Com objetivo de discutir o atual cenário da hepatite C, diante da pandemia do novo coronavírus, o Seminário Internacional sobre Hepatite C – Estratégias em Contexto de Pandemia para Eliminação em 2030 começou na manhã desta segunda-feira (24). Durante três dias haverão debates que serão transmitidos ao vivo pelo YouTube, por meio do canal do Fórum de ONGs Aids de São Paulo (Foaesp).

Com mediação do presidente do Foaesp, Rodrigo Pinheiro, a primeira mesa do dia contou com a presença do infectologista Gláucio Mosimann Júnior, do Programa Nacional para a Prevenção e Controle das Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Em sua fala, Gláucio apresentou dados do boletim epidemiológico das hepatites virais, lançado pelo Ministério da Saúde no dia 28 de julho. Ele também relembrou as metas mundiais para eliminação das hepatites sobre as quais o Brasil firmou um pacto com a Organização Mundial de Saúde. Dentre elas, destaca-se a redução dos casos em 90%, bem como a redução da mortalidade em 65%.

Segundo os dados do Ministério, desde 2015 o SUS tratou mais de 125 mil pessoas com antivirais de ação direta, que curam mais de 95% das infecções causadas pelo vírus da hepatite, o HCV.

Entre 2019 e 2020, o Brasil adquiriu 100 mil tratamentos para hepatite C e já distribuiu mais de 58 mil aos estados.

Gláucio também destacou os dados das hepatites na transmissão vertical. Segundo ele, é possível eliminar a transmissão da hepatite C de mãe para filho diagnosticando e tratando todas as mulheres, assim como aconteceu com o HIV.

O infectologista destacou ainda a mudança recente através de uma portaria estabelecida em junho por meio da qual os medicamentos para hepatites virais passam a compor o elenco do Componente Estratégico tendo como consequência a capilarização da rede bem como ampliação do acesso ao tratamento.

Glácio também comparou a luta contra a hepatite C com a realidade do HIV no país. “Em relação ao HIV a gente não tinha uma atenção primária. Na hepatite queremos estar na atenção primária e isso traz uma linha de cuidado, com protocolo para enfermagem e fluxuogramas para o médico, porque o manejo do paciente não cirrótico ficou mais simples. Se o HIV estivesse com tratamento curando 95% dos casos, a infecção já estaria na atenção primária há muito tempo.”

 

A experiência em Portugal

 

Por sua vez, Ágata de Oliveira Baginha, enfermeira do GAT Portugal (Grupo de Ativistas em Tratamentos), apresentou o panorama das hepatites virais em Portugal. Segundo ela, apesar das diferenças nos números da doença, uma vez que o país europeu é muito menor que o Brasil, há semelhanças com a questões relacionadas a preconceito e estigma.

“Em termos de lutas por direitos humanos também dependemos de alterações na lei como é o caso das pessoas que fazem uso de drogas. Há pessoas que não vão aos serviços, então nosso trabalho é tentar fazer essas pessoas acessem os serviços e que as medidas legais necessárias sejam tomadas para diminuir essas barreiras.”

Os dados do país mostram que os casos ocorrem majoritariamente entre pessoas do sexo masculino e entre 40 e 59 anos. A maioria dos casos de transmissão tem como causa provável exposição não ocupacional a sangue e materiais contaminados.

Ela também falou sobre a importância sobre a implementação de programas destinados à diagnósticos, já que no país, desde a implementação do Portal Hepatite C da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, foram notificadas 25 mil pessoas vivendo com a infecção. Segundo Ágata, o portal colaborou para a centralização dos pedidos e o monitoramento do tratamento com maior qualidade.

No ano de 2015, Portugal estabeleceu um acordo com a farmacêutica Gilead para disponibilização do medicamento Harvoni para todas as pessoas com hepatite C, com pagamento por pessoa curada e não por semanas de tratamento.

Ágata ressaltou que, como toda doença que tem transmissão sexual, precisa ser trabalhada a questão do Chemsex, palavra que se origina da expressão chemical sex (sexo químico em inglês), se refere ao sexo sob influência de drogas psicoativas. Essa prática vem se popularizando nos últimos anos, especialmente entre os homens gays e bissexuais. “Neste contexto pode haver uma alteração na percepção do risco, portanto é também um dado que traz luz sobre as mudanças necessárias abordadas aqui.”

O Seminário Internacional é uma realização do Foaesp em parceria com o Fórum de ONGs Aids do Rio Grande do Sul e com apoio da Coalition Plus.

 

Mais informações 

O primeiro dia do Seminário Internacional sobre Hepatite C pode ser visto aqui ou no canal do FOAESP no YouTube, de onde será transmitido até quinta-feira, 27 de agosto, sempre às 9h.

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)