A falta de divulgação e campanhas direcionadas sobre a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição do HIV) no Brasil foi tema central das discussões na tarde dessa quinta-feira (28), na 21ª edição do Encontro Nacional de ONG/Aids (Enong 2022), em Fortaleza.  Ativistas da luta contra aids disseram que desconhecem as ações do governo na divulgação desta profilaxia, que consiste no uso diário de medicamentos antirretrovirais (ARV) por pessoas soronegativas antes de uma exposição de risco ao HIV.

A ativista Ana Leila Gonçalves, do Rio de Janeiro, foi uma das que afirmou desconhecer este material. “Trabalhamos com periferias e favelas e precisamos levar este tema a população. Vamos atrás deste material.” Para a militante Anágila Costa, do Acre, “as tecnologias de prevenção, como Pep e PrEP, ainda são uma realidade distante na região Norte.”

Já Amauri Ferreira Lopes, do Fórum de Ong/Aids do Paraná, fez uma análise mais profunda. Para ele, “o sucateamento dos serviços de saúde, agravado na pandemia do coronavírus tem resultado em acúmulo de trabalho. O ativista entende que este fator pode ter atrasado o repasse deste material, e é um “reflexo da fragilidade profissional no SUS, onde muitos profissionais se recorrem a sociedade civil para reverter esta situação.”

Segundo informou Gil Casimiro, coordenador de Prevenção e Articulação Social no Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), do Ministério da Saúde, existe sim a efetivação de ações de comunicação voltadas para divulgação da PrEP. “Em parceria com o Unaids, distribuímos materiais às coordenações de todos os estados. No entanto, a limitação de recursos impediu que os materiais fossem também enviados as organizações da sociedade civil. Ao todo, foram produzidos 82 mil cartazes com informações voltadas para públicos específicos (HSH, Trabalhadores Sexuais e Pessoas Trans), além de 35 mil adesivos com bandeira LGBTQIA+ e 35 mil bandeiras trans”, afirmou .

Os participantes do Enong alegaram que desconhecem a chegada do material em suas bases e foram estimulados por Casimiro e procurar informações junto as gestões locais, a fim de acessar este material e divulgar mais amplamente as ações.

O painel teve uma temática bem ampla reunindo temas como prevenção, assistência e garantia de direitos, o que se refletiu no número de painelistas e, por consequência, na duração inicialmente planejada.

Distribuição de camisinhas

Em relação a distribuição de preservativos no Brasil, que teve aumento 37% em dois anos, Gil Casimiro reconheceu que existe “uma diferença importante entre distribuição e acesso de insumos de prevenção, principalmente num país de dimensões continentais como o nosso.” Dentre os diversos pontos trazidos houve uma ênfase na busca da efetivação do Acordo de Cooperação Técnica entre Ministério da Saúde e o Ministério da Cidadania, assinado em julho de 2021, e que visa a inclusão social de pessoas em vulnerabilidade social com HIV e outras patologias. “Precisa chegar nas bases, com ação conjunta nos estados e municípios, não adianta assinar intenções se não chegar nas bases”, afirmou o técnico.

O conceito de “doença avançada” apresentado pelo médico Thiago Morelli, do DCCI, foi questionado pela ativista Carla Almeida do Rio Grande do Sul. Segundo ela, esta perspectiva biomédica tende a invisibilizar mais a aids e “desconsidera as questões sociais envolvendo um diagnóstico tardio”. O profissional respondeu que este conceito clínico envolve questões diversas, além da aids, como diagnóstico tardio e outros aspectos.

A segunda parte da mesa contou com a participação de redes, trazendo experiências, vivências e relatos de quem vive com HIV/Aids. Cleonice Araújo, da Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo e convivendo com HIV/Aids (RNTTHP), Guto Menna da RNP+, Heliana Moura do Movimento Nacional de Cidadãs Positivas e João Cavalcante da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids foram os expositores.

 

Liandro Lindner, especial para Agência Aids

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