O 21º Encontro Nacional de ONGs/Aids (Enong 2022), que aconteceu no Ceará, foi uma oportunidade de avaliar as respostas e desafios que o Movimento Nacional de Luta contra a Aids enfrentará no próximo período. Temas como o pós-Covid, a garantia de direitos, a valorização do SUS entre outros refletem diretamente na vida das Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA) e seus entornos social e comunitário. Os debates, às vezes acalorados, que o encontro proporcionou são reflexos das realidades regionais cujas peculiaridades e entraves deságuam neste imenso mosaico de práticas e ideias que é o Enong.

Pensando nesta dinâmica de realidades, que nesta edição, a busca por maior visibilidade da ação das mulheres ativistas cresceu tanto como forma de combate ao conservadorismo, ao fundamentalismo e ao machismo como quanto oportunidade de se ampliar a visão sobre os desafios da saúde pública, sobretudo na atuação voltada para o HIV/Aids.

De forma pioneira mulheres (cis e trans) se reuniram e decidiram pela criação de um Grupo visando discutir questões para além das especificidades de cada uma, relacionado a Aids e suas coinfecções, com olhar da mulher, reduzindo a invisibilidade e integrando agendas.

O coletivo pretende ainda preparar as ativistas para influenciar nas temáticas relacionadas a Aids, fazendo com que nas diversas áreas que se relacionam com a epidemia do HIV e aids sejam abordadas de forma ampliada e diversa e possam atingir as populações em sua diversidade.

O nascimento do Coletivo Feminista na luta Contra HIV e Aids Gabriela Leite também uma resposta ao machismo que está presente de forma evidente, ou velada, nas estruturas governamentais, nos meandros sociais, nas definições de políticas e, inclusive, em ações da Sociedade Civil. A ocupação de espaços, visa ampliar os pontos de vista e trará contribuições e sentimentos à luta contra a Aids.

O 21º Enong é uma retomada após os dois anos vividos sob o signo da Covid-19, uma vitória da vida e um esforço de todos os seus participantes. Seus frutos serão sentidos ao longo dos dois anos, até o próximo encontro, mas mesmo antes de sua finalização as mudanças necessárias já acontecem, sobretudo com a ampliação desta perspectiva, cujo resultado irá além deste tempo, causando reflexões e impulsionando transformações de mentalidades e posturas.

* Marcia Leão é advogada e membro do Fórum de ONGs/Aids do Rio Grande do Sul.