Uma análise da maior coorte de pessoas vivendo com HIV nos Estados Unidos descobriu que esta população não era mais propensa a contrair o novo coronavírus, relataram pesquisadores durante 23ª Conferência Internacional de Aids. Segundo a pesquisa, as pessoas que contraíram a Covid-19 também não eram mais propensas a desenvolver a forma grave da doença.

“Até agora, não encontramos evidências de aumento da carga viral do HIV nos testes apresentados, nem um risco maior de resultados graves de Covid-19 pelo status do HIV”, disseram os pesquisadores.

Estudos realizados em diferentes partes do mundo também evidenciaram que as pessoas com HIV não têm mais probabilidade de contrair o coronavírus ou desenvolver doenças graves quando comparadas a pessoas que não vivem com HIV. Resultados semelhantes foram observados em Londres e Nova York.

Um estudo recente na Espanha, na verdade, observou taxas mais baixas de diagnóstico por coronavírus entre pessoas HIV positivas que tomavam antirretrovirais, especialmente tenofovir disoproxil fumarato / emtricitabina (os medicamentos com Truvada), levando os pesquisadores a sugerir que certos medicamentos contra o HIV podem ter um efeito protetor. A principal exceção até o momento é um estudo da África do Sul que mostrou aumento da mortalidade por Covid-19 entre pessoas com HIV.

Outros cenários das pequisas

O Dr. Lesley Park, da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, na Califórnia, e seus colegas examinaram os testes e resultados da Covid-19 entre pessoas com e sem HIV no Estudo de Coorte de Veteranos do Envelhecimento.

Dos 30.891 ex-militares HIV-positivos e 76.745 HIV-negativos da coorte, 2599 (8,4%) e 4977 (6,5%), respectivamente, foram testados para Covid-19.

Entre os testados, a taxa cumulativa de positividade para SARS-CoV-2 no final de junho era quase a mesma: 9,7% no grupo HIV positivo e 10,1% no grupo HIV negativo. Ambos os grupos tiveram um pico em testes positivos em meados de abril, em torno de 25%.

Observando as 253 pessoas HIV-positivas e 504 pessoas HIV-negativas com Covid-19, quase todas eram homens e a maior proporção estava na faixa etária de 60 a 69 anos, seguida pelas pessoas de 50 a 59 anos.

Veteranos negros, que compunham pouco mais da metade da coorte, tinham cerca de 70% mais chances de contrair o coronavírus do que brancos, enquanto veteranos latinos tinham cerca de 40% mais chances. Essa disparidade foi semelhante para pessoas com e sem HIV.

Curiosamente, nos grupos HIV positivo e HIV negativo, as pessoas que atualmente fumavam ou eram consideradas como tendo um nível perigoso de consumo de álcool pareciam menos propensas a testar positivo para SARS-CoV-2.

Entre os veteranos que vivem com HIV, cerca de 80% estavam em tratamento antirretroviral. A probabilidade de testar positivo para SARS-CoV-2 não diferiu com base no uso de terapia antirretroviral em geral ou em classes específicas de medicamentos.

O estudo também mostrou que 34% dos veteranos HIV positivos e 35% dos veteranos HIV negativos com Covid-19 foram hospitalizados; 14% e 15%, respectivamente, foram admitidos em uma unidade de terapia intensiva; e 6% e 8% foram entubados para ventilação mecânica. As taxas de mortalidade também foram semelhantes: 10% e 11%, respectivamente.

A taxa de positividade relativamente alta observada neste estudo pode refletir o fato de que os testes para coronavírus foram escassos, o que significou priorizar pessoas com sintomas ou contatos conhecidos com Covid-19 para testes. Enquanto o desenho do estudo de coorte se ajusta a muitos fatores potencialmente confusos, os pesquisadores observaram que as pessoas que vivem com HIV, especialmente aquelas com maior supressão imunológica, podem ter aderido mais estritamente à orientação de ficar em casa do que as pessoas soronegativas.

“As ligações potenciais entre o tratamento antirretroviral e a contagem de CD4 com a gravidade e a progressão da Covid-19 ainda precisam de investigação”, concluíram os cientistas.