Mulheres que ocupam espaços em diferentes setores na sociedade participaram neste domingo (8), Dia Internacional da Mulher, de um auditório público, na Avenida Paulista, e falaram sobre os desafios de ser mulher em pleno século 21. Com o tema “Mulheres e suas muitas dimensões”, a jornalista Roseli Tardelli recebeu na primeira roda de conversa a ex-vice-prefeita de São Paulo, Alda Marco Antônio, a promotora de Justiça Fabíola Sucasas, a coaching Regina Silva e Emília Carminetti, que trabalha na gerência de diversidade do Sesc São Paulo. Elas defenderam igualdade de direitos e a participação da mulher na política, falaram sobre feminismo, homenagearam outras mulheres, lembraram das que não têm voz e pediram respeito e um mundo mais justo.

A secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Claudia Carletto, abriu o evento e lembrou que as mulheres trans e travestis também sofrem muito preconceito. “Elas precisam de real inserção na sociedade.” Claudia aproveitou para homenagear neste 8 de março a senadora Mara Gabrilli (PSDB). “Ela é meu exemplo, foi a mulher que me colocou na política e que faz a diferença na vida de muitas outras. Sua luta é por pessoas com deficiência e pelos mais necessitados. Mara me traz a certeza de que é possível derrubar barreiras e construir um mundo melhor, mais igualitário, mais justo, mais democrático e repleto de mulheres.”

A secretária Claudia explicou o funcionamento das Casas da Mulher e sua atuação multidisciplinar

Roseli quis saber de todas as participantes quem são as mulher.es que as ajudaram a ser quem são. Alda elegeu a mãe, que em 1920 se tornou independente economicamente

Ao participar do debate, Fabíola disse que igualdade de gênero é um direito humano e homenageou a vereadora Marielle Franco como uma mulher que a inspirou. “Marielle, presente! Ela representa o que é desigualdade de gênero, racial e na política. Foi assassinada em 2018 em um crime que, 725 dias depois, ainda não foi solucionado.”

   Promotora Fabíola lembrou casos tristes de agressões sofridas por mulheres

Regina lembrou das avós, que segundo ela, eram guerreiras e lutadoras. “Sem a mulher, o mundo não teria organização.” Já Emília trouxe para o debate as mulheres que não têm nome, as que limpam os espaços, as que estão nas cozinhas fazendo com que o mundo aconteça. “Também quero lembrar das mulheres que me antecederam na família e que me dão liberdade para ser quem sou.”

Quando o assunto é mulher e direito, a justiça, na opinião da promotora Fabíola, ainda é muito distante das mulheres e comete violência. “A própria lei Maria da Penha é resultado de uma violência institucional. O Brasil foi condenado a tomar providências e a eliminar a discriminação contra as mulheres neste âmbito de justiça. É importante destacar que quando elas buscam por justiça estão se valendo do seu último grito de socorro. Toda violência contra a mulher é uma violação de direitos humanos.”

 “Mulheres e suas múltiplas dimensões” chamou atenção e contribuiu para as reflexões do 8 de março!

Sobre mulher e política, Roseli perguntou a Alda Marco Antônio como a mulher pode contribuir para que outras tenham seus direitos respeitados. “No processo constituinte tínhamos apenas 29 mulheres em um universo de mais de 500 deputados. Mas essas mulheres de diferentes origens se uniram acima de suas crenças e partidos para fazer avançar a legislação. Elas entregaram ao presidente Ulysses Guimarães a carta das brasileiras e nós conseguimos muitos avanços. Tem sido assim na política, as mulheres têm demonstrado solidariedade nas questões de gênero. Acredito que precisa ser assim, todas nós temos a mesma história de vida, a mesma história de discriminação.”

Alda Marco Antônio, que foi secretária de Assistência Social e vice-prefeita de São Paulo, enfatizou a importância da participação das mulheres na política

A falta de participação na política foi bastante criticada por Alda. “Somos poucas e temos que entender que tudo em nossa vida depende de uma ação política. Infelizmente estamos deixando os homens decidirem por nós. O que nos interessa como gênero, interessa as nossas famílias. Temos que criar leis e programas que pegam.”

Regina Silva trouxe para o debate a importância da terapia alternativa na luta por um mundo mais justo emocionalmente. “A constelação trabalha com a mente inconsciente. É a busca pelo pertencimento e o equilíbrio entre dar e receber. Só é possível curar uma sociedade se curarmos o inconsciente. Nós mulheres carregamos a herança do estupro. Se perguntarmos a elas se têm medo de serem estupradas, todas ou a maioria diriam que sim. Os homens não.”

Regina Silva explicou as ordens da constelação: hierarquia, estabelecida pela ordem de chegada; pertencimento, estabelecido pelo vínculo; e equilíbrio, estabelecido pelo dar e receber

A Constelação Sistêmica é uma técnica terapêutica criada pelo alemão Bert Hellinger na década de 1970. Diferente da terapia, que é um processo de autoconhecimento e tem um prazo de duração indeterminado, a constelação por sua vez, tem como objetivo reorganizar o sistema familiar.

Emília: “A arte cura e ajuda as mulheres a se empoderarem”

Do universo cultural, Emília disse que a arte também é uma questão política. “De que arte estamos falando? A arte é um lugar político porque podemos usufruir e exercer, ela tem a potência de nos mostrar outras possibilidades de mundo, outras narrativas e outras histórias. Mas não contempla todas as narrativas, ela não traz, por exemplo, a história de mulheres trans, de mulheres negras, das trabalhadoras domésticas.”

A primeira roda de conversa do auditório público durou aproximadamente uma hora e meia. Da plateia, um dos participantes quis saber das debatedoras se mulher de direita pode ser feminista. Alda disse que sim: “feminista é o ser humano que deseja igualdade e respeito.” Para Emília, é importante lembrar que não existe uma única mulher. “Nós não sofremos as mesmas violências”. Já Fabíola acredita que o feminismo é universal. “Quando falamos de direitos humanos, falamos de direito a dignidade e eu enxergo o feminismo como a luta pelo direito a dignidade. Se estamos diante de luta por direitos humanos, todos nós somos feministas.”

“O universo feminino foi bem retratado pelas mulheres compositoras”, disse a cantora Núbia

O Esquadrão das Drags e o grupo Núbia Maciel e as divinas também participaram do evento e levaram arte e irreverência para a Paulista. A música levantou a plateia ao ritmo de samba. As drags aproveitaram para distribuir preservativos e falar sobre prevenção e autocuidado.

                  Sissy Girl e Dindry posam para foto junto com Roseli antes da roda de conversa começar

Cássio Rodrigo ressaltou a importância de todos os seguimentos da sociedade “ ocuparem espaços e trazerem suas questões para serem ouvidas e acolhidas por todos”

O evento “Mulheres e suas muitas dimensões” foi uma iniciativa da Agência Aids em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e contou com o apoio da DKT do Brasil, da Aids Health Care Foundation (AHF) e da Semina.

 

Talita Martins (talita @agenciaaids.com.br)