Eu dedico todas as felicitações de aniversário aos fundadores, pacientes e em especial ao Américo Nunes meu companheiro que é o cérebro do Instituto Vida Nova e eu o coração, é assim que as pessoas nos inspiram.

A história começou em 05 de maio de 2000. Pensar em 22 anos de histórias é pensar na convivência diária com milhares de pessoas que passaram pelo Instituto Vida Nova (IVN). Entre preconceitos, falta de recursos financeiros, mas com muito apoio e solidariedade nasceu o IVN. Como tudo no início e com incertezas tive preocupações e confesso, tive um pouco de medo, mas acreditava no potencial das pessoas que apoiavam a mim e ao Américo.

Na época, estávamos superando um momento difícil de injustiça relacionada a uma outra instituição; pessoas voluntárias desta mesma instituição nos deram ânimo e forças para a fundação do IVN. “Não quero fundar mais uma ONG/Aids, quero uma ONG/Aids que fizesse a diferença e que não violasse os direitos das pessoas com HIV/Aids, que não perdesse sua missão e que fosse transparente”. Assim disse o Américo.

Pensar em 22 anos juntos é pensar em compartilhar os pequenos detalhes e grandes decisões. Decisões de como ocupar espaço para a sede, decisões de como se organizar juridicamente, decisões de como ofertar serviços, decisões de acessar quem precisa, decisões de como arrecadar cada centavo tanto quanto como gastar cada centavo, decisões de seguir em frente e vencer os desafios.

Mas eu não tinha noção do quanto cresceríamos e do quanto somos necessários para as centenas de pessoas que assistimos nas mais diversas atividades oferecidas a elas de forma cem por cento gratuita.

Ora, uma jornada de quase um quarto de século é mais do que um aniversário; até porque a gente se adapta a cada ano para superar o que está por vir. 22 anos é a confirmação de um trabalho sério, respeitoso e acima de tudo em prol de quem precisa para além do status de ser ou estar presidente.

É uma jornada de altos e baixos; lidar no início com a morte de três a quatro pacientes por mês era muito doloroso desde o simples gesto de ter que dar baixa no prontuário e ainda dar suporte aos familiares.

Contudo, também é uma jornada repleta de alegrias e emoções. É uma jornada onde a solidariedade mostra as suas garras, unhas e dentes, e aprende-se a responder o imprevisível e o inesperado. Em tempos do fax e quando o IVN recebeu a doação de um computador 486 usado, foi uma alegria, como se tivesse de ter ganhado na loteria. Todas as doações de materiais de escritório, até um simples arquivo de mesa de madeira era cuidado e conservado como uma joia rara.

Dito isto, talvez você esteja me lendo e passando por dificuldades na tua instituição ou na sua vida. Não há nada que a comunicação sincera e verdadeira não te dê a esperança de que o amanhã possa nascer deixando as ataduras da amargura para trás.

É hora de celebrar os anos que vocês direta ou indiretamente viveram, estiveram e estão com a gente. Celebrar os pacientes que acolhemos. Cada momento. Cada campanha. Cada projeto. Cada natal. Cada aniversário e Cada conquista. Esta é uma conquista de gratidão profunda que sinto em meu interior e me dá a graça inexplicável de seguir e fazer do Vida Nova, minha Vida Nova a cada dia, quando estou com os pacientes no acolhimento, no grupo de convivência, no grupo da terceira idade, no grupo de adesão, na academia e com todas voluntárias/os e profissionais.

Superei vários desafios, o roubo e vandalismos que fizeram no quarto ano de existência do IVN e da falta de recursos financeiros do qual muitas instituições infelizmente encerraram seus trabalhos.

O IVN sobrevive as duas pandemias, da Aids e da Covid-19, graças aos nossos investidores, apoiadores e colaboradores; contudo teve que se reinventar nos últimos dois anos para que não perdesse vínculos e pudesse manter a atenção e assistência às pessoas com HIV/Aids, transgêneros e travestis, mantendo a chama acessa por dias melhores.

É certo e notório que o Vida Nova faz a diferenças na vida de muitas pessoas, assim como é referência no movimento de luta contra a Aids. Esteve na presidência do Fórum das ONGs/Aids do Estado de São Paulo, esteve na Coordenação do Mopaids Movimento Paulistano de luta Contra a Aids, foi membro da primeira Comissão Municipal de IST/Aids da cidade de São Paulo, realizou ações colaborativas junto a Rede de Pessoas Com HIV/Aids, compôs o Fórum Mercosul de ONG/Aids, recebeu delegações de diversos países para transferir conhecimentos e expertises, capacitou, empoderou centenas de pessoas por meio dos dez Encontros de Relações Humanas Em HIV/Aids e por meio de vários projetos e muito mais.

É certo também que constrói muitas histórias nas vidas das pessoas que o procura; Integração Social Educação e Cidadania – está em seu sobrenome, deixando claro o que faz e realiza. “Não basta se indignar é preciso fazer alguma coisa” esse é seu lema!

São anos que eu não consigo comemorar com os meus pais os nossos aniversários na mesma geografia, no mesmo país e tampouco celebrar a vida. Me sinto brasileiro, um Brasil que abre portas, faz com que eu seja ponte para centenas de pessoas.

Um dia de cada vez. Um dia atrás do outro, a jornada é longa. A jornada começou com um simples e pequeno passo. Viva o presente; construa no presente. Esteja presente no presente para que no futuro você tenha a chance de receber o maior presente de todos – estar do lado de alguém que tem passado a maior parte da tua existência lado a lado com você. Espero que a jornada para ter uma sede própria se concretize um dia.

Parabéns Instituto Vida Nova! Eu sou o seu presente.

* Jorge Eduardo Reyes Rodriguez é fundador e presidente do Instituto Vida Nova.