Documento suprapartidário reúne quase 30 autoridades, de ex-ministros a ex-presidentes dos conselhos municipais e estaduais de Saúde que alertam que para “defender o SUS e a própria vida” é preciso mudar a condução desse país, impedindo reeleição de Bolsonaro.

Um grupo de ex-ministros da Saúde e ex-presidentes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, ontem (18), manifesto em defesa da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República. O documento justifica o apoio como uma defesa da democracia e do Sistema Único de Saúde (SUS).

Assinam também ex-presidentes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems). Ao todo, são quase 30 autoridades de saúde, que atuaram em diferentes governos, em um movimento suprapartidário. Entre os signatários de peso estão Humberto Costa, Arthur Chioro, Alexandre Padilha e Marcelo Castro. Assim como Armando Raggio, Gonzalo Vecina e Marcus Pestana.

A avaliação é que, neste segundo turno, que será decidido no próximo dia 30, a saúde pública “vive a sua mais grave ameaça”. O documento abre defendendo o SUS e destacando que ele é uma das “pedras angulares da nossa democracia”. Além de ser um dos “principais vetores de combate à desigualdade social”.

Irresponsabilidade na pandemia

Em entrevista a Marilu Cabañas, na edição desta quarta (19) do Jornal Brasil Atual, o médico sanitarista Arthur Chioro, formado há 36 anos e ex-ministro da Saúde, explicou que foi a “irresponsabilidade sem limites” de Bolsonaro, na maneira como lidou com a pandemia de covid-19, que levou as autoridades, que inclusive apoiaram outros candidatos no primeiro turno, à produção do manifesto.

O professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) destacou que a chapa Lula e Geraldo Alckmin representa “essa única possibilidade” de fortalecer o SUS. “E, ao mesmo tempo, implementar novas medidas, corrigir os rumos e chamar a responsabilidade. Ou seja, reconstruir aquilo que é fundamental para a saúde do povo brasileiro”, comentou.

Atualmente, mais de 173 milhões de brasileiros dependem exclusivamente do SUS. E mesmo os cidadãos com planos de saúde estão sendo afetados pela falta de gestão bolsonarista. As autoridades acrescentam que para “defender a saúde pública e a própria vida é preciso mudar a condução desse país”, como frisa Chioro.

Atestado de morte

O manifesto também ressalta que, ao longo do governo Bolsonaro, a gestão técnica e científica foi substituída por um “comando militar submisso aos interesses do centrão”. O que “prejudicou muito toda a administração do SUS”, afirmam no documento. O ex-ministro da pasta acrescenta que, sob o atual governo federal, ficou apenas o discurso ideológico. “Para poder operar esse retrocesso houve toda uma estrutura de desmonte da máquina”, expõe.

“Por exemplo, o Instituto Butantan, secular. Ele foi estruturado pelo governo do estado de São Paulo, mas sempre funcionou com recursos federais que é o grande demandador, quem compra para o Brasil inteiro. Quando explode a pandemia, ao invés de Bolsonaro sentar com o governador, na época João Doria, e buscar o bem comum, ele coloca em primeiro plano os interesses eleitorais. Aliás, ele (Bolsonaro) só pensa nisso o tempo todo, é 24 horas, há quatro anos, fazendo isso. Ele coloca o interesse dele, mesquinho, eleitoral acima da vida das pessoas”, lamenta.

“Portanto, entre essas 687 mil vítimas fatais da covid, no há nenhuma dúvida em apontar que parte significativa da assinatura no atestado de óbito, além de covid-19, tem que aparecer Jair Messias Bolsonaro como causa da morte”, completa Chioro.

No manifesto, as autoridades de saúde proclamam a população brasileira a refletir que “o SUS não terá como sobreviver” com mais quatro anos de Bolsonaro por conta das ameaças de sub-financiamento e pelo desmonte. “Eles não acreditam na ciência e na vida. E, portanto, um sistema que tem como princípios cuidar de todo mundo, a partir do fundamentos da ciência, não tem espaço e é passado para o mercado. E claro que, no mercado, os pobres ficam de fora”, adverte Arthur Chioro.

A íntegra do Manifesto pela democracia e em defesa do SUS pode ser lido aqui.

Redação da Agência Aids com informações da Rede Brasil Atual