A cidade mais populosa do Brasil, com mais de 12 milhões de habitantes, está em festa. Nesta segunda, 25 de janeiro, São Paulo faz 467 anos. Conhecida como a cidade onde tudo acontece primeiro, com a aids não poderia ter sido diferente.  Em São Paulo, foi registrado o primeiro caso da doença do Brasil, em 1980.  Foi nesse município, também, que surgiu o primeiro programa governamental para combater a doença, em 1983, e  a primeira ONG/aids do país (e da América Latina),  o Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (GAPA), em 1984. A cidade foi certificada pelo Ministério da Saúde (MS), em 2019, como município que eliminou a transmissão vertical do HIV, ou seja, a transmissão de mães que vivem com o vírus para seus bebês. Outro destaque é para a distribuição de PrEP no SUS. Segundo dados da Coordenação Municipal de IST/Aids, 9.273 pessoas já iniciaram a profilaxia na cidade.

Para marcar esses 467 anos, a Agência de Notícias da Aids levantou dados que revelam o atual cenário da doença no município. Também conversamos com ativistas da luta contra aids para saber se essa metrópole, referência no acesso a prevenção combinada, pode ser considerada modelo.

O mais recente Boletim Epidemiológico da Cidade revelou que pelo terceiro ano seguido os novos casos de HIV caíram na cidade de São Paulo. Os números da secretaria apontam apenas o balanço de todo ano de 2019 e, portanto, não registra o comportamento da população durante a pandemia do novo coronavírus na cidade.

Em 2019, foram registrados 2.946 novos casos de HIV na cidade, 11,7% a menos do que no ano anterior, quando houve 3.340 novas notificações. O levantamento mostra também que, se a comparação for com 2017, a diminuição chega quase aos 25% (3.889 casos).

Desde 2009, a taxa de mortalidade (casos a cada 100 mil habitantes) vem caindo na cidade de São Paulo. No ano passado, o índice chegou a 4,8, o menor desde 1988. Se comparado com 10 anos atrás, há uma baixa de cerca de 50% na taxa de mortalidade, segundo a secretaria.

De acordo com a coordenadora da Coordenadoria de DST/Aids, Cristina Abbate, essa redução ocorreu graças às ações de prevenção, inclusive com a expansão da distribuição da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP).

“Hoje temos mais de 8 mil pessoas que já iniciaram a profilaxia. Diminuímos em mais de 80% o tempo entre o diagnóstico de HIV e o início do tratamento, com média atual de apenas 20 dias, e ainda a cidade foi certificada pela eliminação da transmissão vertical do HIV, que acontece da mãe para o bebê”, disse Cristina Abbate ao G1.

A cidade conta com uma Rede Municipal Especializada em IST/Aids, com 26 unidades distribuídas por todas as regiões da capital paulista. Desse total, nove são Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) em IST/ Aids e 17 são Serviços de Atenção Especializada (SAE) em IST/Aids. Os dois tipos de unidade oferecem acesso gratuito às diversas tecnologias de prevenção, como preservativos externos (masculinos) e internos (femininos), as Profilaxias Pré e Pós-Exposição (PrEP e PEP, respectivamente) ao HIV e o teste (rápido e convencional) para HIV, sífilis e hepatites B e C, bem como acolhimento, aconselhamento, orientação e encaminhamentos. O SAE se difere do CTA por realizar a vinculação, o tratamento, o acompanhamento multiprofissional     e a retenção das pessoas vivendo com HIV/aids.

Perfil dos infectados em SP

Dos novos casos de HIV, 89% das transmissões foram através de relações sexuais. A maioria dos novos infectados são homens. No caso específico do sexo masculino, 70,9% se declararam homossexuais ou bissexuais e 18,5% heterossexuais.

A cada quatro casos novos em SP, um é feminino. A faixa etária da metade dos casos está entre os jovens de 15 a 29 anos, sendo que o principal grupo é o de 25 a 29 anos.

A taxa de detecção por 100 mil habitantes caiu em todas as regiões da cidade. O maior índice ficou na Zona Sul, com 20,6 casos a cada 100 mil habitantes e o Centro, que teve a maior queda: de 94,6 em 2018 para 74,9 a cada 100 mil habitantes, em 2019.

Novos casos de aids

Com relação à aids, doença causada pelo HIV, 80% dos novos casos são de homens. Nesse grupo também são quatro registros masculino para um feminino. Neste caso, a secretaria de Saúde destaca que a diferença de novos casos entre homossexuais ou bissexuais com heterossexuais é pequena. Dos 1.623 novos casos da cidade, cerca de 50% foram em pessoas que se declaram homossexuais ou bissexuais e quase 40% em heterossexuais.

Entre 2018 e 2019, a cidade passou de 2.033 para 1.623 novos casos, queda de 20% de um ano para o outro, segundo os dados municipais. Entre 2015 e 2019, a queda foi ainda mais acentuada: 30%. A cidade passou de 2.421 novos casos anuais da Aids para 1.623. Segundo a secretaria, através desse levantamento dá para ver, também, que a população negra é a mais impactada pela Aids na cidade de São Paulo. A taxa de detecção é de 54,5 na população autodeclarada como negra e de 10,7 na população autodeclarada como branca.

Confira a seguir o que dizem os ativistas que atuam contra aids na cidade de São Paulo. O município conta com mais de 20 ONGs/aids, que trabalham incansavelmente no acolhimento e apoio de pessoas com HIV/Aids:

José Roberto Pereira,  do Projeto Bem-Me-Quer: “Sem dúvida nenhuma a cidade de São Paulo é um exemplo na resposta a luta contra a aids para ser seguido no Brasil e em outros países também. Sobretudo num momento em que uma onda de negacionismo e falta de compromisso ético, social e político assola Brasília. Em três anos, o município gigante, fez uma grande revolução na ampliação do acesso as profilaxias e ao preservativo. Hoje 95% das pvha em tratamento estão indetectáveis o que não e só bom pra ela e para sua saúde mas para conter o avanço do HIV, sabemos que uma pessoa indetectável também não transmite o vírus, diminuindo de forma importante a cadeia de transmissão. Outro avanco significativo, foi a oferta de prep. Hoje o municipio de São Paulo oferece prep em 43 unidades de saúde para mais de 9 mil pessoas, alem da pep que só em 2020 foram ofertados 15 mil tratamentos com essa tecnologia. Somado a isso foi ampliado a dispensação de camisinhas chegando a 270 milhões nos ultimos 3 anos. É inequívoco que com essas ações haveria diminuição importante de vírus circulante. Com todos esses esforços, que não são fáceis e envolve mais que orçamento, envolve principalmente vontade política é óbvio que há 3 anos seguidos tem diminuído o número de novos casos na capital paulista. Faz 2 anos já havia eliminado a transmissão vertical do HIV, um grande marco, e agora a redução de novos casos. No momento em que o mundo vive o horror da pior pandemia do último século, creio que as politicas de aids além de serem um exemplo de combate endêmico também são capazes de mostrar que é possível continuar desenvolvendo ações imprescindíveis mesmo em meio ao caos que vivemos. Esse sim é um grande presente de aniversário à São Paulo que celebra seus 467 anos, essa cidade que amo, defendo e que me acolheu faz mais de 30 anos. Temos muito a avançar ainda, a exemplo da aids e violação de direitos, aids e pobreza, aids e população prisional, aids e gênero, aids e trabalho, aids e população LGBT e principalmente aids e preconceito e discriminação, esse sim um vírus impiedoso pior que o HIV. Mas me resta com alegria dar os parabéns a todos os gestores, profissionais, técnicos, coordenadoria, programa, serviços, academia, ongs e ativistas que juntos conseguiram reverter o medo da aids dos últimos 30 anos em coragem para enfrentar seus desafios. Viva São Paulo, viva a luta contra aids, viva a vida!”

Alisson Barreto, do Grupo de Incentivo à Vida: “Eu acho que São Paulo é um exemplo sim no combate ao HIV/aids. Isso acontece porque como estamos falando da maior cidade do país, esperamos os maiores investimentos na área da saúde e o que acontece em São Paulo vira modelo a ser copiado pelo país. A cidade conta com uma rede de serviços especializada que ajuda tanto no tratamento como na prevenção, tanto na parte do programa estadual como da coordenadoria municipal. Existe a distribuição de preservativos em pontos estratégicos nada cidade, a distribuição da PrEP e PEP, o autoteste, tudo isso é muito bom para esses resultados. Outro ponto que é importante destacar, é que a sociedade civil organizada está presente nisso tudo, cobrando o poder público para a melhoria dos serviços e das políticas públicas e apoiando em ações de prevenção. Acredito que esse exemplo que São Paulo é fruto de um trabalho conjunto do poder público com as redes, dos movimentos e das ONGs de pessoas vivendo com HIV que existem no cidade.”

Maria Elisa da Silva, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Sou mulher vivendo com aids desde 1989 e já vi e vivi vários momentos dessa epidemia e a cidade de São Paulo e uma referência no combate à aids. Os Programas Estadual e Municipal de HIV/Aids atuam buscando atender as demandas apresentadas por seus usuários e graças à contribuição da Sociedade Civil alcançamos bons resultados. Mas temos muitos desafios a serem vencidos. Comunidades onde precisamos levar prevenção. Mulheres em situação de rua, usuárias de drogas, expostas ao HIV, às ISTs, hepatite e tuberculose.”

Américo Nunes Neto, Fundador do Instituto Vida Nova e Coordenador do Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids (Mopaids): “Cabe salientar que falamos de uma estrutura de governo dentro da pasta da saúde que somam três décadas de assistência às pessoas com HIV/aids e ações de promoção da prevenção às IST-HIV, isso por si só já torna a Coordenadoria de IST/Aids da Cidade de São Paulo um exemplo e referência nacional e internacional na luta contra a Aids. Os avanços obtidos nos últimos anos também são exemplos inquestionáveis e que resultam na melhoria da estrutura de assistência e prevenção. Muitos fatores a torna como exemplar, quero destacar alguns: Articulação com a sociedade civil organizada que juntos promovem ações integradas com impacto na assistência, redução de mortes e nos últimos anos a diminuição da casos de HIV; o desenvolvimento de pesquisas cientificas e publicações de boletins epidemiológico que possibilitam novas estratégias para ações internas e externas; monitoramento continuo da Rede Municipal de Especialidade e atuação com as Coordenadorias Regionais de Saúde, realização de eventos técnicos e políticos, capacitações em diagnostico, tratamento e prevenção. A certificação da eliminação da Transmissão Vertical é um marco para a cidade de São Paulo. A Coordenadoria de IST/Aids, tem ampliado a articulação com outras instâncias da sociedade civil e com a classe empresarial, isto é muito importante para ampliar ainda mais as estratégias de prevenção e assistência ao HIV/Aids e ISTs na cidade. Na área da comunicação em especial nas redes sociais têm possibilitado um alcance muito expressivo de pessoas que recebem informações seguras em formato de cards fazendo com que desperte o interesse para a leitura e interpretação das informações. A mudança de Programa Municipal de IST/Aids para Coordenadoria de IST/Aids é um ganho importante pois passar ter um status com maior “poder” no organograma da Secretaria Municipal de Saúde. E por fim, não menos importante a produção de aplicativos a exemplo do Tá na mão e a dispensação em grande escala de insumos de prevenção em terminais de ônibus, metrô e trem, faz com que São Paulo em seus 467 anos seja presentado com bons exemplos da Coordenadoria de IST/Aids.”

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

Dicas de entrevista

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