Hoje (2) celebramos o Dia Mundial do Autismo. A data foi criada pela ONU em 2017 para derrubar preconceitos e esclarecer as pessoas sobre esse transtorno do neurodesenvolvimento. O dia existe também para fomentar junto à sociedade que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma doença e sim uma neurodiversidade que apresenta características específicas.

Neste ano, a data ganhou uma importância a mais na vida da minha família. Descobrimos recentemente que a nossa querida Alice tem TEA. Ela chegou ao mundo no final de 2019, três meses antes da pandemia de Covid-19, e seus comportamentos ‘diferentes’ vêm chamando a atenção de quem convive com ela diariamente. Gosto de colocar o ‘diferente’ entre aspas. Não é que a Alice é diferente porque tem um ‘problema’. Eu sempre achei que o tempo dela era diferente dos outros.

Conforme fui percebendo que a nossa pequena não correspondia à expectativa do momento, comecei a ler sobre o assunto no ‘Dr Google’. Também observei que ela tinha dificuldades em fazer amizades. Na escola, ela quase não interagia com as pessoas.

Eu e Roseli, que é madrinha da Alice, buscamos ajuda de uma pediatra e depois de uma equipe multidisciplinar. Ainda não existe um diagnóstico fechado, mas estou aprendendo que não podemos perder tempo quando o assunto é o desenvolvimento dos nossos filhos. A palavra que mais tenho ouvido nos últimos quatro meses é estimular. Já aprendi também que o termo correto para me referir a minha filha é atípica.

Escrevo este artigo em primeira pessoa para registrar que a luta pela Conscientização do Autismo também é minha bandeira. Neste Dia Mundial do Autismo, espero que possamos nos conscientizar para construir uma sociedade com mais inclusão.

Vocês devem estar se perguntando qual é a relação disso tudo com a aids. Há mais de 15 anos venho aprendendo com o movimento social de luta contra aids que juntos somos mais fortes, que a solidariedade não tem partido, que a saúde é direito de todos e dever do Estado, que os direitos humanos precisam ser respeitados e que não há justiça social sem democracia. A força das pessoas vivendo com HIV será meu combustível diário para me engajar nesta luta e pressionar o poder público a oferecer a nós, mães e pais de crianças autistas, todo o suporte necessário.

No Brasil, temos a “Lei Berenice Piana”, de 2012, que estabeleceu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo. Essa lei, regulamentada em 2014, garante os direitos dos autistas e os equipara às pessoas com deficiência. Ainda não consigo trazer um panorama completo, mas posso dizer que tenho lido muitos relatos e descobri que a maior queixa é de que ainda é necessário quebrar alguns estigmas sobre o autismo e assegurar os direitos das pessoas diagnosticadas. Pois, as adaptações necessárias, em geral, passam por esferas de comportamento e sociocomunicação dos ambientes.

O autismo é um ensinamento constante. Vem me ensinando a ver o mundo de outra forma, a amar incondicionalmente e a viver um dia de cada vez, dando valor a cada pequena conquista! Ainda estamos no início dessa caminhada, mas tenho certeza que o TEA já me ensinou que sou mais forte do que eu imaginava ser.

A convivência com a Alice me ensina todos os dias a ter mais paciência e reconhecer o tempo dela. Somente com a conscientização alcançaremos mais igualdade. Seu amor, carinho e respeito fazem a diferença! ❤️💛💚

#Autismo

* Talita Martins é mãe da Alice, jornalista e coordenadora Editorial na Agência de Notícias da Aids