Sotaque portenhamente incomparável, bigode inconfundível e uma obsessiva atuação por políticas públicas em prol da melhoria da qualidade de vida das PVHA, Jorge será uma perda irreparável.
O desaparecimento do ativista Jorge Adrian Beloqui, mais do que enlutados nos deixam órfãos de um amigo e irmão que nos fazia se sentir protegidos e de uma militância constante, produtiva e qualificada que estiveram presente nas últimas três décadas no enfrentamento do HIV/Aids no Brasil.
Para nós, um duro e cruel golpe nas estratégias de assistência, prevenção e em especial de direitos humanos de um movimento que a tempos já sofre com o esvaziamento do ativismo, “muitas bandeiras para poucas mãos”.
Um ativista atípico que embora muito qualificado no campo intelectual, abdicava da costumeira soberba nos espaços acadêmicos e embrenhava-se desde as discussões em alto nível nas bancadas mundiais e nacionais até em manifestações nas ruas e praças empunhando cartazes e gritos por políticas públicas que atendesse as necessidades das PVHA.
Mais do que um professor era um mestre na arte da solidariedade e da empatia com seu jeito amorosamente brabo e duramente doce, de forma didática apresentou ao mundo um jeito simples de falar sobre a complicada saga das vacinas e os desafios que se apresentavam diariamente para seu desenvolvimento através de seu famoso e inesquecível Boletim de Vacinas.
Um matemático conceituado, professor de uma das maiores universidades do planeta, se utilizou por muitas vezes dos números para provar o quanto investir em políticas públicas, em especial, medicamentos, vacinas e direitos humanos para a melhoria da qualidade de vida das PVHA era um investimento necessário e não um gasto irresponsável.
Tinha uma obsessão por vida, tanto na forma regrada de que se cuidava, até nas renomadas instituições que esteve atuando na luta: Grupo Pela Vidda – SP, GIV, ABIA, Foaesp, Mopaids e RNP+ Brasil.
Era respeitado e admirado tanto no meio acadêmico e político como comunitário, atuava desde os conselhos comunitários de saúde e seus congressos e reuniões, até as complexas discussões da ética e pesquisa do CONEP.
Sempre dizíamos que ele era brasileiro, com descendência hermana, mais do que um amigo e irmão, perdemos um companheiro de luta e ganhamos uma pesada responsabilidade em dar continuidade a um legado único e qualificadamente desafiador.
Ferrenho defensor da liberdade, se utilizou dela para deixar sua família tupiniquim e ir visitar a família portenha, pregou uma peça em ambas quando embarcou de lá, sem passagem de volta, para a eternidade, deixou a vida em 9 de março de 2023 para entra na história de nossas mentes e corações.
Ainda em choque, com muita discordância de sua partida e em protesto desejo que você descanse em paz!
* Rubens Duda é amigo de Jorge Beloqui. Formado em letras pela Universidade Bandeirantes, ele já coordenou a Casa de Apoio Lar Betânia e integrou a equipe do Grupo de Incentivo a Vida (GIV). Duda foi um dos fundadores do Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo).