De janeiro a junho deste ano, o Brasil registrou 135 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+. Devido à subnotificação dos óbitos, os casos reduziram 20% em relação ao mesmo período de 2021, quando foram registrados 168 casos. O levantamento foi realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) e divulgado previamente para o dia Dia do Orgulho LGBTQIA+, celebrado nesta terça-feira (28).

O dossiê é um levantamento preliminar, baseado na coleta de notícias encontradas em jornais e portais eletrônicos, devido às lacunas de estatísticas oficiais sobre esses crimes.

Segundo a pesquisa, foram registrados 63 homicídios contra gays e 58 contra mulheres trans ou travestis. Vítimas bissexuais somam três óbitos, lésbicas contabilizam duas mortes e homens trans uma. Oito vítimas não tiveram a orientação sexual e gênero divulgados. Do total de casos, apenas 32% foram elucidados pela polícia.

Na análise do fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, que também é doutor em ciências humanas, os dados preliminares apontam que o Brasil deve manter a média de mortes registradas em 2021. Ao longo do ano passado, ao menos 300 pessoas perderam a vida para a violência LGBTfóbica no país, número que representou um aumento de 8% em relação a 2020. Foram registradas uma morte a cada 29 horas.

— São dados subnotificados porque nós não temos um departamento do estado que compute esses óbitos, como deveria ocorrer. Então ficamos reféns apenas do que é noticiado ou nos relatado. Infelizmente, a perspectiva é que continuemos com registro de uma morte a cada 29 horas, como no ano passado — explica Mott.

Em relação à cor das vítimas, 33,3% era pardas, 22,9% brancas, 9,6% pretas. Outras 34% não tinha identificação quanto à raça. Para o fundador do GGB, Luiz Mott, a raça das vítimas é um agravante social da violência, mas ainda é pouco especificada nas reportagens produzidas pela imprensa, fator que dificulta o levantamento de dados por cor.

— Nós reconhecemos que a imprensa melhorou significativamente no tratamento da população LGBT, mas as informações são muito incompletas para falar sobre a cor e a cena do crime. Outro fator é o não reconhecimento de crime LGBTfóbico, muito atrelado às investigações policiais que, na maioria das vezes, configuram o caso apenas como homicídio e não como homicídio por homofobia — relata Mott.

Nordeste lidera casos

O Nordeste aparece como a região mais violenta, registrando 52 assassinatos. O Sudeste surge logo em seguida, com 38 casos. Entre os estados, Minas Gerais lidera com 15 mortes, seguido por Bahia e Pernambuco, com 12 casos cada.

A maioria das mortes (45) não teve a causa identificada. Entre as que tiveram, 35 vítimas foram mortas a facadas e outras 33 por arma de fogo. Ao menos 18 morreram por asfixia ou estrangulamento e quatro foram assassinadas com pedradas. De acordo com o levantamento, cerca de 20% das vítimas agonizaram na rua e 32% morreram em suas casas ou apartamentos.

— A razão para o uso de armas brancas pode sinalizar sobretudo mortes em residências, sendo este tipo de utensílio facilmente encontrado pelo agressor na cozinha. Já as armas de fogo, que costumam atingir mais pessoas trans, estão relacionadas ao crime ocorrido nas ruas. O que justifica já que a maioria das trans são profissionais do sexo e muitas são vítimas enquanto trabalham — pontua Mott.

Fonte: O Globo