O recém-criado Instituto Multiverso, que congrega ativistas e influenciadores digitais em iniciativa inédita no país, estreia suas operações com um conjunto de ações com abordagens multi e transdisciplinares.

Embora o carro-chefe do Multiverso seja a criação da primeira clínica para atendimento de saúde integral à população LGBTQIA+ de São Paulo, e o enfoque à saúde e comunicação sejam pautas fundamentais do grupo, educação, cultura, Direitos Humanos e das pessoas LGBTQIA+ também são bases da organização.

O grupo tem como proposta apropriar, instrumentalizar e fortalecer pessoas, grupos e territórios vulnerabilizados, com vistas a ampliação da garantia de direitos e o enfrentamento às inequidades. Ele terá como meta fomentar a emancipação e a autonomia popular em suas múltiplas expressões, a tal ponto de se transformar em uma referência no enfrentamento às injustiças através de um eixo de ações que envolvam conhecimento técnico, empatia, direitos humanos e socioambientais, direito à comunicação e democratização das mídias. 

A organização se apresenta ainda como um movimento plural, diversificado, não confessional, não governamental, descentralizado e não hierarquizado. “Buscamos uma atuação horizontal e participativa. Pessoas com interesse em somar forças em um espaço colaborativo são sempre bem-vindas”, explica Pierre Freitaz, coordenador geral da entidade. “Qualquer pessoa ou organização que tenha identidade com nossos ideais e que queira trabalhar junto, é só chegar junto. Sabemos o quanto a burocratização dificulta e impossibilita o trabalho de coletivos, organizações pequenas e ativistas independentes. Uma das nossas metas é ajudar a viabilizar o trabalho dessas pessoas.”, continua.

O tema multiverso, escolhido para inspirar e dar nome ao instituto, tem despertado curiosidade. Para além dos inúmeros universos que abraçam a multiplicidade de temas aos quais o grupo tem se debruçado, o caldeirão que o compõe, é imenso. São personalidades muito distintas. Cada integrante com suas habilidades e dons singulares, fazem da equipe do Instituto Multiverso um time digno de HQ (histórias em quadrinhos).

QUEM VÊ CARA NÃO VÊ PERRENGUE

“Hoje estamos apropriados e gozamos de alguns privilégios, mas, mesmo assim, foi um longo caminho até aqui”, explica João Geraldo Netto, coordenador de comunicação e marketing do Multiverso. “O que hoje nos torna especiais, um dia nos fez esquisitos, vítimas de bullying e discriminação até dentro das nossas famílias. Muitos de nós foram considerados patinhos feios, problemáticos e perdedores. Não somos aquilo que a sociedade espera de um adulto em nossa condição e com nossas oportunidades. Insistir em uma existência alternativa ao status quo vigente não é simples. Nossas lutas enquanto LGBTQIA+, mulheres, pessoas vivendo com HIV, negros etc, exigiu longas caminhadas. Mas nessas andanças, uma coisa que aprendi é que juntos a gente anda mais e vai mais longe. Hoje, mesmo diferentes, conseguimos influenciar e usar nossos privilégios para alcançar a tão sonhada justiça social”, finaliza.

“Eu sempre me identificava com os personagens de HQs”, afirma Vinícius Borges, criador do canal Doutor Maravilha e coordenador de ciência e tecnologia da instituição. “Muitas vezes me senti como os X-Men dos quadrinhos, aquelas pessoas que, por serem diferentes do resto da sociedade, eram excluídas. Era uma linha tênue a de resistir e fazer a diferença, ou de me entregar e acreditar que não havia nada para mim no futuro. Fiquei com a primeira opção”, diz.

“Congregamos uma equipe que junta muito daquilo que a sociedade escracha, quase um exército de Brancaleone”, diz Fabiana Mesquita, coordenadora Educomunicação e Direitos Humanos. “Somos dissidentes da família tradicional brasileira. Somos a resistência e para muitos, a anarquia. Não temos compromisso com o óbvio ou o comum. Ao mesmo tempo, não temos a pretensão de representar este ou aquele grupo. Somos apenas um grupo de amigos que se cansou de assistir a banda passar pela janela, e se juntou para vir pra avenida, fazer barulho com ela”, completa.

O Multiverso conta com cinco coordenadores executivos, mais os líderes dos núcleos técnicos e de juventude. Cada uma dessas equipes, que atuará como Grupos de Trabalho (GTs), desenvolverá projetos em diversas áreas da ciência, que dialogam entre si.

As primeiras iniciativas do instituto, que já começam a se delinear, são os projetos:  

* Clínica online de atendimento psicológico, sob a supervisão dos psicólogos Giovana Meinberg e Harllen Oliveira.

* Clínica de atendimento de saúde integral para a população LGBTQIA+, sob a tutela do médico infectologista e influenciador digital, Vinícius Borges.

* Alívio da pobreza menstrual, sob coordenação da equipe de Direitos Humanos. Essa é uma das prioridades imediatas desta pasta. Para tal está estabelecendo parcerias com várias organizações a fim de somar esforços a essas ações. 

Para 2022, outras iniciativas estão programadas, entre elas, capacitações, atividades culturais, encontros e produção de material educativo. Interessados em se voluntariar podem contatar a organização pelo link https://linktr.ee/multiversoinstituto.

Junte-se a esse time de heróis que não usam capa! Ninguém muda o mundo sozinho.

 

* Fabi Mesquita é jornalista e educadora, e colaboradora da plataforma Brasileiras pelo Mundo, que congrega uma centena de mulheres brasileiras expatriados ao redor do mundo. Poetisa e bailarina, é mestre em Educação, Arte e História da Cultura e doutoranda em Antropologia. É ainda especialista em Educomunicação e Mobilização Social, com ênfase em Comunicação Não Violenta, Gênero, Direitos Humanos em Saúde e Juventudes.

Contato: +55 (61) 9 9872-4955