O HIV avançado, também conhecido como aids, ainda mata centenas de milhares de pessoas no mundo porque os países ainda estão mal equipados para detectar e tratar pessoas que sofrem com estágios avançados da doença. Essa é a conclusão de um novo relatório divulgado neste domingo (1/11) pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Atrasos na resposta rápida às falhas e interrupções do tratamento estão comprometendo o progresso recente na redução das mortes por pelo vírus.

MSF pede aos países afetados e aos países doadores que implementem urgentemente as abordagens recomendadas para prevenir, detectar e tratar a Aids e o HIV avançado em nível comunitário.

O relatório “Não há tempo a perder” abrange 15 países da África e da Ásia e apresenta um painel de onde os países estão em termos de políticas, implementação e financiamento para lidar com o HIV avançado, que matou 770 mil pessoas em todo o mundo em 2018. Apesar da existência de diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2017 sobre o HIV avançado, os governos têm demorado a inclui-los nas diretrizes nacionais, enquanto a implementação e o financiamento significativos ficam ainda mais atrasados.

As diretrizes da OMS recomendam a implementação de testes rápidos e fáceis de usar para avaliar o status do sistema imunológico das pessoas (a contagem de células CD4) e para diagnosticar as infecções oportunistas mais comuns e mortais, como a tuberculose (teste de urina TB-LAM) e meningite criptocócica (teste CrAg). Esses testes podem fornecer resultados em questão de horas e, combinados com a proximidade dos pacientes, o tempo – às vezes dias – ganho pode fazer a diferença entre vida e morte para muitos.

No entanto, MSF descobriu que os testes rápidos quase nunca estão disponíveis no nível da comunidade, apesar do fato de que a detecção precoce pode salvar muitas vidas.

“Não há como o mundo atingir a meta de menos de 500 mil mortes por Aids em 2020 sem uma ação decisiva para lidar com a adesão nos cuidados, interrupções do tratamento e mortalidade resultante”, diz o dr. Gilles Van Cutsem, conselheiro sênior de HIV de MSF. “No passado, os pacientes muito doentes que vimos eram aqueles que não sabiam que tinham HIV. Hoje vemos mais e mais pessoas que foram tratadas antes, mas pararam de tomar seus remédios e ficaram gravemente doentes e pessoas cujo tratamento parou de funcionar.”

Mais de dois terços dos pacientes com HIV avançado admitidos no hospital apoiado por MSF em Nsanje (Malauí) já chegaram muito doentes e já haviam feito tratamento antirretroviral (ARV) antes. No hospital de Kinshasa (capital da República Democrática do Congo) de MSF, esse número é de 71%. Entre elas, mais de uma em cada quatro pessoas morre porque a doença estava muito avançada quando chegaram ao hospital. Essas mortes poderiam ter sido evitadas.

Desde que MSF disponibilizou os testes rápidos nos centros de saúde do distrito de Nsanje, o número de mortes no hospital diminuiu de cerca de 27% para menos de 15%.

Apenas oito dos 15 países pesquisados no relatório usam o TB-LAM rápido para testar pacientes com HIV avançado. Eles são usados em hospitais na África do Sul e espera-se que sejam disponibilizados no nível comunitário. O Malauí planeja encaminhá-los para 230 centros de saúde em 2020, e programas piloto para introduzir o teste estão sendo lançados no Lesoto e na Nigéria. Outro piloto foi concluído recentemente no Quênia antes de um possível lançamento nacional do teste.

Apenas um terço dos países recomenda usar o teste rápido para meningite criptocócica (que representa 15-20% de todas as mortes relacionadas ao HIV avançado) para pacientes com sistema imunológico muito fraco, incluindo Quênia, Moçambique, África do Sul, Sudão do Sul, Uganda e Zimbábue, mas a maioria desses países ainda não implementou essa recomendação no terreno.

Atualmente, os testes TB-LAM e CrAG no nível de atenção primária à saúde estão disponíveis apenas nos centros de saúde apoiados por MSF nos 15 países cobertos pelo relatório.

Os objetivos globais 90-90-90 do Unaids (90% das pessoas que vivem com a doença sabem seu status, 90% das pessoas que vivem com HIV recebem tratamento e 90% das pessoas em tratamento têm níveis indetectáveis do vírus no corpo) assumem uma sucessão de estágios de uma maneira linear, mas a realidade é que o modelo é circular para muitas pessoas que precisam voltar aos testes e iniciar as fases após terem passado por esses estágios no passado.

“Todos nós precisamos aceitar que o trabalho não termina quando as pessoas estão em tratamento e se saindo bem. Temos que estar presentes para as pessoas durante toda a jornada de tratamento, o que significa a vida inteira dessas pessoas”, diz Florence Anam, coordenadora de relações institucionais de MSF para HIV / TB e principal autora do relatório. “Nós não acabaremos com os danos do HIV cavando mais túmulos, mas fazendo todo o possível para manter as pessoas saudáveis, não importa onde elas morem e quais sejam as circunstâncias de sua vida. Eles devem ser apoiadas mental e clinicamente o mais próximo possível de onde vivem.”

Alguns países como Lesoto, Malauí, Quênia e Uganda começaram a fazer progressos iniciais na implementação avançada das diretrizes para o HIV, mas precisarão ser apoiados financeiramente. Os doadores devem priorizar abordagens para reduzir a mortalidade ligada à aids.