Uma semana depois que o Brasil registrou a marca de 300 mil de mortes em decorrência da covid-19, o governo federal decidiu incluir as pessoas com HIV, entre 18 e 59 anos, no grupo prioritário (comorbidade) para receber a vacina contra a covid-19. Antes, apenas quem tinha o CD4 menor que 350 poderia ter acesso a imunização na primeira etapa. A decisão foi bastante comemorada por ativistas da luta contra aids.

Segundo a militante Vanessa Campos, essa era uma reivindicação da RNP+ Brasil. “Ficamos muito felizes que, enfim, o Ministério da Saúde reconheça nosso direito, respeitando a universalidade preconizada pelo SUS e o Artigo 196 da Constituição brasileira.”

De Pernambuco, a jornalista Alessandra Nilo, da Gestos, destacou que “as pessoas com HIV/aids reúnem todas as condições necessárias para estar neste critério de prioridade.” Na avaliação do diretor da AHF Brasil, Beto de Jesus, “a pandemia da covid-19 tem afetado diretamente o cuidado e o tratamento das pessoas que vivem com HIV/aids. A gente não pode deixar que uma pandemia sobreponha a outra.”

Confira a seguir o que disseram os ativistas ouvidos pela Agência Aids:

Vanessa Campos, Secretária de Comunicação da RNP+Brasil e representante estadual da RNP+Amazonas: “A inclusão de todas as pessoas vivendo com HIV e Aids (PVHA) entre os grupos prioritários (comorbidades) para vacina contra a covid-19, independentemente do CD4, tem sido uma reivindicação da RNP+ Brasil.  Ficamos muito felizes que, enfim, o Ministério da Saúde reconheça nosso direito, respeitando a universalidade preconizada pelo SUS e o Artigo 196 da Constituição brasileira: “A Saúde é direito de todos e todas e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” De acordo com diretrizes internacionais, como as britânicas, a inclusão de pessoas com comorbidades nas prioridades de vacinação, especificada em “Imunossupressão e HIV”, também vão na seguinte direção: “Indivíduos com imunossupressão e infecção por HIV (independentemente da contagem de CD4) devem receber a vacina para a covid-19 de acordo com as recomendações e contraindicações. No que diz respeito ao local aonde nós seremos vacinadas/os, temos a preocupação quanto ao sigilo referente à sorologia positiva para o HIV. É fundamental que o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e ISTs dialogue com o Ministério da Saúde para incluir uma recomendação sobre o resguardo do sigilo. Vacina para todas, todos e todes, já!”

 Alessandra Nilo, presidente da Gestos de Pernambuco: “Recebi essa notícia com muita alegria, finalmente as pessoas vivendo com HIV/aids vão entrar como prioridade nesta vacinação. Essa tem sido uma luta da gente já faz um tempo e é absolutamente importante. As pessoas com HIV/aids reúnem todas as condições necessárias para estar neste critério de prioridade. Perdemos ontem uma pessoa com HIV para a covid-19. Tenho certeza que se ela tivesse tido acesso a vacina estaria aqui com a gente. Só posso parabenizar por essa decisão, demorou, mas é muito bem-vinda e necessária. Espero que todos os países do mundo sigam este exemplo. Estamos em uma situação de tragédia nacional, as pessoas com HIV/aids enfrentam uma batalha constante contra o vírus, enfrentar a covid-19 sem ter acesso o mais rápido possível a vacina não é de forma alguma uma condição de vida que seja positiva para ninguém. Estamos muito contentes na Gestos com essa decisão.”

Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil: “A pandemia da covid-19 tem afetado diretamente o cuidado e o tratamento das pessoas que vivem com HIV/aids, seja para as questões de testagem, pois muita gente está deixando de testar, vai testar depois e pode chegar para o teste já com algum comprometimento. Além disso, muitas pessoas que usam medicação têm deixado de pega-las. Este tipo de recomendação facilita bastante e dá segurança para as pessoas que vivem com HIV/aids. A gente não pode deixar que uma pandemia sobreponha a outra pandemia. Tivemos muitos avanços nestas décadas de luta contra o HIV e a gente não pode perder isso agora por conta da covid. É uma situação extremamente delicada, eu acho que o Brasil deveria estar em outro patamar do ponto de vista da vacinação. Se o governo tivesse feito sua lição de casa, se no ano passado o governo não tivesse apostado apenas em uma vacina, tivesse ficado muito mais aberto a outras possibilidades, outros laboratórios, se tivesse respondido a Pfizer… A postura do presidente negacionista e antivacina está custando milhares de vidas para o Brasil. Infelizmente essa situação vai perdurar um tempo ainda, então, eu louvo essa iniciativa e fico feliz pelas pessoas que vivem com HIV/aids. Espero que a gente se mantenha seguro e em casa. Evite aglomerações, higienize as mãos e use máscara sempre.”

Jenice Pizão, do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas: “Essa é uma excelente notícia, principalmente hoje que a gente está precisando tanto alegrar nossos corações. 300 mil brasileiros já morreram em decorrência da covid-19. Muitas pessoas perderam a vida, suas histórias, abraços. A covid-19 não é uma gripezinha ou mimimi. Essa é uma infecção séria, basta ver o número de mortos. Tenho certeza que o Programa Nacional de Imunização tomou a decisão correta diante dessa triste realidade. Nós, pessoas que vivemos com HIV e aids, assim como outras pessoas com outras comorbidades, somos mais vulneráveis ao coronavírus. Precisamos sim ser vacinados e ter um cuidado maior com a nossa saúde, não adianta ter uma carga viral indetectável e um CD4 alto para estarmos imunes ao coronavírus, precisamos mais, precisamos de vacinas e vacinas para todos. O novo ministro da saúde afirmou que quer vacinar um milhão de pessoas por dia, tomara seu ministro que o senhor consiga fazer o que tem falado. Eu sou otimista, tenho esperança que as pessoas acordem e que este governo acorde para a triste realidade que estamos vivendo.”

Nair Brito, professora e uma as fundadoras do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Ser vacinado hoje para a covid-19 sendo pessoa vivendo com HIV significa uma vitória. Sabemos que a situação do Brasil é de guerra e escolher proteger os mais vulneráveis é uma atitude correta. Todos nós temos o direito à vida e de ser vacinado para algo que ameaça a vida. Gostaria que a vacina chegasse para todos e todas, fico até constrangida de ser vacinada e saber que outras pessoas não serão, mas sei também que em situações de catástrofe é importante proteger a vida dos mais vulneráveis.”

Marta McBritton, presidente do Instituto Cultural Barong: “Finalmente uma boa notícia neste momento tão trágico do Brasil. O acesso a vacina para a covid-19 para as pessoas vivendo com HIV é fundamental e consenso entre ativistas, ONGs e profissionais de saúde que trabalham com HIV. Sabe-se que o acesso a vacina significa facilitar o acesso à terapia antirretroviral e métodos contraceptivos. Sentir-se parcialmente protegido pela vacina, impacta também positivamente a saúde mental. Além do mais há um grande de número de pessoas com HIV que não estão em isolamento social, muitas delas trabalhando em campanhas humanitárias desde o início da pandemia da covid-19. A vacina é um direito de todos os cidadãos, mas, uma vez que não há todavia vacinas para toda a população, pessoas com HIV devem ser priorizadas, independente da carga viral.”

Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum das ONG/aids do Estado de São Paulo:  “O Foaesp teve uma participação decisiva neste processo. Quando o Departamento elaborou o protocolo para vacinação de pessoas vivendo com HIV/aids com CD4 abaixo de 350, nos reunimos com o Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo para ver a viabilização desta vacinação, haja visto que há problemas no teste de CD4. Também queríamos saber como identificar essas pessoas dentro das unidades de saúde. Fomos à Brasília e nos reunimos com o Dr. Gerson Pereira por três vezes colocando, pedindo para que ele se reunisse com os programas Estaduais para que realmente discutisse a inclusão da vacinação das pessoas vivendo com HIV/aids com CD4 abaixo de 350. O modo que estava no protocolo era inviável. Diante disso, o Dr. Gerson decidiu ampliar para todas as pessoas com HIV/aids. Estamos satisfeitos com esse processo. Agora as pessoas vivendo com HIV/aids estão incluídas de fato no plano prioritário para vacinação de covid-19.”

Moysés Toniolo, coordenador de direitos humanos da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids e representante da Articulação Nacional de Luta Contra a Aids no Conselho Nacional de Saúde (CNS): “A aprovação de que todas as pessoas com HIV/aids poderão, de certa forma, se vacinar e que isto foi aprovado pela câmara técnica em parceria com o Programa Nacional de Imunização, só de certa forma ressalta aquilo que nós do Conselho Nacional de Saúde já havíamos solicitado e orientado o Ministério da Saúde em novembro de 2020, de que todas as pessoas com imunodepressão, com imunossupressão, com doenças autoimunes, ou seja, todas as pessoas com qualquer tipo de doença crônica ou patologia ligada ao sistema imune, deveriam ser priorizadas pelo Ministério da Saúde na fila para a vacinação, dentro do Plano Nacional de Imunização. Isso pra nós é um ganho muito grande porque, independente de pessoas que estavam individualmente fazendo incidência sobre o tema, nós no Conselho Nacional de Saúde, enquanto representação da ANAIDS naquele espaço, já havíamos orientado e já havíamos feito, inclusive, o debate junto ao Ministério da Saúde de que não poderiam ser separados entre pessoas que têm HIV e pessoas que têm aids na hora da vacinação, porque em todas as outras campanhas de vacinação nós sempre estivemos todos em uma única população, seja para vacinar para influenza ou pneumonia. Então, é com muita satisfação que eu vejo isso ser reconhecido hoje e que, provavelmente, em algumas horas, ou amanhã, vai se tornar finalmente algo que não mais nos divide e simplesmente garante que a população vivendo com HIV/aids no Brasil será tratada com universalidade, integralidade e com equidade diante  do PNI. Estou muito feliz com isso.”

 

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

Dicas de entrevista

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Rodrigo Pinheiro (FOAESP)

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Moysés Toniolo (ANAIDS/CNS)

Tel.: (71) 99994-0018