Acredito que para muitos daqueles que amam o Carnaval, seja participando em blocos, desfilando nas escolas, improvisando um sambinha na praia, nas praças, terão uma alegria interna de celebrar a democracia. Foram tempos difíceis: Covid-19, Fake News, um presidente que além de negacionista ainda associou a vacina da Covid-19 com a Aids…, nossa, muito motivo para colocar o bloco na rua!

Porém, infelizmente, ainda neste Carnaval não teremos a socialização das informações sobre saúde sexual e reprodutiva tão necessárias não só para momentos de festas, internalizados por cada indivíduo.

São aproximadamente 7 anos de desconstrução de programas como saúde sexual nas escolas, de recursos escassos para as ONG/Aids, cuja capilaridade assegurava que nas mais diversas pontas do Brasil a sexualidade fosse discutida.

Costumo brincar, de como nós do movimento social ligado ao HIV/Aids discutíamos fervorosamente o conteúdo das campanhas: Braulio, Kelly Key, a maravilhosa campanha do Ministro da Saúde José Gomes Temporão com o mote dos lubrificantes, dentre tantas outras. Éramos felizes e não sabíamos.

Tenho observado várias iniciativas de Programas Municipais e Estaduais de Aids, bem como das ONGs para este Carnaval. É o que temos para agora e será muito bem-vindo.

Não tenho elementos para saber se o Departamento Nacional de Aids conseguirá colocar para este Carnaval alguma campanha. Empenho, acredito que não falta, porém, quem conhece a máquina burocrática governamental (licitações, aprovações e afins) sabe que não é simplesmente uma questão de vontade.

Mas, penso que, como anteriormente pleiteávamos que as campanhas não deveriam ser apenas pontuais (Carnaval, Paradas, 1º de Dezembro, etc), teremos tempo nestes próximos 4 anos de discutir uma política efetiva de promoção à saúde sexual, de combate ao estigma, de acesso a Mandala da Prevenção com seu vasto cardápio ampliado.

Li sobre o aumento de homens heteros recém infectados em Marabá (leia aqui). Quem sabe não poderá ser um dos temas para a Campanha de Carnaval de 2024? Nós, que percorremos o Brasil afora, ouvimos recorrentemente da população em geral que o HIV só atinge a um determinado “grupo “ de risco”,  discurso reforçado nestes anos pelas Fake News e, como diz Roseli Tadelli, somos todos vulneráveis. Não temos influenciadores digitais (cis, heteros) para encabeçar esta questão, ou se houver, eu os desconheço. Por outro lado, não há o que culpabilizar, revelar a sorologia é uma decisão individual, no qual o preço a pagar por vezes é muito alto.

Espero que o Brasil tenha um Carnaval da Esperança e que nós educadores da sociedade civil, governos e outras instituições tenhamos maturidade e união para construir uma nova política que assegure o acesso aos direitos sexuais e reprodutivos para todes.

* Marta Mc Britton é presidente do Instituto Cultural Barong.