Segundo elas, a discriminação parte principalmente das suas próprias colegas de trabalho, mulheres brancas.

‘’Trabalhadoras sexuais e a luta diária contra o racismo’’ foi o tema do debate que aconteceu na última terça-feira (28), para compor a série de lives que ocorrem todas as terças-feiras pelo canal no Youtube da Agência Aids.

A conversa mediada por Fernanda Priscila, mulher negra, feminista, educadora popular e ativista pelos direitos das Trabalhadoras Sexuais, reuniu outras três vozes femininas, as profissionais do sexo Márcia Baya, feminista e representante da APROSBA e da ANPROSEX.B; Maia Moraes, ativista e representante da RBP; e Luza Maria, formada em Ciências Contábeis, atualmente coordenadora geral da APROS PB, integrante da CUTS e também profissional do sexo há 34 anos.

Ambas são mulheres negras, donas de suas próprias histórias, mas que por muitas vezes se cruzam, pois possuem em comum as marcas de uma luta atravessada desde sempre por muito racismo, elas compartilharam suas experiências no mundo da prostituição e denunciaram a discriminação racial presente neste meio até os dias de hoje, e que segundo elas, este preconceito parte de suas próprias colegas de trabalho que são mulheres brancas, sendo reflexo do racismo estrutural que está no seio da sociedade, que faz com que mulheres brancas que já são normalmente mais desejadas e procuradas pelos clientes, endossem a ideia errônea de que são superiores as mulheres negras. ‘’As colegas brancas julgam ser mais bonitas e ter o perfil mais desejado’’, diz Márcia que também comentou se incomodar com o fato de não ser chamada pelo nome pelas companheiras. ‘’Muitas nos conhecem e convivem com a gente já há muitos anos, mas insistem em nos chamar de ‘’nega’’ ‘’neguinha’’, ao invés de nos chamar pelo nome’’. Isto é prejudicial para quem já levou tanto tempo para se reconhecer enquanto mulher negra, afinal elas pontuam que o reconhecimento da negritude é um processo.

Elas também contam que a cor de suas peles as fez e faz experimentarem diversas situações de intolerância, desde tentativa de expulsão de determinados ambientes até apedrejamento, por exemplo. Mas relatam que sempre permaneceram orgulhosas de serem como são: Mulheres, pretas e prostitutas.

Hipersexualização do corpo da mulher preta

O seguinte questionamento foi levantando ao longo da discussão: Acreditam que o corpo da mulher negra é visto como um corpo que pode tudo?
Márcia concordou que cercado de muitos estereótipos, o corpo da mulher preta é constantemente violado e sexualizado, somado ao contexto da prostituição isso só se agrava.
‘’Eu já ouvi dizerem que queriam experimentar a mulher negra porque dizem que toda neguinha quente na cama’’, conta Márcia.

Maia também comentou ter ouvido frases como essas ao longo de sua vida, mas admite nunca ter contrariado as falas.

Já Luza opinou dizendo que não deveriam resumir as mulheres negras ao seu corpo e afirma: ‘’Somos pessoas e não apenas um corpo’’.
Fernanda relembrou que estes estereótipos se baseiam na ideia racista de que mulheres pretas são resistentes e aguentam qualquer situação por diariamente estarem submetidas a um lugar de preterimento e subalternidade na sociedade.

O futuro da luta por igualdade

Maia pontuou que ao passar dos anos não tivemos muitos progressos ‘’as pessoas se calam mais, mas os olhares ainda dizem muito’’.
Para Luza esse cenário só irá mudar quando passarmos a exercer o respeito e políticas públicas alcançarem de fato essas mulheres ‘’As mulheres negras são as que menos acessam essas políticas’’, afirma.
Mas acredita que estarem ocupando espaços para falar sobre negritude já é um grande avanço, pois ser uma mulher preta é um ato político.

Para assistir o bate bate-papo na íntegra basta acessar o canal do Youtube da Agência Aids.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

 

Dica de entrevista

Associação das prostitutas da Paraíba
apros_pb@yahoo.com.br

Associação das Prostitutas de Piauí
aprospi@hotmail.com

Associação das Prostitutas da Bahia
aprosba@hotmail.com

Central Única das Trabalhadoras Sexuais
@cutsbrasil

Articulação Nacional de Profissionais do Sexo
@anprosex