Em um momento  tão delicado, onde a ciência é atacada e desacreditada por fake news, a Live às Terças recebeu duas das mais importantes pesquisadoras brasileiras: dra. Valdiléa Veloso, diretora do INI/FIOCRUZ e líder do INI na resposta à pandemia da COVID-19; e dra. Beatriz Grinsztejn, investigadora principal da Unidade de Ensaio Clínicos do INI/Fiocruz e integrante do Conselho de Governança da International Aids Society (IAS), entre outras atribuições.

E o primeiro tópico da conversa foi exatamente esse: como elas receberam a fala do presidente Bolsonaro afirmando que pessoas que tomaram duas doses da vacina anti-covid estão desenvolvendo aids.

“Eu acho que tem sido muito difícil durante toda essa pandemia nós lidarmos com fake news, por vezes, com a intenção de confundir a população. Isso é uma infelicidade. O que me impressiona é como isso prospera, como isso continua. Hoje, a população tem dúvidas sobre quais são as fontes de informação confiáveis. Tem uma parte da população que só recebe coisas que vêm pelos grupos de Whatsapp, do Twitter, e falas como essa contribuem para desacreditar a vacina. Acho que mexer com uma doença como a aids, uma pandemia que existe no mundo e ainda não foi controlada, é muito triste ver isso. Temos que trabalhar para desfazer”, lamentou dra. Valdiléa.

Dra. Beatriz acredita que a única forma de desconstruir isso é gerando informação, trazendo a informação de uma forma fácil para a população. “Eu acho que a população brasileira acredita nas vacinas. Nós não temos uma reação significativa na nossa população. Nós temos um histórico no Programa Nacional de Imunizações, que era um modelo e que, com todos os problemas que nós tivemos, está conseguindo dar respostas. Nós estamos finalmente atingindo níveis de vacinação na nossa população que são sensacionais. Apesar de todos os percalços, porque nós trabalhamos, não só lidando com essa pandemia, para trazer melhora à saúde das pessoas acometidas, mas também lidando com uma epidemia de fake news, de percalços no caminho da ciência. Isso é o tempo todo. Então, nós nos sentimos de fato com uma carga muito grande, que se soma todo o trabalho a um ambiente complexo, onde se descontrói o conhecimento”.

A diretora da Agência Aids Roseli Tardelli quis saber se nós teríamos tido menos mortes por covid-19 se as vacinas tivessem chegado mais cedo no Brasil.

Dra. Valdiléa respondeu que certamente poderíamos ter evitado uma grande parte dessas mortes. “Não só com as vacinas, mas com as medidas não farmacológicas divulgadas e implementadas, estimuladas pelas lideranças. Não só a questão de mídias específicas, mas nós temos as igrejas também, por exemplo, que contribuem muito para a não adoção dessas medidas. A adoção das medidas não farmacológicas desde o início, com campanhas, com exemplos, com estímulos dos líderes de todas as áreas, nós teríamos evitado muitas dessas mortes. E com a chegada das vacinas, aceleraria realmente o controle dessa pandemia”.

“O que realmente é um fator a mais para que as pessoas fiquem extenuadas, é que o tempo todo a gente luta contra essas mensagens equivocadas. Então, o trabalho poderia ter sido muito mais fácil se a gente tivesse um apoio, falássemos uma única língua, porque de fato a gente está lutando contra a doença e contra a morte. Esses desvios no caminho, não só trouxeram essa carga de mortes, muitas evitáveis, como levam a um ambiente em que você nada o tempo todo contra a corrente”, complementou a dra. Beatriz.

A resposta da Fiocruz à pandemia da covid-19  veio rápida e dra. Valdiléa explicou que, como um instituto nacional de doenças infecciosas, eles acompanham o que acontece no mundo e os sinais de alerta surgem. “Nós estamos sempre atentos na nossa missão, na nossa visão de futuro. Resposta rápida às ameaças da saúde pública. Nós estamos sempre de prontidão e queremos ampliar ainda mais essa prontidão. Acho que a pandemia nos trouxe bem claramente a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, transdisciplinar e que inclui a vigilância, a preparação do ponto de vista tecnológico da assistência, então a necessidade de continuarmos trabalhando de forma conjunta, controlarmos a pandemia, porque ainda não acabou e estarmos melhor  preparados para a próxima, porque uma nova pandemia vem,” alertou a médica.

A conversa durou uma hora e ainda se discutiu porque a vacina contra a covid-19 veio tão rapidamente e a do HIV ainda não é possível, o desafio de fazer pesquisa de tratamentos com pacientes já hospitalizados  com coronavírus, a construção veloz de um hospital para esses atendimentos, e o manejamento das sequelas causadas pela covid-19. Assista abaixo na íntegra.

 

Ouça o podcast

Roseli Tardelli

 

Dica de Entrevista:

Ascom Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
(21) 2562-1500
jornalismo@ioc.fiocruz.br

Ascom Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI)
(21) 3865-9144
comunicacao@ini.fiocruz.br