fim de ano, vemos índices crescentes tanto da gripe A H3N2 como de Covid-19.

O avanço da variante Ômicron já está sendo dominante pelos sequenciamentos realizados no país. Há casos, inclusive, de pacientes infectados pelos dois vírus ao mesmo tempo.

Do ponto de vista da saúde pública, é esperado que nas próximas semanas nós tenhamos uma sobrecarga de atendimentos, como já estamos observando em muitos serviços, tanto do SUS quanto privados.

É possível dizer que o número de casos seguirá aumentando exponencialmente. Acho inclusive que é seguro afirmar que os dados reais são superiores aos que vem sendo contabilizados, em razão das constantes quedas no sistema do Ministério da Saúde, da falta de quantidade apropriada de testes e da dinâmica de notificações de influenza no Brasil, somente reportada em casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Não houve até o momento, desde o início da pandemia de Covid-19, uma variante que tenha provocado um crescimento tão grande de contágios como a Ômicron vem fazendo. Milhares de novas infecções por dia, e muitas delas sem notificação adequada.

Considerando as experiências vividas por outros países que enfrentam esta nova variante, temos motivos para acreditar que é possível passar por essa fase sem os mesmos efeitos devastadores pelos quais já passamos anteriormente.

Até o presente momento, o sistema de saúde pública tem dado conta do aumento de casos e internações. E as vacinas estão mais uma vez mostrando sua importância. Apesar de a Ômicron infectar muitas pessoas, os efeitos vêm sendo consideravelmente mais leves que os de variantes predominantes anteriores.

É inadmissível que o Brasil tenha virado de 2021 para 2022 sem vacinar as suas crianças contra a Covid. O sucesso da Coronavac e da Pfizer é inquestionável. São centenas de milhões de vacinados no mundo inteiro. Os países que vacinaram crianças não registraram eventos adversos expressivos. É essencial que o nosso país aumente rapidamente a imunização de crianças para reduzir o impacto dessa variante e de outras futuras mutações do vírus.

O ideal seria não apenas a liberação imediata da vacinação para crianças, como o investimento em campanhas institucionais para que os pais levem seus filhos para vacinar o mais rapidamente possível. Ainda mais considerando o período de volta às aulas, que se aproxima. Aliás, o Estatuto da Criança a do Adolescente obriga a administração da vacina contra Covid em todas as nossas crianças.

Também sou contra o intervalo aumentado que há entre as doses da vacina. Não há razão científica para aguardar meses entre uma dose e outra. Deveria ser mantido o intervalo sugerido nas bulas do imunizante — até quatro semanas entre as duas doses.

Infelizmente boa parte da população não se vacinou contra o vírus da gripe no ano passado, o que também mostra relação com esse surto atual. Muitas pessoas focaram somente no combate contra o coronavírus e esqueceram que a influenza também deve ser enfrentada.

Os cuidados são basicamente os mesmos. Manter as medidas que muitos aprenderam a tornar rotineiras nos últimos tempos, como o uso de máscara, distanciamento e higienização das mãos. Servem tanto para Covid quanto para influenza.

Qualquer pessoa que tenha sintomas respiratórios precisa ficar em casa e, em algumas situações, é importante buscar os serviços de saúde para avaliação e testagem. O índice de contaminação é impressionante, por isso aglomerações (quando é impossível ter algum controle) devem ser evitadas.

Estamos vivendo um momento ímpar em que enfrentamos dois vírus extremamente infectantes de uma só vez. Por isso não há espaço para desatenção. É preciso ter cuidado e redobrar a vigilância. A situação não exige pânico, mas cautela e muita resiliência.

Fonte: O Globo