Esse ano a 23ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo vem com o tema: “50 anos de Stonewall”. Em 28 de junho de 1969, Stonewall Inn, Greenwich Village, Estados Unidos. A história começa nas primeiras horas da manhã, quando gays, lésbicas, travestis e drag queens enfrentaram policiais e iniciaram uma rebelião que lançaria as bases para o movimento pelos direitos LGBT nos Estados Unidos e no mundo. O episódio, conhecido como Stonewall Riot (Rebelião de Stonewall), teve duração de seis dias e foi uma resposta às ações arbitrárias da polícia, que rotineiramente promovia batidas e revistas humilhantes em bares gays de Nova Iorque.

Este episódio é considerado o marco zero do movimento LGBT contemporâneo e, por isso, é comemorado mundialmente.

A Parada do Orgulho LGBT é de suma importância para os movimentos que se formaram a partir dos eventos de luta por reconhecimento social. É uma manifestação sócio-política que reivindica direitos básicos e de equidade aos LGBTs, e saímos às ruas em marcha para celebrar o orgulho de sermos quem somos, de amarmos quem queremos amar, visibilizando nossas causas e nosso amor, que durante séculos vem sendo sufocado, exterminado e invisibilizado diante da sociedade heteronormatizante.

No Brasil, a Parada do Orgulho LGBT, aconteceu pela primeira vez em 1997, na Avenida Paulista em São Paulo/SP. Em 1999, passou a ter a sua organização pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo e em 2006, recebeu do Guiness Book, o título de maior Parada LGBT do mundo.

Já foram muitas as reinvindicações e temas levantados como Homofobia é crime, União e casamento LGBT, Equiparação de Direitos e Leis anti-discriminação, sendo hoje a principal bandeira a Criminalização da LGBTfobia, seja através da equiparação aos crimes de racismo, seja pelo PL 7582/2014 em tramitação no Congresso.

A Parada do Orgulho LGBT é um dia para celebrar vitórias históricas, mas também para relembrar que ainda há um longo caminho a ser percorrido, principalmente nesse momento em que nosso país vive um retrocesso atrás do outro com relação aos Direitos Humanos. Neste sentido, vejo que a Parada esse ano deverá ser mais que uma celebração, uma afirmação do seu caráter de ato político com manifestações pontuais contra esse desgoverno que aí está instaurado.

Não é novidade para ninguém o quanto a Presidência e sua equipe está articulando e disposta a apagar nossa existência e os poucos recursos que temos que nos equalizam com os demais cidadãos. Seja o casamento, a troca de prenome das pessoas transexuais, o direito ao uso do nome social no sistema público, o direito a professar a sua fé sem sofrer nenhuma discriminação.

Porém, todos estes mecanismos são dispositivos normativos, aprovados em comissões e instâncias da esfera jurídica, tendo em vista a omissão do legislativo em nos amparar, e podem ser excluídos ou eliminados dependendo da articulação de quem tem o interesse em nos prejudicar.

Por todos estes motivos, mais que nunca é importante se atentar ao caráter da Parada LGBT como ação política e de protesto. Para que possamos pressionar, conscientizar e aprovar leis que possam garantir de fato nossos direitos. Não estamos também dizendo que não devemos celebrar, sermos festivos, apenas alertamos para que o foco principal não se desvie e que a mensagem do orgulho também passe pela consciência de que nos dias seguintes, nós também tenhamos o direito de celebrar o nosso ser e amar.

* Xande Peixe é ativista pelos direitos humanos e LGBTI+ e foi o primeiro homem trans a presidir a Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo.

Contato: xandepeixe@gmail.com