O Unaids, em parceria com a Through Positive Eyes (Através de olhos positivos, na tradução livre para o português), lançou a exposição virtual  Survivors (Sobreviventes) para celebrar a vida das pessoas que vivem com o HIV há muitos anos.

Por meio de uma série de fotografias e depoimentos pessoais, pessoas que vivem com HIV descrevem como é viver em um momento em que há soluções biomédicas para prevenção, diagnóstico e tratamento, mas que ainda hoje apresenta níveis devastadores de estigma e discriminação ligados ao HIV.

São 28 personagens, dois deles brasileiros, publicados na quinta-feira (6) na Agência Aids, que vai reproduzir aqui, em português, os perfis publicados originalmente em inglês no site da exposição (acesse aqui).

Hoje você vai conhecer as histórias de Wat e Phindile.

Wat – Bangcoc/Tailândia

Wat é um sobrevivente de HIV de longa data que vive em Bangcoc, Tailândia. Sua incrível força e força de vontade vieram de sua mãe e entes queridos. 

Fiquei muito doente e tive que ser internado. Não contei a ninguém além da minha mãe. Meu médico me disse que eu não viveria muito. Mas minha mãe se recusou a acreditar. Ela disse: “Tenho oito filhos e não vou deixar nenhum deles morrer antes de mim”. Eu confiava nela mais do que no médico. O que ela disse me fez perceber que eu queria viver.

Naquela época, perguntei à minha mãe se eu poderia homenageá-la lavando seus pés. Achei que seria minha última chance de fazer isso. Minha mãe me deu um tapinha na cabeça e disse: “Fique. Eu quero que você fique.” 

A partir daquele momento, eu sabia que viveria. Isso se tornou um ritual anual. No meu aniversário, lavo os pés dela para marcar o fato de que nós dois ainda estamos aqui.

Agora, o estigma social é o nosso maior problema. Na cultura tailandesa, o HIV está associado a mau carma. As pessoas consideram que é a doença de depravados sexuais e usuários de drogas que acumularam carma ruim no passado.

Quando estou em casa, sempre me exercito para ser forte. Medito para acalmar a mente, deixando-a vazia.

Não podemos controlar a vida. Temos que libertá-la. Se eu não me amo, quem vai me amar? Se eu ficar doente, quem cuidará dos outros?

Hoje em dia, ajudo outros que vivem com HIV a ter acesso a medicamentos e forneço apoio. Eu falo por aqueles que estão em desvantagem.

Tenho hipertensão e colesterol alto por causa da idade, mas minha vida é boa. Meus medicamentos têm algum efeito sobre minha saúde, mas não afetam negativamente minha vida. Eu posso viver com minha família e amigos na sociedade, normalmente.

A mensagem de Wat para os líderes mundiais.

Pessoas vivendo com HIV são rejeitadas pelos empregadores por causa do estigma associado a ser HIV-positivo.

Narrativas falsas dizem que a doença vai se espalhar entre os funcionários, ou deixar os clientes desconfortáveis. Devido ao estigma do HIV, não posso ter seguro de vida. Os líderes mundiais precisam acabar com essas desigualdades e mudar a mentalidade e as atitudes das pessoas em relação ao HIV.

 

Phindile – Joanesburgo/África do Sul

Phindile é uma sobrevivente de HIV de longa data de Joanesburgo. Depois de manter seu status em segredo por anos, ela finalmente compartilhou sua história com seus entes queridos. 

Aviso de gatilho: agressão/violência sexual.

Minha mãe chorou quando eu disse a ela que era HIV positivo. Eu disse a ela: “Quer saber, mãe, você não precisa chorar. Estou convivendo com essa doença há quatro anos e, olhe para mim, estou saudável”.

Eu disse: “Eu estava com medo que você fosse me expulsar de sua casa. Eu queria te contar, mas não sabia como.” Então minha mãe me abraçou e disse: “Eu te amo. Você ainda é minha filha.”

Fui estuprada quando tinha 16 anos, por alguém que eu conhecia. Eu mantive esse segredo por 20 anos. Depois do estupro e do HIV, eu queria começar uma nova vida, fazer algo desafiador. Eu queria me curar.

Pensei: “quero subir o monte Kilimanjaro”. Isso foi dezembro. Em janeiro, recebi uma chamada dizendo que a igreja tinha arrecadado muito dinheiro para eu realizar meu sonho.

Quando cheguei ao topo, oh, chorei — lágrimas de alegria. Estou aqui, na Tanzânia, e cheguei ao pico.

E estou curada. Após minha jornada para a Tanzânia, encontrei perdão e paz em meu coração, e minha história foi compartilhada em jornais e outros lugares.

Hoje, eu ainda estou vivo e com saúde. Tenho vivido com HIV nos últimos 24 anos — 10 anos de tratamento antirretroviral. Ainda estou vivendo uma vida positiva, sem nada para reclamar.

Sou saudável. Estou trabalhando para uma das maiores organizações da África do Sul como consultora de HIV. Sou uma oficial de articulação que trabalha com a comunidade e estou feliz por estar trabalhando na área de HIV/aids, pela qual sou apaixonada.

A mensagem de Phindile aos líderes mundiais.

Mesmo depois de tantas décadas, há pessoas que ainda testam positivo, e mesmo que tenhamos PrEP, PEP e ARVS, que acredito fazerem maravilhas, não tenho certeza de onde estão as falhas.

Então, ainda estamos tendo pessoas que testam positivo. Vamos tornar esses medicamentos acessíveis a todos.

 

Fonte: Unaids