O segundo dia do Encontro Nacional de ONG/Aids (Enong), em Fortaleza, começou a todo vapor. Debatendo sobre o tema “Reafirmando luta se resistindo aos desafios”,  o pesquisador da Faculdade de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, Alexandre Granjeiro, trouxe para o evento nesta quinta-feira (28) reflexões sobre o impacto da Covid-19 para a prevenção e cuidado do HIV. Segundo ele, haverá “uma convivência paralela entre o coronavírus e o HIV, mas do ponto de vista das representações sociais a aids pode não ter mais a mesma relevância, podendo ser considerada pelo senso comum como “ epidemia do século passado”.

Ao propor um pensamento pós-Covid, Granjeiro analisa que “estamos iniciando agora uma nova onda de infecção, maior que as anteriores”, principalmente entre as novas gerações que, segundo ele, “sabem do HIV tanto quanto seus pais”, ou seja, estão ligados na camisinha, mas desconhecem as novas tecnologias.

O pesquisador lembrou ainda a necessidade de se ver com atenção as populações negligenciadas, sobretudo usuários de drogas, trabalhadores sexuais e pessoas trans. Destacou subgrupos de populações heterossexuais, responsáveis por 30% dos casos de HIV no Brasil, e cuja falta de estratégias ainda é alarmante.

Para ele, a estruturação de uma “nova prevenção” é urgente levando em consideração os graus de proteção e o impacto de cada método (preservativo, PEP e PrEP), além de outras estratégias recomendadas pela OMS como anéis vaginais, PrEP injetável e outras trazem o benefício da diversidade, redução de eventos adversos, facilidade do uso e aumento de proteção. No entanto, a diferenciação de acesso ainda é um dado preocupante, ele aponta que: “pesquisas mostram que um homem gay tem 25 mais chances de usa PrEP, do que mulheres trans e 10 vezes mais que mulheres cis.  Os brancos têm duas vezes mais chances de ter acesso a PrEP do que negros.”

“Onde se consegue distribuir PrEP em escala populacional os casos de infecções caem”, destacou se amparando em pesquisas sobre o tema. Para isto observou que dois pontos são fundamentais: a ampliação de uma política de Direitos Humanos, principalmente em ano eleitoral e a participação comunitária e do ativismo em todas as etapas da implantação destas políticas. Clique aqui e confira a apresentação de Grajeiro na íntegra.

Eleitos no encontro anterior prestam contas da atuação

Ainda na manhã desta quinta-feira (28) aconteceu a tradicional mesa de todos os Enongs, com o relato de representantes do movimento social em diferentes espaços no período 2019/2021.

O coordenador da discussão, o ativista Jair Brandão, da Gestos, destacou a necessidade de que “construções devem ser feitas neste espaço, independente de diferenças e estranhamentos” e abriu as falas

Moysés Toniolo, que representou a Anaids no Conselho Nacional de Saúde durante seis anos, apresentou as atuações neste período, destacando a articulação entre as demais representações (RNP+, MNCP e outras). Para ele, a parceria entre outros segmento foi importante para alguns avanços, entre eles as recomendações de inclusão das PVHA na lista de comorbidades elencadas para vacinação do reforço da Covid-19.­­­

A ativista Margarete Preto (Projeto Bem Me Quer/SP), que não pode comparecer no Enong, enviou relato de sua atuação, junto ao GT Unaids, lido por Lia Mussi, de Campinas. Ela destacou o trabalho no processo de levantamento do Índice de Estigma e Discriminação com as Pessoas que Vivem com HIV/Aids e a participação em debates na Comissão de Seguridade e Família da Câmara Federal.

A última devolutiva foi do ativista Vando Oliveira, pela Articulação Nacional de Aids (Anaids), que fez diversos questionamentos sobre o comprometimento dos ativistas eleitos junto a representação. “Qual Anaids queremos? Para onde queremos ir?”, perguntou Vando chamando a responsabilidade com o coletivo e pregando o despertar de uma nova forma de encarar as funções eleitas.

Liandro Lindner, especial para Agência Aids

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