Aos onze anos de idade, Evelin* começou a entender seu diagnóstico. Ela nasceu com HIV e agora a família, liderada pela tia, conduz um processo de orientação sobre o vírus e sua condição de saúde. Como resultado, ela entrou na fila de prioridade para vacinação contra a Covid-19. 

O início da pandemia foi de apreensão. Afinal, a tia responsável por Evelin* trabalha na área administrava de um hospital na cidade de São Paulo, cidade que chegou a ser centro da transmissão por Covid no país.

Com isso, a rotina em casa mudou completamente. Evelin passou a ter aulas online, o que tranquilizou a família devido ao receio de a jovem se infectar pela Covid-19, uma vez que o HIV aumentou o risco de seu corpo responder de forma negativa aos efeitos da nova doença. Por outro lado, Débora precisou se reinventar para garantir que conseguiria continuar trabalhando e, ao mesmo tempo, ajudar a sobrinha na continuidade dos estudos. 

“Eu ajudei ela a assistir as aulas, fazer lição. Não sei o quanto ela já estava consciente de sua condição, mas eu sempre soube que ela fazia parte do grupo de risco”, conta a tia. 

Vacina na hora certa

Diante desse cenário, o atraso da vacinação para crianças contra a Covid-19 no Brasil foi “um absurdo”, na opinião de Débora*. O Brasil ainda discutia a liberação do imunizante para crianças quando mais de 30 países já haviam vacinado a faixa etária dos 5 aos 11 anos. 

A angústia de Débora* encontra fundamento na ciência, “a maioria dos adolescentes, adultos e idosos já está vacinada. Então, em quem é que esse vírus vai atacar? Nas crianças justamente, que não haviam recebido ainda a sua vacina. É o grupo atualmente mais suscetível para a aquisição da Covid. Por isso que é muito importante a gente levar as crianças dessa faixa etária para vacinar, para protegê-las. Até porque as aulas já vão começar”, afirma a pediatra Ana Escobar, professora da Faculdade de Medicina da USP.

Apesar do atraso na vacinação, Débora se sente aliviada pela chegada no imunizante em meio à onda da variante ômicron no Brasil. 

As cenas de filas à espera de atendimento médico por suspeita de covid-19 voltaram a ser comuns. A busca por exames para a doença tem sido cada vez maior nos últimos dias e os resultados positivos aumentaram. Há também mais internações quando comparado aos últimos meses de 2021, conforme relatos de profissionais de saúde.

De 276 amostras analisadas pelo Instituto Butantan, 272, ou 98,5% do total, foram positivas para variante Ômicron e três (1,08%) para variante Delta.

“Acho que deveriam ter vacinado todo mundo logo de uma vez. Demoramos muito pra começar a vacina nessa faixa etária. Minha preocupação aumentou principalmente após a chegada de mais essa onde de Covid junto com a gripe”, diz Débora*.

Às famílias com HIV 

Segundo a tia Débora*, o processo de entender o que é viver com HIV ainda não está claro para a jovem. “No entanto, ela entende a importância de tomar seus remédios todos os dias e, principalmente, que tem direito ao sigilo, porque já sabe que existe muito preconceito”. 

“Para as famílias que convivem com crianças com HIV, saibam que não é um bicho de sete cabeças. São crianças normais, que precisam de atenção e cuidados. A única diferença que sinto é por estar sempre esta atenta ao tratamento correto. Crianças com HIV vivem normalmente, sem restrições.”

 

*Nomes preservados a pedido da família

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)