Neste Dia das Crianças, escrevo aqui uma carta que eu gostaria de ler para os pequenos que nasceram de mães HIV+ e para meu filho, o Miguel. Quero contar para vocês que o Miguel é uma criança muito amada e é absolutamente feliz!
Desde quando vi o teste de gravidez positivo, tudo em minha vida mudou. Senti muito medo, muitas dúvidas, eu tinha só 19 anos, sem noção nenhuma de como seria minha vida depois daquele dia. A boa notícia é que tenho pessoas tão iluminadas e abençoadas em minha vida, que não tive nem tempo de me sentir sozinha.
Muitas pessoas ficaram preocupadas quando engravidei, pessoas que querem meu bem, que gostam de mim. O meu mundo não acabou ali, muito pelo contrário, eu não tinha noção que a melhor da vida estava por vir.
Eu não podia parar, eu ia dar a luz a uma criança, qualquer que fosse a minha escolha, a decisão teria que ser positiva. Me agarrei a Deus e comecei a lutar com perseverança pela vida como sempre lutei, sem impor coisas negativas. O famoso ‘eu não vou conseguir’ nunca fez parte do meu vocabulário.
Eu já trabalhava na época que engravidei, lembro que o apoio da coordenadora do hospital onde eu trabalhava foi fundamental.
No parto, vivi um dos momentos mais delicado, o pai do meu filho não estava presente, mas como nunca estive só, eu tinha ali do meu lado o tempo todo a minha madrinha Dorinha, que assistiu o parto e me ajuda até hoje na criação e cuidados com o Miguel. Sem ela eu nem sei como seria… Miguel também é muito apaixonado por ela, pelo avô e pela família dele.
Desde o dia em que nasceu, procuro passar para ele que temos que lutar muito para conquistar o que queremos e para sermos alguém na vida. Desejo ao meu filho o que toda mãe deseja, que seja um homem digno, sincero, que ame muito sua família, que ele valorize a mãe que tem e que luta todos os dias para não faltar nada em casa.
Meu filho vê no dia a dia que a minha luta pela nossa sobrevivência é constante, nada é de graça, temos que fazer por onde se não as coisas não acontecem.
Hoje não me sinto sozinha, tenho o Miguel comigo e me sinto segura por isso. Sim, o Miguel é o meu Porto Seguro nesta arte de viver a vida com dignidade, ele é TUDO para mim!
Para falar a verdade, nem sei como consegui chegar até aqui, não mudaria nada do que vivi até hoje. Amo o que tenho, a minha família, os meus amigos. Viver com HIV não me define, não me impede de ter uma vida como os outros têm.
Todos nós enfrentamos obstáculos, a luta contra a aids e a favor da vida é diária. Graças a ciência e aos avanços tecnológicos, hoje posso dizer com todas as palavras: eu venci a minha maior batalha contra a aids quando o meu filho nasceu livre do HIV.
A infância com HIV não é fácil, mas hoje é possível sonhar com um mundo livre da transmissão vertical.
Feliz Dia das Crianças!
* Marília Nascimento é técnica de enfermagem.