A Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe começa na segunda-feira (23) e os idosos e profissionais da saúde serão os primeiros públicos vacinados. Anteriormente, o início da campanha estava prevista para a segunda quinzena de abril, mas foi adiantada por conta da pandemia de Covid-19. A expectativa é vacinar 67,6 milhões de pessoas.

De acordo com o Ministério da Saúde, a antecipação tem dois objetivos: facilitar e acelerar o diagnóstico da síndrome respiratória Covid-19, causada pelo novo coronavírus e evitar que o sistema de saúde fique sobrecarregado. 

A gerente de assistência do Centro de Referência em DST/Aids de São Paulo, Denize Lotufo, explica a importância de vacinar as pessoas, eliminando assim uma parte considerável dos casos de gripe comum. “Indivíduos que receberem a vacina estarão protegidos de pelo menos três cepas do vírus Influenza. Sendo assim, poderá mais facilmente ser descartada a possibilidade de gripes comuns em pessoas já vacinadas contra Influenza que chegarem aos serviços de saúde com sintomas gripais. Tais sintomas podem ser indicativos de Covid-19, ou não. No momento a realização do teste para o Coronavírus só está indicado para casos graves.”

Com a alta letalidade de covid-19 entre pessoas acima de 60 anos, o governo federal também decidiu começar a vacinação pelos idosos e trabalhadores da área da saúde. A partir desta segunda-feira, postos de saúde já disponibilizam as vacinas. É importante lembrar que ações estão sendo adotadas para evitar aglomerações nas unidades.

Serão realizadas mais duas etapas em datas e para públicos diferentes. Até 22 de maio, a meta é vacinar pelo menos 90% de cada um dos grupos de risco. 

O dia “D” de mobilização nacional para a vacinação será em9 de maio, quando 41 mil postos de saúde ficarão abertos para atender todos os grupos prioritários.

 

Confira o cronograma completo:

  • 1ª etapa começa em 23 de março: idosos e trabalhadores da área da saúde.
  • 2ª etapa começa em 16 de abril: doentes crônicos, professores (rede pública e privada) e profissionais das forças de segurança e salvamento.
  • 3ª etapa começa em 9 de maio (No dia “D” mobilização nacional): priorizará crianças de 6 meses a menores de 6 anos, pessoas com 55 a 59 anos, gestantes, puérperas (até 45 dias após o parto), pessoas com deficiência, povos indígenas, funcionários do sistema prisional, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas e população privada de liberdade.

Vacinação e HIV

“No CRT as vacinas chegaram um pouco mais cedo e já vacinamos quase 300 funcionários”, conta Denize. Além disso, não há restrição quanto a quantidade de CD4, por isso qualquer pessoa com HIV/aids pode se vacinar. “Essa não é uma vacina com vírus vivo, diferente da febre amarela, por exemplo”, explica. “No entanto, se estiver com febre, ou com sintomas do Covid-19, é melhor esperar. Até mesmo porque, no caso desses sintomas, é preciso ficar em isolamento.”

O vírus da gripe é um tanto quanto mutante e faz com que estas vacinas não previnam, necessariamente, a gripe em si, mas determinados tipos causadores da gripe. Assim, antígenos das principais cepas e de algumas destas que surgiram mais recentemente são introduzidos nas vacinas, o que não significa necessariamente que todos os antígenos de vírus causadores da gripe estão ali. A eficiência da vacina varia entre 70% e 90% e imuniza as pessoas por um ano (tempo pequeno, se comparado à maioria das outras vacinas).

Na quarta-feira, 18, o governo de estado de São Paulo fechou uma parceria com mil unidades de farmácias e drogarias particulares para aplicação de vacinas contra a influenza a partir do dia 13 de abril na capital paulista. A medida poderá ser estendida a outros municípios do estado, com objetivo de evitar aglomerações em postos de saúde. Além disso, todos os brasileiros sem contraindicação — mesmo fora do público-alvo — podem adquirir uma versão da vacina contra a gripe na rede privada.

“Mas continuamos preocupados com a ideia de muita gente buscando pela vacina ao mesmo tempo. Por isso, queremos orientar as pessoas para, se possível, procurar lugares alternativos. Estamos preocupados com o fato de misturar muitos idosos e profissionais de saúde no mesmo lugar. Além disso, a disponibilização do produto nas farmácias vai ajudar muito a distribuição e diminuir a aglomeração.”

Gripe comum x coronavírus

A vacina da gripe não tem eficácia contra o novo coronavírus, mas proteger contra os outros tipos de vírus da influenza. A ação pode evitar de forma mais precoce casos de complicação da gripe, o que sobrecarregaria o sistema de saúde em um momento de crise.

Em 2020, até 14 de março, foram registrados 165 casos e 13 óbitos por influenza A (H1N1), 139 casos e 14 óbitos por Influenza B e 16 casos e 2 óbitos por influenza A (H3N2). 

O Brasil teve em 2019 teve 1.109 óbitos decorrentes de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) por influenza, segundo o último relatório do Ministério da Saúde.

O número representa 22,5% de todas as mortes por SRAG que fazem parte do levantamento — elaborado por amostragem, ou seja, apenas uma parcela dos casos é contabilizada. 

“Se você comparar o coronavírus com a gripe, podemos ver que o covid-19 é cerca de 10 vezes mais grave, em média, porque a mortalidade da gripe é muito baixa, apenas uma pessoa em cada 10 mil morre”, explica Cowling.

Por outro lado, Cowling diz que, no caso da gripe, é “muito improvável” que uma pessoa jovem e saudável morra. Já no surto de coronavírus, foram registrados alguns casos —embora a incidência seja menor: até 39 anos, a taxa de mortalidade é de 0,2%.

Histórico

Em 1999, Ano Internacional do Idoso, a vacina contra a gripe passou a ser distribuída, gratuitamente, a indivíduos com idade acima de 60 anos, indígenas e portadores de doenças crônicas; anualmente. Além deles, gestantes, crianças entre seis meses e dois anos de idade, e profissionais da saúde; passaram também a integrar esse grupo, a partir da campanha de 2011.

Dor local, de pequena intensidade, com duração de até dois dias são possíveis efeitos da vacina. Febre e mal estar, mais frequentes em pessoas que não tiveram exposição anterior aos antígenos da vacina (por exemplo, crianças). Começam seis a 12 horas após a vacinação e podem persistir durante um ou dois dias.

 

 

Dica de entrevista

Denize Lotufo

dlotufo@crt.saude.sp.gov.br

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)