Ao menos 15 estados brasileiros e o DF deram início neste fim de semana à campanha de vacinação para as crianças contra a Covid-19. Na sexta (14), algumas capitais brasileiras adiantaram a largada com atos simbólicos, como São Paulo, que aplicou a 1ª dose no indígena Davi Seremramiwe Xavante, de 8 anos. Nesta primeira fase, serão imunizadas crianças com comorbidades – incluindo as crianças com HIV, deficiência permanente, indígenas e quilombolas. Em seguida, o Ministério da Saúde recomenda que sejam vacinadas as que vivem com pessoas do considerado grupo de risco.

De acordo com especialistas ouvidos pela Agência Aids, as crianças HIV que estão com a imunidade sob controle devem ser vacinadas.

A Sociedade Brasileira de Imunizações defende que as crianças e adolescentes que vivem com HIV apresentam risco elevado de infecções e complicações por diversas doenças, grande parte preveníveis por vacinas. “A imunização é, portanto, extremamente importante, mas requer alguns cuidados, de acordo com o grau de comprometimento imunológico de cada pessoa.”

Já a dra. Doris Sztutman Bergmann, médica pediatra e coordenadora o Programa Municipal de IST/HIV/Hepatites Virais de São Bernardo do Campo, explicou que todas as crianças com HIV têm indicação de vacinação com a vacina contra Covid-19. “Elas farão parte do primeiro grupo de crianças entre 5 e 11 anos a ser vacinado.”

Nesse sentido, a Dra. Marinella Della Negra, professora honorária da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e presidente da Associação de Auxílio à Criança e Adolescente Portador de HIV, explicou que as crianças HIV que estão com a imunidade sob controle devem ser vacinadas.

No entanto, ela chamou atenção para que  o profissional que acompanha a criança informe a mãe da condição imune de seu filho.

“Existe um nível de CD4 abaixo do qual a criança não vai ter uma boa resposta à vacina, esta é a razão para seguir a orientação do médico que faz o seguimento. É importante a consulta ao médico que segue a criança, pois existem outros fatores que podem estar envolvidos, o que pode variar de criança para criança.”

Os benefícios superam os riscos

Especialistas ouvidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que falaram durante a aprovação da vacina para as crianças consideraram que os benefícios superam os riscos.

“A carga da doença [Covid-19] não é desprezível. A mortalidade dessas crianças nessa faixa etária é elevada – superior a qualquer outra vacina do calendário infantil, onde nós não hesitamos em recomendar as vacinas para as crianças dessa faixa etária”, frisou Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

“Só a Covid-19, nessa população em especial – crianças e adolescentes – mata mais do que todas as doenças do calendário infantil somadas, juntas, anualmente”, reforçou Kfouri.

A vacina

Anvisa autoriza vacina da Pfizer contra covid-19 em crianças | Agência Brasil

As crianças vão tomar a vacina da Pfizer, que tem dosagem e composição diferentes da utilizado em maiores de 12 anos. Ela será aplicada em duas doses de 0,2 ml (equivalente a 10 microgramas).

A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de vacinação e também pelos pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para serem vacinadas.

Intervalo pós-infecção

Assim como os adultos, crianças que forem diagnosticadas com Covid-19 devem aguardar quatro semanas a partir da data do início dos sintomas (ou da confirmação pelo teste, no caso dos assintomáticos) para se vacinar.

Crianças com HIV no Brasil e no mundo 

Segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, quanto à categoria de exposição entre os indivíduos menores de 13 anos, em 2019, a maioria dos casos (88,8%) teve como via de infecção a transmissão vertical. A taxa de detecção do HIV em crianças de 5 a 9 anos no ano de 2019 foi de 0,6% tanto no sexo masculino, quanto feminino.

A taxa de detecção de aids em menores de cinco anos tem sido utilizada como indicador para o monitoramento da transmissão vertical do HIV. Observou-se queda na taxa nos últimos dez anos, a qual passou de 3,6 casos/100 mil habitantes em 2009 para 1,9 casos/100 mil habitantes em 2019, o que corresponde a uma queda de 47,2%.

Todas as regiões do país apresentaram queda na taxa de detecção de aids em menores de cinco anos na comparação entre 2009 e 2019. A região com maior queda no período foi a região Sul, com 69,7% de declínio. A redução observada na região Sudeste foi de 43,8%; no Nordeste, de 43,3%; no Norte, de 29,8%; e na região Centro-Oeste, de 25,0%.

No Brasil, entre as mulheres, verifica-se que, nos últimos dez anos, a taxa de detecção apresentou decréscimo em todas as faixas etárias, sendo as de 5 a 9 anos, de 10 a 14 anos, as que tiveram as maiores quedas: 57,1%, 61,5%, respectivamente.

Na população geral, as maiores reduções na mortalidade ocorreram nas crianças de 5 a 9 anos (50,0%) e de 10 a 14 anos (66,7%).

Em todo o mundo, dados da Unicef mostram que pelo menos 300 mil crianças foram infectadas pelo HIV em 2020, ou uma criança a cada dois minutos, disse o UNICEF em um relatório divulgado hoje. Outras 120 mil crianças morreram de causas relacionadas à aids durante o mesmo período, ou uma criança a cada cinco minutos.

O último relatório HIV and Aids Global Snapshot (disponível somente em inglês) adverte que uma prolongada pandemia de covid-19 está aprofundando as desigualdades que há muito impulsionam a epidemia de HIV, colocando crianças, adolescentes, gestantes e lactantes vulneráveis em maior risco de não ter acesso a serviços vitais de prevenção e tratamento do HIV.

O relatório observa que muitos países viram interrupções significativas nos serviços de HIV devido à covid-19 no início de 2020. O teste de HIV infantil em países com alta carga diminuiu em 50% a 70%, com novas iniciações de tratamento para crianças menores de 14 anos caindo em 25% a 50%.

Calendário da vacina

O primeiro lote da vacina da Pfizer contra Covid-19 para crianças chegou ao Brasil na quinta-feira (13) e 1.248.000 doses foram distribuídas pelos estados.

Veja abaixo como fica o calendário para a vacinação das crianças pelo Brasil. Clique no nome dos estados para saber mais:

Redação da Agência de Notícias da Aids

Dicas de entrevista

Associação de Auxílio à Criança Portadora do HIV

Site: www.aacphiv.org.br

E-mail: contato@aacphiv.org.br

Tel.(11) 3081-0781

Programa Municipal de IST/HIV/Hepatites Virais de São Bernardo do Campo

Tel: (11) 2630-6420