Em 22 anos de profissão, vivi e vivo muitos sonhos cuidando da vida das pessoas, e hoje me dei o direito de sonhar com um Brasil com uma saúde reestruturada a partir de 1º de janeiro de 2023.

A saúde é o bem-estar físico, mental e social, e promovê-la depende de cada um, do coletivo e das políticas públicas. O que assistimos nos últimos anos foi uma progressiva desvalorização da saúde do brasileiro, com redução do financiamento e com múltiplos defeitos de gestão, falhas de organização e, infelizmente, muita corrupção. Temos hoje um sistema desigual, ineficiente e muitas vezes injusto. No meu sonho para a saúde em 2023, elenco abaixo meus principais desejos e expectativas.

As universidades serão prioridade de investimento do governo e da sociedade em todos os níveis, com revisão de investimento, reformas estruturais e incentivos para o ensino, a pesquisa e a inovação, pois elas têm uma responsabilidade única de produzir conhecimento com benefício social, intelectual e econômico. O ensino e sua qualidade serão revisados de acordo com a evolução do conhecimento com o propósito de promover uma formação mais geral, humanista e crítica do médico e dos demais profissionais com capacidade para atuar nos diferentes níveis de atenção à saúde com responsabilidade social e compromisso. As universidades terão papel de protagonista das transformações do país, participando ativamente das discussões em ciência, tecnologia e inovação além de atuar diretamente na formulação de políticas de saúde em todas as esferas.

As ações de inclusão social no ensino na área da saúde ganharão maior visibilidade no Brasil, crescerão em número e em qualidade e veremos a superação de barreiras para a aprendizagem e para a permanência do aluno na escola. O ensino será modernizado, com investimento na formação dos professores, reformulação das diretrizes curriculares e a busca por maior qualidade das escolas médicas será um dos pilares de um sistema de análise continuada de performance.

O Sistema Único de Saúde (SUS) não é apenas um instrumento de acesso à saúde gratuito, mas sim uma das mais grandiosas políticas de inclusão social do mundo, patrimônio de todos os brasileiros. A revitalização e a modernização do SUS serão prioridade em 2023, com a definição de novas políticas e diretrizes de saúde, de acordo com o perfil de idade e de doenças mais prevalentes da população. Serão revistos, implementados e assegurados protocolos de prevenção de doenças crônicas, o recurso financeiro será investido de acordo com resultados e desfechos, o paciente terá um prontuário único ligado ao seu CPF evitando assim redundância e desperdício, a saúde digital estará nacionalizada, sendo monitorados por uma grande base de informação eletrônica as consultas, os exames, os atendimentos, os diagnósticos e a evolução do paciente. E cada instituição, pública ou privada, será analisada em tempo real, de acordo com metas. As unidades de emergência estarão conectadas com as unidades de terapia intensiva, com as enfermarias e com o centro cirúrgico para melhorar a eficiência do diagnóstico e do tratamento.

A hierarquização do sistema de saúde passará por uma revisão, estando as unidades municipais, estaduais e da federação, públicas e privadas, interligadas por bases regionais informatizadas com a alocação de recursos de acordo com a necessidade do paciente, a disponibilidade de leitos e as prioridades de atendimento de acordo com protocolos. Parcerias público-privadas, colaboração internacional em todos os níveis e união de ações nos ministérios da economia, educação, saúde, e ciência e tecnologia serão a base para essas transformações.

Por fim, o paciente chamado Brasil a partir de janeiro de 2023, terá sua saúde restabelecida, pautada na universalidade, integralidade e equidade.

Fonte: O Globo