Nesta terça-feira (29), em um evento especial durante a Reunião Ministerial Conjunta de Finanças e Saúde do G20, o governo brasileiro, junto a especialistas do Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias, destacou a urgência de enfrentar as desigualdades que agravam pandemias. Os especialistas pediram que o G20 reconheça, pela primeira vez, a desigualdade como um fator crítico na propagação de doenças, propondo medidas decisivas para interromper o ciclo “desigualdade-pandemia”.

As evidências apresentadas durante o evento demonstram que as desigualdades, tanto dentro como entre países, têm um papel fundamental nas crises de saúde, evidenciadas por surtos de aids, covid-19, mpox e ebola. O não enfrentamento dessas desigualdades deixa comunidades vulneráveis e expostas a futuras emergências sanitárias. O G20, como um ator chave no financiamento internacional, tem a oportunidade de focar nos determinantes sociais que impulsionam as pandemias.

Produção regional de medicamentos

Um dos principais desafios apontados é a dependência de países do Sul Global da produção de medicamentos no Norte Global, resultando em atrasos no acesso a vacinas e tratamentos essenciais. Nísia Trindade, ministra da Saúde do Brasil e membro do Conselho, enfatizou a necessidade de desenvolver capacidade de produção em todas as regiões para garantir um acesso equitativo a medicamentos. “Ao aprender com os erros do passado, podemos assegurar que produtos de saúde sejam fabricados globalmente, respondendo rapidamente a surtos futuros”, declarou.

Joseph E. Stiglitz, economista ganhador do Nobel e copresidente do Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias, ressaltou que reformas em diversos níveis são essenciais. “É vital que haja investimentos que ampliem a produção de produtos médicos e reduzam os preços, ajudando a acelerar o acesso a medicamentos para os mais necessitados”, afirmou.

Sir Michael Marmot, professor de epidemiologia e Diretor do Instituto de Equidade em Saúde da University College London, Copresidente do Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias, complementou que a desigualdade social é um determinante crucial nas pandemias. “Quanto maior a desigualdade, pior a pandemia. Podemos intervir com educação e medidas de proteção social, tornando as sociedades menos vulneráveis”, ressaltou.

Monica Geingos, ex-primeira-dama da Namíbia e copresidente do Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias, destacou a complexidade das desigualdades que exacerbam crises de saúde. “Para efetivamente acabar com a pandemia de aids e nos prepararmos para futuras crises de saúde, precisamos enfrentar a complexa rede de desigualdades que exacerbam esses desafios. A desigualdade abrange mais do que apenas disparidades de renda; ela inclui desigualdades sociais, políticas e de saúde que se cruzam de maneiras significativas. O cenário geopolítico complica ainda mais essas dinâmicas, pois as nações caracterizadas por desigualdade pronunciada são desproporcionalmente impactadas pelas respostas às pandemias. Essa desigualdade sistêmica é frequentemente reforçada por estruturas internacionais que perpetuam e aprofundam as disparidades existentes, ressaltando a necessidade urgente de abordagens abrangentes e equitativas para a saúde e a governança”, afirmou.

Oportunidade transformadora

Os especialistas concordam que as propostas de abordar a desigualdade e aumentar a produção regional de produtos de saúde representam uma oportunidade única para os líderes do G20. Winnie Byanyima, diretora executiva do Unaids, alertou que as desigualdades precisam ser tratadas com urgência, e a expansão da produção de medicamentos é essencial para prevenir futuras pandemias. “O Presidente Lula colocou a igualdade no centro da agenda do G20 do Brasil. Ele está certo. As desigualdades precisam ser abordadas urgentemente, e a produção de medicamentos e vacinas expandida em todo o mundo, ou a próxima pandemia nos atingirá ainda mais duramente. Os líderes do G20 aqui no Rio têm a oportunidade de transformar a maneira como o mundo responde a surtos e pandemias, enfrentando as desigualdades que os impulsionam. Estamos contando com os líderes do G20 para aproveitar este momento para salvar vidas e proteger a saúde de todos.”

Próximos Passos

O Brasil propôs a criação de uma Coalizão Global para Produção Regional e Acesso Equitativo, reunindo diversos atores para a pesquisa e desenvolvimento de vacinas e medicamentos, com foco nas populações vulneráveis. O evento destaca a importância da colaboração internacional para enfrentar as desigualdades que impactam a saúde global.

Com essas medidas, o G20 tem a chance de transformar sua abordagem frente às pandemias, garantindo que todos tenham acesso a cuidados de saúde, independentemente de sua origem.

Redação da Agência de Notícias da Aids com informações do Unaids