Face a mudança no planejamento de nosso trabalho devido a pandemia -2020 e 2021 – se faz necessário um espaço de resgate histórico e político do ativismo brasileiro ao longo dos anos 80 até 2021. Provavelmente o XXI ENONG previsto para abril de 2022 em Fortaleza no Ceará irá revisitar as conquistas que marcaram toda a luta e esforços na prevenção ao HIV/Aids e o papel social das ONG/Aids no contexto de enfrentamento e superação das diversas perdas de direitos a partir de 2016, principalmente, e as respectivas mudanças no campo científico, social e comportamental da luta contra o HIV no mundo.

Nossa expectativa para 2022 é muito cautelosa e vigilante pois estamos vivendo um momento político brasileiro onde o principal líder da nação ao invés de investir em uma narrativa de conciliação e integrar esforços é o principal conspirador contra a integração e unidade nacional. Mas isto já era conhecido e faz parte do jogo democrático, Collor de Mello é um exemplo vivo de como a política excluí e depois acolhe…

Nós do Grupo Pela Vidda-RJ estamos muito preocupados com o forte aparelhamento no Ministério da Saúde e, principalmente, no Departamento de Doenças de Condição Crônica e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI). É lamentável o desmonte da Resposta Brasileira ao HIV e Aids e todas iniciativas por parte do DCCI em 2021 só tiveram um objetivo fingir que está tudo bem e a sociedade civil organizada em parte fingir que acredita. 

Não somos consultados sobre nenhuma decisão importante, as reuniões virtuais “webnários” são espaços para os técnicos prestarem contas da política de Aids. O diretor do novo Departamento é uma pessoa de narrativas com tom conciliador, mas que na prática não temos respostas dos vários questionamentos sobre medicação com validade vencida, compra de insumos de prevenção, principalmente o gel lubrificante, campanhas publicitárias e materiais informativos, enfim é o pior momento da Resposta Brasileira desde da criação do Departamento de Aids em 1986.

Mas acreditamos na força e na pressão do Movimento Social de luta contra Aids no Brasil, apesar de estarmos fragilizados estamos vivos. Conquistamos recentemente três representações no Conselho Nacional de Saúde, ANAIDS, RNP+ e Cidadãs Positivas, isto é super importante, pois é o único espaço formal que temos atuação desde que o atual governo extinguiu todos os espaços de controle social da política de Aids brasileira.

2022 será uma prova de resistência e de união entre todos os setores da sociedade civil haja visto que a epidemia não está controlada, os dados não são atualizados, tudo indica uma considerável subnotificação e o cumprimento das metas 90, 90, 90 não nos parece compatível com o que vivenciamos na ponta.

Por falar em ponta será nos territórios que faremos nossa cobrança e pressão aos programas locais de IST/HIV/Aids. É da base que iremos promover uma grande “ola” para resgatarmos a resposta brasileira.

Governos passam e a luta permanece não será um presidente “sem noção” que irá comprometer nosso foco. A luta é todo dia contra a exclusão, o preconceito, o estigma, a dificuldade de diagnóstico, o cuidado em HIV e Aids bastante comprometido e as diversas incertezas que temos convividos nos últimos anos.

A gente não quer só remédio, queremos direitos garantidos, dignidade, saúde e gestores que dialoguem com a sociedade civil.

Viva a Vida

*Marcio Villard é Coordenador geral do Grupo Pela Vidda-RJ.

 

 Contato: gpvrj@pelavidda.org.br / @marcio_villard