Segundo o Programa das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids), 53% das pessoas que vivem com HIV/aids no mundo são mulheres. Os dados são de 2020 e mostraram que há 37,7 milhões de pessoas no total, infectadas pelo vírus.
O fato de a maioria da população que vive com HIV ser composta por mulheres, mostra o nível de vulnerabilidade a qual elas estão expostas em todos os continentes. As novas infecções pelo HIV foram reduzidas em 52% desde o pico em 1997. Mulheres e meninas foram responsáveis por 50% de todas as novas infecções em 2020.
A mesma pesquisa mostrou que 79% das mulheres adultas com 15 anos ou mais tinham acesso ao tratamento, e que 85% das mulheres grávidas vivendo com HIV tiveram acesso a medicamentos antirretrovirais para prevenir a transmissão do HIV para suas crianças em 2020. Isso mostra que, na maioria dos casos, as mulheres descobrem o HIV durante o pré-natal.
Além disso, o risco de contrair HIV é considerado 26 vezes mais alto para as trabalhadoras do sexo. Já a mortalidade por aids, diminuiu em 53% entre mulheres e meninas desde 2010.
Toda semana, cerca de 5000 jovens mulheres entre 15 e 24 anos de idade são infectadas pelo HIV, destacam os números do Unaids.
Na África subsaariana, seis em cada sete novas infecções pelo HIV entre adolescentes de 15 a 19 anos de idade estão entre meninas. As jovens mulheres de 15 a 24 anos têm duas vezes mais probabilidade de estarem vivendo com o HIV do que os homens. Cerca de 4200 adolescentes e mulheres jovens entre 15 e 24 anos de idade foram infectadas com o HIV a cada semana em 2020.
Mais de um terço (35%) das mulheres em todo o mundo já sofreram violência física e/ou sexual por um parceiro íntimo ou violência sexual por um não-parceiro em algum momento de suas vidas.
Em algumas regiões, as mulheres que sofreram violência física ou sexual do parceiro íntimo têm 1,5 vezes mais probabilidade de adquirir o HIV do que as mulheres que não sofreram tal violência.
Na África subsaariana, as mulheres e meninas responderam por 63% de todas as novas infecções pelo HIV em 2020.
Neste contexto pode-se entender a relevância de datas simbólicas como o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março.
Mulheres Trans
Segundo dados do Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/aids – Brasil— estudo inédito no país realizado em sete capitais brasileiras—, mais de 90% da população trans já sofreu discriminação da vida por conta da sua identidade de gênero.
Entre as situações de estigma e discriminação mais comuns, comentários discriminatórios, principalmente por membros da família, é o que mais afeta a população trans: ao menos 80,6% das pessoas relataram já terem passado por essa situação. Assédio verbal (74,2%), exclusão de atividades familiares (69,4%) e agressão física (56,5%) também aparecem como as situações de violência relacionadas à identidade de gênero que mais afetam essa população. Ao todo, 90,3% de travestis e transexuais que participaram da entrevista, sofreram alguma forma de estigma e discriminação.
O relatório mais recente do UNAIDS aponta que, em todo o mundo, o risco de infecção pelo HIV é 36 vezes maior para pessoas trans em relação à média verificada entre pessoas com vida sexualmente ativa. Além disso, globalmente, estima-se que 19% das mulheres trans e travestis vivam com HIV. Os dados mais recentes do Ministério da Saúde apontam para uma prevalência de HIV que pode ser superior a 30% entre travestis e mulheres trans no Brasil, enquanto na população em geral, esta prevalência do HIV é de 0,4%.
Mais de 100 anos de luta
As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento.
Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.
O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.
Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra – em um protesto conhecido como “Pão e Paz” – que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.
Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o “8 de março” foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.
Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)
Dica de entrevista
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