O Ministério da Saúde anunciou a inclusão de teste rápido para detecção de hanseníase no Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, o Brasil notificou 15.155 novos diagnósticos na população geral e 625 em jovens de até 15 anos. As declarações foram dadas em entrevista à imprensa nessa terça-feira (25).

“O teste rápido para o diagnóstico é uma grande conquista, porque temos um sistema de saúde de acesso universal tão abrangente como nosso, o Brasil é o primeiro país do mundo a incorporar esses exames e oferecê-los gratuitamente a nossa população. Que nós possamos fazer o diagnóstico clínico, confirmar através dos exames sorológicos e através de uma terapia adequada, fazer com que os pacientes sejam curados”, destacou o ministro Marcelo Queiroga. O anúncio faz parte das ações alusivas ao Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase, que será no próximo domingo (30).

Doença transmissível e de caráter crônico, a hanseníase é um problema de saúde pública que ainda gera estigmas e discriminação devido ao desconhecimento. Em 2022, o Ministério da Saúde deve investir cerca de R$ 3,7 milhões para essas novas testagens. O GenoType LepraeDR e o NAT Hans, por serem testes de biologia molecular e requererem uma estrutura laboratorial mais avançada, deverão ser ofertados nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen), inicialmente em 10 estados até o final de 2022. O objetivo é alcançar as 27 unidades federativas até o final de 2023. Já o teste rápido imunocromatógrafico será ofertado nas Unidades Básicas de Saúde.

Segundo o ministro, Mato Grosso, Maranhão, Pará e Pernambuco são os estados em que há mais casos da hanseníase atualmente. O Brasil é o segundo colocado no rol de países mais atingidos pela doença.

O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, também participou da coletiva e lembrou que a pandemia de Covid-19 tem representado um desafio a mais em relação ao diagnóstico e ao tratamento da hanseníase. Com a pressão sobre os sistemas de saúde, a pandemia fez diminuir o combate a outras doenças, sobretudo as que afetam a população mais pobre.

Para o secretário, os casos entre menores de 15 anos são uma preocupação, já que o contágio se daria, sobretudo, pelo contato com pacientes que não sabem que têm a doença. “Com o início da pandemia, a detecção de casos novos no Brasil caiu bastante. E a gente entende, porque ela é uma doença crônica, muitas vezes de progressão lenta, que não gera uma urgência e uma emergência hospitalar, e os pacientes não tiveram a oportunidade de ser diagnosticados”, disse. “Isso tem um reflexo com o contato. A linha de transmissão da hanseníase é lenta, devagar e, por vezes, um adulto não diagnosticado e, consequentemente, não tratado acaba infectando, com a convivência, os seus filhos.”

Segundo dados do boletim epidemiológico, de 2016 a 2020, foram diagnosticados 155,3 mil casos novos de hanseníase no Brasil. Desses, 86,2 mil ocorreram no sexo masculino, o que corresponde a 55,5% do total. No mesmo período, foram 19,9 mil casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade física – o mais grave. Em alguns casos, o paciente é encaminhado para serviços de referência para confirmação diagnóstica e, quando necessário, para acompanhamento.

Para evitar agravamento e sequelas, é fundamental iniciar o tratamento o mais rápido possível. Isso porque a doença atinge pessoas de ambos os sexos e de todas as faixas etárias, podendo apresentar evolução lenta e progressiva e, quando não tratada, pode causar deformidades e incapacidades físicas.

“Os testes rápidos lançados ontem estarão nas unidades básicas de saúde do SUS em no máximo 180 dias e serão uma revolução para o diagnóstico precoce da hanseníase, prevenção de incapacidades físicas e quebra da cadeia de transmissão da doença”, afirmou o dr. Gerson Pereira, diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.

 

Hanseníase

Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a hanseníase acomete principalmente nervos periféricos e pele, podendo causar incapacidades físicas, principalmente nas mãos, pés e olhos. Embora curável, ainda permanece endêmica em várias regiões do mundo, sobretudo no Brasil, na Índia e na Indonésia. Os sinais e sintomas mais frequentes são: dormência, formigamento e diminuição de força nas mãos, pés ou pálpebras, e manchas brancas ou avermelhadas com diminuição ou perda da sensação de calor, de dor ou do tato. A pessoa com algum desses sintomas deve, o quanto antes, buscar atendimento na unidade de saúde mais próxima.

A doença está na agenda sanitária internacional,contemplada no 3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem como meta combater as epidemias de doenças transmissíveis e tropicais negligenciadas até 2030.
A Estratégia Global de Hanseníase de 2021 a 2030 traz uma mudança significativa na abordagem ao enfrentamento da hanseníase no mundo. A nova estratégia centraliza esforços para a interrupção da transmissão e a eliminação dos casos autóctones, cujo objetivo em longo prazo é o conceito de zero hanseníase: zero infecção e doença, zero incapacidade, zero estigma e discriminação.

No Brasil, a Estratégia Nacional para o Enfrentamento da Hanseníase 2019-2022 traz a visão de um Brasil sem hanseníase, e tem como objetivo geral reduzir a carga da doença no país até o fim de 2022. Para reduzir a carga da doença são imprescindíveis a vigilância e o exame dos comunicantes dos casos da doença. Além disso, os profissionais de saúde devem fazer a busca ativa para diagnosticar e tratar casos novos.