O Renato chegou ao Departamento de Aids no começo dos anos 1990, eu era o chefe da unidade de prevenção e ele foi contratado para ser meu assistente. Um moço jovem, de 22 anos, mas com um potencial incrível e muita vontade de trabalhar. Renato ficou nesta posição por um tempo, na sequência se especializou em informática e se tornou uma pessoa chave nesta área.

Quando eu voltei ao Departamento, já na gestão do Dr. Paulo Teixeira, ele já era o cara da informática. Ajudou a montar todas as estratégias de informação. Foi responsável por todos os programas que existem até hoje, muitos o SUS até se inspirou, como os programas que controlam exames laboratoriais, medicamentos, consultas e a evolução clínica dos pacientes.

Ao retornar pela terceira vez ao Departamento, em 2013, o convidei para ser o administrador, a pessoa que ia cuidar de todo o sistema financeiro, das negociações com a indústria farmacêutica, contratos, entre outros. Ele era muito competente nesta área. Renato passou a ser o meu vice-diretor e assessor da área administrativa, incluindo recursos humanos e a coordenação de contratações.

Quem teve a oportunidade de conviver com ele sabe o cara incrível que ele era, sempre muito correto, licito e honesto. Era um ser humano fantástico. Hoje, revendo alguns arquivos, me deparei com o filme do seu casamento, onde ele faz uma declaração para sua esposa Cynthia. Foi um dos momentos de amor mais bonitos que já vi, eu nem estava no casamento, mas é uma declaração linda, ele chama a Cynthia de alma gêmea e coloca isso como uma questão muito importante em sua vida.  Aí veio o Benício, hoje com dois anos, uma criança muito feliz, uma família muito feliz.

O Renato foi imprescindível para a história do Departamento, passou por todos os momentos. O Sistema Único de Saúde perde muito com a sua partida. O nosso sistema público precisa de pessoas como ele para sistematizar as informações. Renato sempre prestava conta publicamente, não teve nenhum problema com transparência, por isso é reconhecido pela sociedade civil e por todo mundo. O SUS precisa disso, principalmente neste momento, com uma série de privações e dificuldades. Realmente é uma pessoa que vai fazer bastante falta. Ele deixou muita gente capacitada, muito do que vai continuar se deve a condição dele de formar gente.

Espero que ele tenha paz neste novo momento. Sobretudo, a gente tem muita solidariedade e muito cuidado com sua família e com o Benício. Eles devem estar sofrendo muito mais. Essa foi uma perda e tanto para todos nós.

Sua partida foi dolorosa. Descanse em paz. Sentirei sua falta eternamente.

#renatogiradepresente

* Dr. Fábio Mesquita é Médico infectologista, membro do corpo técnico do Departamento de HIV e Hepatites Virais da OMS, atualmente em Myanmar. Entre 2013 e 2016, foi diretor do então Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde. Já coordenou os Programas Municipais de DST/Aids em Santos, São Vicente e São Paulo.