A Articulação Nacional de Luta contra a Aids (Anaids) publicou nota a respeito da declaração da artista religiosa Ana Paula Valadão a respeito da aids e da população LGBT. Confira a nota na íntegra:
A Anaids é um coletivo que reúne representações dos Fóruns e Articulações Estaduais de ONG/Aids, Redes e Movimentos de Pessoas Vivendo com HIV e Aids, democraticamente eleitos em fóruns locais e encontros regionais, que tem como missão reforçar a articulação e a participação da sociedade civil organizada na resposta ao HIV e representá-la em diferentes instâncias e eventos.
A Anaids vem a público manifestar seu repúdio ao posicionamento da apresentadora Ana Paula Valadão, no Programa Diante do Trono, veiculado pela Rede Super e que viralizou nas redes socais neste sábado, 12 de setembro do corrente ano.
Compreendemos que os meios de comunicação possuem um papel importante na desconstrução de práticas discriminatórias e violentas. Entretanto, a abordagem homofóbica/LGBTfóbica, sorofóbica, tecnicamente equivocada e permeada por preceitos morais dispensada ao tema, apenas potencializa estigmas culpabilizando os sujeitos pelo avanço da epidemia e, de forma subliminar, legitima a violência contra homossexuais.
Importante lembrarmos que o Brasil é o país com uma das maiores incidências de violência contra homossexuais, lésbicas, travestis e pessoas transexuais, no mundo. Além disto, a matéria apresenta inúmeras informações equivocadas sobre formas de transmissão e as dinâmicas da epidemia de Aids, facilmente refutadas com fatos:
• De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2019, 32% das infecções entre homens são de heterossexuais.
• A transmissão do HIV não está associada a expressão e/ou orientação sexual, mas a não adoção de práticas sexuais seguras e/ou estratégias preventivas.
• Relações estáveis, hetero ou homoafetivas, devem ser compreendidas de acordo com a complexidade e os acordos pactuados no relacionamento, não podendo ser apontadas como estratégia para a prevenção ao HIV e aids.
• A associação entre HIV e Aids a morte, não só é um total equívoco devido aos avanços e a efetividade do tratamento com antirretrovirais (ARV), como potencializa o preconceito e o estigma social relacionado às pessoas que vivem com HIV e aids.
• Homofobia é crime. Narrativas que amplificam discursos homofóbicos devem ser penalizadas.
Lembramos que a resposta brasileira à epidemia de Aids se projetou internacionalmente por contemplar inúmeras narrativas, conjugando o discurso biomédico, a garantia dos direitos das pessoas e populações atingidas pela epidemia e as questões relacionadas aos contextos de vulnerabilidades.
A Anaids reitera o seu compromisso com o enfrentamento da homofobia/LGBTQifobia, da sorofobia, do machismo, do racismo e das desigualdades sociais.
Não nos calaremos diante das violações e retrocessos ancorados no recrudescimento e avanço de manifestações fundamentalistas e conservadoras.
Dica de entrevista
Anaids
E-mail: articulacao.nacional@gmail.com