Aconteceu nessa quarta-feira (3) o XX Fórum de Saúde da População Negra do Município de São Paulo com objetivo de dicutir a pandemia e a vacinação para Covid-19 no contexto da população negra.

Segundo os idealizadores do evento, “algumas pessoas já tiveram acesso à vacina em todo o país, gerando fotos importantes do atual momento político, enquanto a vacinação já foi interrompida em determinados lugares. A população negra e particularmente os quilombolas também compõem esse cenário, em que é preciso equidade nas ações de saúde, mas que a gente não tem visto, muito embora a pandemia tenha afetado esses grupos de forma diferenciada quando comparada à população não negra.”

A discussão foi mediada pelo ativista Flip Couto e contou com a participação de Mônica Calazans, enfermeira e 1ª pessoa a ser imunizada no país, o Radialista Arnaldo Marcolino, membro da Aliança e Geralda Marfisa, que compõe o Conselho Gestor da Saúde em Cidade Tiradentes.

Para Geralda, há uma dificuldade de manter trabalhos que dialogam com a equidade. Nós moramos em um território negro. O Brasil é negro e é nas periferias que estão a maioria dos negros. “A dificuldade está na falta de preparação governamental para trabalhar com conselheiros de saúde, porque não há interesse de que a população fique ciente desse fato. Hoje nós temos capacitações para médicos e profissionais de saúde, mas são poucos que se interessam em fazer. Então, se não há interesse do governo para trabalhar com conselhos gestores, ficam difíceis essas conquistas. Hoje temos dificuldade até de fazer conferências de saúde, porque o governo não quer. Ele não quer participação popular. Nós como conselheiros, somos fiscalizadores do sistema de saúde, nós defendemos o SUS, aquele SUS que queremos para nossa população e, principalmente com equidade para população negra.”

“Gostaria de que mais pessoas estivessem envolvidas nessas questões e saberem de seus direitos e de seu papel  como cidadão, para que a gente possa ter uma política pública que se cumpra porque a lei existe e não está sendo cumprida”, completa.

Mônica aproveitou também para comentar a respeito da repercussão após ter ficado conhecida em todo o país por ser a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19. “Foi ótimo. Acho que to tendo uma representatividade muito boa. Você não consegue agradar a todo mundo. Nesse período, enquanto eu estava sendo vacinada, criaram 300 contas fakes do meu perfil no Twitter. Em uma dessas contas, afirmaram que eu estava internada por ter passado mal com a vacina e minha mãe ficou preocupada, imagine o que isso causou nela. Mas minha vida continuou normal. Muitas pessoas fizeram ataques racistas, inclusive, mas se eu fosse abosorver isso pra mim, não teria vida. Duvido que se alguém ficar na linha de frente como eu, faria algum comentário do tipo.”

“Precisamos da vacina para sair dessa prisão. Só vamos conseguir vencer essa doença infeliz, quando todos tomarem a vacina. Não sei qual será a logística, mas queria muito que tudo isso acabasse o quanto antes”, completa. “Quero acreditar, tenho fé e esperança de que vai chegar a todos.”

Por outro lado, Arnaldo ressaltou que a pandemia levantou um tema que o Movimento Negro já fazia e “porque quando isso acontece, os mais afetados somos nós, ainda mais quando falamos dos idosos. Nós que acreditamos no SUS temos que cobrar nossos representantes e também os conselheiros. Não podemos perder tempo falando sobre questões ideológicas e partidárias. Isso é muito ruim. Você vê a vacinação acontecendo nos grandes centros como na região central de São Paulo, mas não vê a mesma movimentação acontecendo na periferia, nas cidades em volta. As três esferas de gestões que temos são muito ruins. A população negra carrega um fardo pesado, mas é necessário marchar. A imprensa também precisa colaborar. Não quero ouvir que parte de um time de futebol tem Covid. Se os atletas que têm suporte pegam Covid, imagina nós. O que eles fazem conosco é um assassinado. Então os conselhos municipais e estaduais não estão trabalhando, o Ministério Público também não está fazendo nada. A vacina não chega para nós.”

Geralda aproveita para ressaltar que é muito sério que haja incentivo para que as pessoas não sejam vacinadas. “Vacina já para todos. Nos quilombos, será que todos os quilombos já tiveram acesso a vacina? Porque nas periferias claro que a vacinação não chegou a todos. Vocês acham que daqui a um ano e meio esse população ainda vai estar de pé esperando pela vacina? Como nossas famílias vão resistir a isso?”

 

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)