No Brasil, o Movimento LGBTI+ foi fundado por volta de 40 anos atrás. Durante o regime de exceção imposto pela ditadura militar, quando a censura, o autoritarismo, o silêncio a liberdade de expressão, a proibição de manifestações, assassinatos e desaparecimento de pessoas faziam parte do cotidiano do país. Pessoas visionárias LGBTI+ deram início a organização política do movimento LGBTI+, tendo como principal reivindicação o direito de existir e de serem respeitados, ouvidos. Nos anos que se sucederam, no decorrer das décadas, as reivindicações e questões relacionadas a comunidade foram sendo organizadas, ampliadas e tornaram-se públicas.

As trajetórias de Cláudio Nascimento e Márcio Caetano se cruzaram há pelo menos três décadas. Ambos iniciaram suas militâncias no Rio de Janeiro, no Movimento Estudantil em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.

“Quando ousamos existir – Uma história do Movimento LGBTI+ do Brasil”, filme concebido pelos dois amigos, foi criado justamente para registrar a construção desta trajetória. Um a um, os depoimentos retratam a importante história de cada um dos ativistas entrevistados e sua contribuição para a solidificação e estruturação do movimento em diferentes estados e regiões do Brasil.

Os protocolos de segurança, devido a Covid-19, foram seguidos com detalhes e cuidados. Desta forma, em São Paulo, o teatro Alfredo Mesquita, na zona Norte da cidade, foi o cenário escolhido para a pré-estreia de “Quando ousamos existir – Uma história do Movimento LGBTI+ do Brasil”. O evento reuniu, na última quinta-feira (17), as principais lideranças ligadas a diversidade no Brasil.

A abertura da pré-estreia contou com a apresentação artística da transformista Salete Campari que interpretou a música Mudanças, de Vanusa, sendo muito aplaudida pela plateia. Ela e a drag Tchaka ficaram emocionadas em reviver histórias da luta LGBTQIA+. “Todos os dias peço para a gente existir”, afirmou Salete. “Fazer parte da história é bom demais, é entender a caminhada das pessoas que tiveram coragem de apenas existir”, acrescentou Tchaka.

Lideranças presentes

O teatro também foi palco de algumas falas de lideranças LGBTI+. Primeira a falar, Patrícia Esteves, vice-presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ comentou que “este documentário é importante porque traz à tona todos os que nos antecederam e nos permitiram ocupar este espaço. Ele mostra um pouco do que foi construído. ”

Já o diretor sociocultural da entidade, Júlio Moreira, ressaltou que a relevância do registro está também no fato do filme “resgatar a memória de guerrilha individual diante da ditadura que vivíamos. ”

Júlio e Patrícia estavam acompanhados na pré-estreia de ativistas históricos da primeira geração do Movimento LGBTI+ do Brasil, como Edward Mac Rae, Marisa Fernandes, Ulisses Ferraz de Oliveira, Claudia Regina e Jorge Beloqui, todos eles participaram dos primeiros anos do Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, criado em 1978.

Home - Aliança Nacional LGBTIA diretora administrativa da Aliança Nacional LGBTI+, Rafaely Wiest,  disse que a instituição é parceira de iniciativas como essa. “Sempre apoiamos e vamos apoiar projetos assim. Quero registrar meu respeito aos diretores. Se hoje existem trans aqui, neste espaço, é porque antes de nós muitas tombaram, sofreram e sofrem até hoje. Meu respeito a todas que vieram antes de mim.”

Toni Reis puxou o coro: Fora Bolsonaro! Foi seguido por todos os presentes!

O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, antes de saudar a todos e prestar sua homenagem a realização do documentário, puxou e foi protagonista de um sonoro “Fora Bolsonaro”, no que foi seguido por todos os presentes. “Viemos trazer nossos parabéns a todos. Se hoje podemos casar, doar sangue, se temos conquistas é porque vocês ousaram existir, como o Eduardo Macray, que está aqui com a gente. Nunca se faz história sem olhar para nosso passado, resgatar a história é um ato de coragem”.

Cláudia Regina, presidenta da Associação da Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo registrou sua emoção em estar presente e disse que “se hoje temos a maior Parada do mundo, temos que lembrar que ela foi construída. Antes, muitos de nós não podiam sair na rua”, ressaltando também a necessidade de “ unidade acima de tudo”.

Cássio Rodrigo, coordenador LGBT da Prefeitura de São Paulo, representando no ato a secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, Claudia Carletto, contou que teve “a oportunidade de reencontrar muitos amigos de luta contra a discriminação e o preconceito. Uma comunidade sem memória não existe. Nossas memórias estão registradas neste trabalho. Que possamos ter consciência de nosso voto. Nosso desafio é colorir o Congresso. Precisamos vencer a intolerância”, ressaltou.

Cláudio Nascimento Silva - Presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI - Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT+ | LinkedInEmocionado, o diretor Cláudio Nascimento disse estar muito “feliz pela presença de todos na plateia e no palco. Foi um prazer dividir com o Márcio esta produção que é uma ferramenta importante de comunicação para visibilizar nossa história. É um registro, virão outros”.

Marcio Caetano | Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - Academia.eduEm sua fala, o também diretor Márcio Caetano demonstrou gratidão e felicidade. “Quero agradecer de coração todos os que dedicaram suas vidas e trajetórias para que tivéssemos representações. É motivo e momento de festejarmos nossa existência e rememorarmos nossas lutas.”

Thammy Miranda é eleito vereador de São PauloO vereador Thammy Miranda marcou presença no evento e disse ter se sentido orgulhoso com o trabalho feito. Ressaltou ainda a importância do projeto. “Orgulhoso trabalho na vida das pessoas. Não só ousamos existir, mas ousamos ocupar cargos públicos e fazer diferença na vida das pessoas.”

O filme

Quando Ousamos Existir"- últimos dias da Campanha de | Cultura

O documentário, gravado entre 2017 e 2019, traz depoimentos de diversos militantes, como João Nery, o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil, em 1977, ativista pelos direitos LGBT, falecido em 2018; Regina Fachinni, ativista de direitos humanos, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu (UNICAMP); João Silverio Trevisan, escritor e um dos ativistas fundadores do Grupo Somos de São Paulo, criado em 1978, juntamente com o escritor e professor da Universidade Federal da Bahia Edward MacRae e o professor da Universidade de Brown/EUA James Green; Jovanna Cardoso, atual presidente do Fórum Nacional de Pessoas Trans Negras e Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia e fundador do Grupo Gay da Bahia, em 1980, entre tantos outros.

O evento de pré-estreia foi uma realização do Centro João Antônio Mascarenhas, da Universidade Federal de Pelotas, da Universidade Federal do Rio Grande, da Universidade Federal do Espírito Santo, Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ do Rio de Janeiro, Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Coletivo de Feministas Lésbicas, Aliança Nacional LGBTI+, Agência Nacional de Notícias da Aids, Coordenação LGBT da Cidade de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura e Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo.

No próximo mês, com data a definir, haverá a pré-estreia do documentário no Rio de Janeiro e no mês de abril será a vez das cidades de Porto Alegre e Rio Grande. Depois o documentário será exibido em festivais internacionais.

Veja a seguir a seleção de fotos da noite de lançamento:

João Silvério Trevisan falou de sua trajetória e importância da militância

O professor Veriano Terto lembrou o início de sua militância no Somos do Rio de Janeiro

Richard Parker lembrou a chegada da Aids no movimento LGBTQI+ no Brasil

Vagner Almeida, da ABIA, ressaltou a importância que o movimento trouxe na construção de políticas públicas

Cláudio Nascimento muito feliz e emocionado na pré-estreia

Dindry Buck, como mestre de cerimonia, conduziu o evento, que contou no ato solene com falas emocionadas dos diretores do documentário Cláudio Nascimento e Marcio Caetano

Drags marcaram presença na exibição: @dindrybuck, @xeniastaardrag, @tchakadragqueen, @saletecampari

Drags @saletecampari,@dindrybuck, @tchakadragqueen e @xeniastaardrag fazem pose para foto com o ativista Júlio Moreira, do Grupo Arco-Íris

A plateia se emocionou e aplaudiu em pé o final da exibição

 

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

Dicas de entrevista

Cláudio Nascimento

Tel.: (21) 98351-8759 ou 99144-9977

Marcio Caetano

Tel.: (53) 99173-4774