Há pouco menos de um ano nasceu a LiBerTa, uma iniciativa voltada para a Saúde LGBTQIA+, com foco na saúde feminina em sua pluralidade.
Tendo como objetivo principal a disseminação de informações para uma ala historicamente marginalizada pelos serviços de Saúde, a ideia de criação da LiBerTa foi fomentada no contato com minhas pacientes no SAE Cidade Dutra, localizado na Zona Sul da capital paulista, na qual atendo pessoas com diagnóstico recente de infecção por HIV, muitas já em fase aids.
O diálogo com essas pessoas e principalmente com as mulheres cis ou trans/travestis, independentemente da sua orientação afetivo-sexual, era e é sempre permeado de diversas dúvidas quanto a própria saúde. Cada uma com sua demanda, trazendo muitos questionamentos em comum e também suas próprias peculiaridades.
Foi assim que entendi que precisava e gostaria de fazer algo muito além do que só continuar atendendo no SAE.
Costumo dizer que a LiBerTa nasceu de um incômodo. Do incômodo de assistir a misoginia que vivemos na saúde. As vezes misoginia disfarçada, camuflada. Noutras mais escancarada, gritante, mas sempre presente. Homens falando para homens, independente da orientação afetivo-sexual. Percebia que isso acontecia em páginas de conteúdo LGBTQIA+, que em sua grande maioria, direciona os assuntos para homens cis gay. Isso acontece no meio científico também, com a escassez de estudos voltados pro binômio saúde sexual e população feminina.
Quando pensamos, eu e a Tita, que é a responsável pela identidade visual do projeto, no nome que daríamos a isso, escolhemos LiBerTa porque essa palavra reunia as três letras das populações que mais visamos atingir: Lésbicas, Bissexuais e Trans/Travestis.
Acho que devemos popularizar o nosso modo de comunicar sobre saúde, principalmente sobre assuntos que ainda são tabus para uma parcela da sociedade que durante anos foi – e ainda é em muitos casos – vista como propriedade de alguém, uma extensão de alguém, para as quais são direcionados apenas temas relacionados à maternidade e dentro de um espectro limitado a ser mulher como algo anatômico/cromossômico/biológico; sendo que o entendimento do feminino vai para muito além disso.
Quero que todas essas mulheres se sintam abraçadas, acolhidas, seguras. De uma forma que eu, mesmo sendo uma profissional da saúde, muitas vezes não me senti. Que tenham informação de uma fonte confiável, que saibam mais sobre si mesmas e sobre o que ninguém nos conta ou fala. Eu de verdade quero ser ouvida, mas quero também que essas mulheres ergam suas vozes contra um sistema que inviabiliza seu próprio eu como ser independente.
Hoje a LiBerTa é um projeto que informa por meio de mídias sociais conteúdos básicos de saúde LGBTQIA+ com foco em temas relacionados à saúde feminina, numa linguagem abrangente e livre de jargões médicos.
Além disso, para quem desejar ter um atendimento mais acolhedor, também são ofertadas consultas clínicas e acompanhamentos no serviço, de forma presencial na cidade de São Paulo e online para qualquer lugar do mundo, que vão desde atendimento a Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV, hepatites virais e outras demandas da infectologia geral, até a realização e acompanhamento de terapia hormonal em pessoas transgênero.
A LiBerTa também iniciará em Novembro deste ano um programa de parceria com a Associação Transbordamos, de São José dos Campos, promovendo palestras em datas comemorativas como o mês Violeta, que acontece do dia 15 de outubro ao dia 15 de novembro, e disponibilizando atendimento médico gratuito via telemedicina para a população trans e travesti cadastrada na Associação, que deseja iniciar e/ou manter seguimento de uso de hormônios de maneira segura e com orientação profissional. A Associação Transbordamos atualmente tem um total de mais de 500 pessoas cadastradas, das quais quase 400 desejam fazer ou já fazem uso de hormônio sem orientação médica.
Quando soube da existência da Associação Transbordamos e entrei em contato com a Brunielly Lemos, presidente da Associação, fui muito bem recebida! Nossas ideias casaram e resolvemos usar o mês Violeta pra começar essa parceria. Sabemos que teremos muito trabalho pela frente, mas somos três mulheres (incluindo aqui a Juliana Cintra, enfermeira e colaboradora da Associação) muito animadas com tudo que visamos promover a pessoas que dificilmente tem acesso a saúde de qualidade.
A LiBerTa dissemina suas informações por meio de conteúdos em redes sociais, e está sempre aberta a convites para palestras, rodas de conversa e parcerias em projetos que tenham um objetivo comum. Ainda estamos engatinhando e precisando de divulgação, de espaço para atuar. Acho que precisamos da LiBerTa, assim como ela precisa da gente para continuar existindo.
Para conhecer a LiBerTa, siga as páginas nas redes sociais:
Instagram: @liberta.saude
TikTok: @liberta.saude
WhatsApp: (11) 91850-4248
* Dra. Eduarda Prestes, é médica infectologista é idealizadora da LiBerTa. Natural do Belém do Pará, ela atua há dois anos no enfrentamento a aids na cidade de São Paulo.