Nessa segunda-feira (1), a coluna Senta Aqui com Marina Vergueiro recebeu o Dr. Ricardo Diaz para um bate-papo. Dr. Ricardo fez graduação em medicina na Unifesp, em 1986. Lá, também fez residência médica em clínica médica e infectologia, de 1987 a 1989. É mestre e doutor em infectologia pela Universidade Federal de São Paulo.  Dr. Ricardo fez pós-doutorado na Blood Centers of Pacific, San Francisco, CA (1993-1996). Atualmente, conduz pesquisa nas áreas de virologia, biologia molecular e pesquisa clínica relacionada a diversidade genética e patogênese do HIV.

“Durante a residência, todo mundo tem uma obrigação com esse epidemia global. Todo mundo deve participar, deve contribuir. A forma com que pude contribuir foi levar conhecimento e, como médico, dar um pouco de assistência nesse sentido”, disse Dr. Ricardo sobre como decidiu começar a trabalhar com HIV. “É legal ver como a gente avançou cientificamente para chegar até a situação em que estamos hoje. A cada dia que passa, parece que o dia atual é um pouco melhor do que o anterior, porque a gente evolui na ciência a cada dia nesse sentido. Estamos esperando pelo dia em que a gente vai testemunhar o fim dessa epidemia global.”

O pesquisador pretende começar no final deste ano a nova fase dos testes clínicos com o tratamento que eliminou o vírus do HIV, que provoca a aids, de um morador de São Paulo.

Entendendo o processo de cura

“Alguns anos atrás o mundo percebeu que existiam dois problemas na hora de lidar com a pessoa com HIV. O corpo dela, às vezes, tem um pouco mais de inflamação e o segundo problema é que a gente não consegue curar ela de um forma prática e rápida do jeito que a gente quer, eliminar o vírus. A causa pra essas duas coisas é a mesma. Existe uma quantidade de células do nosso corpo que tem o vírus. Assim, nosso objetivo é tentar diminuir a quantidade de vírus que fica escondido no corpo da pessoa vá diminuindo. Então, na hora que a gente conseguir fazer isso, curamos as pessoas”, explicou.

“A boa notícia é que ele está dormindo e quando a pessoa está em tratamento impedimos ele de acordar”.

Na primeira etapa do estudo liderado por ele, cujos resultados foram anunciados em julho de 2020, os pesquisadores apresentaram o caso do “paciente de São Paulo”. O voluntário – um homem de 36 anos que prefere não se identificar – foi considerado curado após o HIV desaparecer de suas amostras sanguíneas.

Uma nova etapa dos estudos

“Na primeira fase, estávamos explorando pra ver o que funcionava. Agora, temos uma noção do que funcionou melhor nessa primeira fase exploratória. Então, a gente vai associar as intervenções que foram feitas só aqui no Brasil. E agora estamos ajustando”, explicou Dr. Ricardo.

“Vai ter uma quantidade maior de pessoas e estamos mais ajustados com o que a ciência mostrou pra gente que deu mais certo”, disse o médico que precisou interromper as pesquisas por conta da pandemia de Covid-19.

Inicialmente, o “paciente de São Paulo” foi o terceiro caso registrado no mundo de cura do HIV. No entanto, após um período de tempo, foi detectado HIV em seu sangue novamente.

“A gente acabou detectando que o vírus voltou nele. Existe a possibilidade de ser um vírus novo. Se for isso, será ótimo, porque pode ser o mesmo que acontece com a hepatite C. Se a pessoa se infectar de novo, curamos de novo. Seria uma perspectiva boa para o HIV também”, explicou.

Quem pode participar 

Dr. Ricardo conta que recebeu inúmeras solicitações de pessoas que queriam participar do estudo Cura. “Mas a gente tem que ser cuidadoso, os estudos precisam começar pequeno, porque pode dar errado. Então, precisamos começar com poucas pessoas. No entanto precisamos também ampliar. A gente tem um projeto para disponibilizar nossos achados para o SUS, fazendo uma escala maior.”

O médico explicou que avalia as solicitações de participação que recebe e que mantém essas pessoas em um banco de dados que pode ser utilizado com a ampliação do estudo.

Nessa nova etapa, a equipe liderada por Diaz vai ampliar para 70 a quantidade de participantes dos testes clínicos, sendo que 60 voluntários irão receber o novo tratamento com a combinação de medicamentos e outros 10 serão grupo controle.

Acompanhe a entrevista na íntegra clicando aqui. 

Tratamento para todos

“Um dos desafios é a palavra mágica que a gente tem: acesso. A pessoa que mora no interior do Acre tem que ter o mesmo direito que a pessoa que está na cidade de São Paulo. Por isso a gente espera sempre poder, além do acesso, dar a vantagem da modernidade”, disse Dr. Ricardo ao explicar seu novo projeto com objetivo de ampliar acesso à medicação em todo país e defender o tratamento individualizado.

Nesse sentido, ele defende que a medicação injetável traz menos efeitos colaterais do que os comprimidos utilizados hoje. “O efeito é muito bom porque tem a eficácia dos tratamentos mais modernos, e mesmo quando há resistência, temos um arsenal pra contornar isso”.

Quanto ao tratamento individual, Dr. Ricardo defendeu que o que a medicina ocidental chama de medicina de precisão deveria ser justamente saber qual o melhor medicamento de acordo com o gênero, o corpo de cada pessoa.

“Mais da metade das infecções do mundo estão em meninas. Só que elas estão na África ou no Sudeste Asiático. Não é mais ético não incluir mulheres nas pesquisas, por exemplo”.

Novos Projetos pós pandemia

“O que a gente percebeu que na pandemia a gente parou de atender as pessoas do jeito que a gente gostava, as pessoas interromperam o tratamento. Agora que as coisas estão melhorando, nos vemos na obrigação de fazer com que essas pessoas voltem a ter assistência”, disse ao explicar um novo projeto que visa apoiar serviços de saúde na retomada do acolhimento.

Ele explicou que o objetivo que é fornecer estrutura para que as unidades consigam chamar essas pessoas de volta. “Se for preciso contratar alguém, fazemos parceria pra conseguir essa pessoa. Ou ainda se precisa de um celular, um computador, oferecemos isso e está dando certo.”

Para conhecer melhor sobre esse projeto, clique aqui

 

 

Redação Agência de Notícias da Aids

 

Dica de Entrevista:

Unifesp – Assessoria de Imprensa

Telefone: (11) 3266-6088, ramais 201 / 208 / 225
E-mail: imprensa@unifesp.br