Ao longo da história ocidental, os “homossexuais” têm sido objeto de preconceito e discriminação. A partir da Idade Média, foram considerados pecadores pela religião cristã. Durante a inquisição portuguesa foram tratados como criminosos. Somente em 1830, com a sanção do primeiro código penal brasileiro, a “sodomia” deixou de constar como crime. No entanto, a medicina começou a enxergar a homossexualidade como doença. Entre 1948 e 1990, a Organização Mundial da Saúde classificou a homossexualidade como distúrbio, assim como também fez em relação à transexualidade entre 1978 e 2018. Existe então um acúmulo cultural milenar predominantemente contrária às pessoas LGBTI+.
Por outro lado, em 1969 houve uma “rebelião” de gays e travestis ocorrida no bar Stonewall, em Nova York. Na época o bar era objeto de repetidas batidas policiais, muitas vezes seguidas de prisões arbitrárias e humilhação ou exposição pública da condição homossexual das pessoas presas. Na madrugada de 28 de junho, a polícia fez uma costumeira batida no bar, mas desta vez por algum motivo a clientela se revoltou, transformou-se em uma crescente multidão e jogou moedas, pedras e garrafas nos policiais, os quais tiveram que se trancar dentro do bar para fugir do ataque. O batalhão de choque chegou para libertar os policiais presos no bar, mas levou mais de uma hora para dispersar os manifestantes. Na noite do mesmo dia, ocorreu outro confronto violento com milhares de manifestantes que durou até a madrugada do dia seguinte. Durante a semana que se seguiu houve mais manifestações, porém em escala menor.
Ao longo do ano seguinte, organizações pelos direitos LGBTI+ começaram a surgir. Um ano depois, em comemoração ao acontecido, realizou-se em Nova York uma parada gay. A data se estabeleceu com o Dia do Orgulho Gay. Todos os anos desde então, e em número cada vez mais crescente, tem sido realizadas paradas do Orgulho LGBTI+ em diversos países do mundo
No Brasil, em 1997, um encontro do movimento LGBTI+ realizado em São Paulo tomou a decisão de realizar paradas do Orgulho LGBTI+ em algumas das principais cidades do país, no dia 28 de junho daquele ano. Foi uma inciativa que cresceu rapidamente nos anos seguintes, tanto no número de paradas realizadas, quando no número de pessoas participando delas. Proporcionou visibilidade massiva às reivindicações pela efetivação da igualdade de direitos para as pessoas LGBTI+.
Ao contrário do Congresso Nacional, que até o momento não legislou nada para concretizar a igualdade de direitos das pessoas LGBTI+, a partir de 2011 o Supremo Tribunal Federal proferiu uma série de decisões que mudaram essa realidade: união estável homoafetiva (com casamento civil a partir de 2013), adoção de filhos, direito à identidade de gênero, criminalização de atos LGBTIfóbicos e reconhecimento do direito de doar sangue, independente da orientação sexual ou identidade de gênero.
Por outro lado, os registros de violações de direitos, violências e mortes violentas entre a população LGBTI+ permanecem num patamar elevado no Brasil em comparação com outros países, de modo que ainda há avanços a serem conquistados.
Por isso que comemoramos o Dia do Orgulho LGBTI+, para venerar as pessoas que lutaram antes de nós, para celebrar as conquistas e para reivindicar mais respeito à diversidade e uma cultura de paz. Nesta concepção, a palavra “orgulho” não tem significado de arrogância, significa sentir-se digno e não ter vergonha de ser LGBTI+ e de não se deixar ser inferiorizado e discriminado por seu o que se é.
* Toni Reis é diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Presidente da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, Doutor em Educação.