27/07/2018 - 20h05
Aids 2018: Conferência Internacional de aids chega ao fim. Próxima edição será em São Francisco

Foram cinco dias, mais de 15 mil pessoas e cerca de 160 países. A 22ª Conferência Internacional de Aids foi encerrada na tarde dessa sexta-feira (27) em Amsterdã e reuniu pesquisadores, ativistas, políticos e gestores a fim de discutir inovação, pesquisas e direitos das pessoas que vivem com HIV/aids. O destaque para essa edição foi o número recorde de jovens que participaram do evento, o que representou um terço dos trabalhos expostos. Além disso, as profissionais do sexo marcaram forte presença.

Em seu último discurso como presidente da International Aids Society (IAS), Linda Gail falou sobre a importância de celebrar conquistas como o Indetectável = Intransmissível, a PrEP e os novos avanços em pesquisas. “Estigma e discriminação ainda são muito presentes na vida de quem tem HIV. É importante que a população chave esteja incluída nas estratégias de respostas ao vírus.”

Agora, o novo presidente da IAS é Anton Pozniak. Ele é diretor de serviços de HIV em Londres e líder de serviços de tuberculose do grupo de políticas Trust Antibiotic. Anton estudou medicina na Universidade de Bristol e lida com HIV desde 1983.

A próxima edição da conferência terá sede na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. O local é motivo de polêmica, principalmente entre o movimento social. Enquanto alguns defendem que a IAS deve escolher outro país para sediar o evento – uma vez que muitas pessoas que fazem parte de populações chave terão visto negado para entrar nos Estados Unidos, outros ativistas afirmam que “a América não é do Trump e não há que se ter medo. Precisamos ser livres em qualquer lugar. Não é hora de fugir nem de desistir”.

 

Balanço Final

Brasileiros e outros participantes de diferentes partes do mundo fizeram um balanço sobre a 22ª Conferência Internacional de Aids. Veja, na opinião deles, como foi o evento e o que pode ser aprimorado para a próxima edição:

Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo: “Foi a Conferência mais despolitizada que participei e o ativismo de parte dos brasileiros que estiveram aqui se reascendeu.”

Demetre Daskalakis, Nova Iorque: “Essa conferência foi muito positiva do ponto de vista da diversidade e das pessoas que vieram aqui. Foi positiva para a comunidade, para os governos e organizadores. Do ponto de vista de conclusões, para mim, o mais importante é o fato de as pessoas saberem que indetectável é igual a intransmissível. Já estive em conferências científicas, conferências que reuniram a comunidade e também sobre saúde pública. Esse foi um evento que reuniu todas as partes. Isso é como toda conferência deveria ser, com muito respeito em relação às experiências de cada um.”

Keila Simpon, presidenta da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais): “Foi importante a presença do Brasil e da população trans brasileira nesta Conferência. É a terceira vez que participo de um evento como esse e, em Amsterdã, foi a primeira vez que eu vi a pauta trans com frequência em diferentes debates. Também estive na Vila Global e pude trocar muitas experiências do universo trans. Um dos temas que mais me chamou atenção nos últimos dias foram os debates sobre PrEP (profilaxia pré-exposição). Muitos países não distribuem este medicamento gratuitamente, como é no SUS. Em Portugal, por exemplo, você compra nas farmácias.”

K.S.M Tarique – Bangladesh: “Aprendi muito com essa conferência e vou levar para o que aprendi para o meu país. Para mim, os temas mais importantes foram relacionados a apoios e financiamento. Como apoiar os programas corretos, como lidar melhor com os recursos financeiros. Assim, podemos fazer nossos projetos acontecerem.”

José Araújo Lima Filho, do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta contra a Aids): “Essa Conferência foi muito interessante, há muito tempo não participava e volto para o Brasil com mais garra para continuar lutando pelos direitos das pessoas que vivem com HIV/aids. Levo para o meu país a cede do ativismo que aumenta quando você encontra 15 mil pessoas que lutam contra a epidemia de aids, a criminalização e os direitos humanos. Debater populações-chave dentro da ótica de outros países e realidades foi fantástico. O amplo debate sobre criminalização foi o destaque desta Conferência. Participei, inclusive, de uma conversa com os colegas franceses e descobri que a criminalização da prostituição na França trouxe mais violência e novas infecções por HIV.”

Fatema Katum, Bangladesh: “Em minha opinião, o que mais aprendi nessa conferência foi a respeito da coinfecção entre tuberculose e HIV. Irei levar esse conhecimento para outros eventos os quais farei parte no decorrer do ano, em minha região. Sabemos muito pouco sobre esse tema e poderei agregar.”

Vilma Cervantes, do CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids): “A Conferência sempre é legal para renovar forças. Vê a mobilização mundial em torno da resposta do HIV e pessoas em busca de alternativas para avançarmos nesta luta foi fantástico. Em relação aos temas debatidos, o que me chamou atenção foi a redução do financiamento. Países que dependem de doação externa estão bem ameaçados, são lugares que não têm condição de manter a resposta. O acesso aos antirretrovirais na África, por exemplo, depende exclusivamente do financiamento internacional.”

Ivone de Paula, gerente de prevenção do Programa Estadual de DST/Aids: “O debate sobre indetectável é igual a intransmissível foi bem intenso nesta Conferência, o que nos fortalece nesta discussão. Vi também muitas discussões sobre profissionais do sexo, mostrando a importância de trabalhar com essa população. Os resultados da implantação da PrEP em outros países mostraram que estamos no caminho certo, há uma queda no número de novas infecções por HIV nos lugares onde a PrEP chegou mais cedo.”

Moysés Toniolo, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids e membro da Anaids no Conselho Nacional de Saúde: “Essa é a minha segunda experiência em eventos internacionais, me senti mais seguro para participar dos debates em torno da política de aids. Acompanhei ainda apresentações sobre sistemas universais de saúde. O destaque desta conferência é a certeza de que o mundo precisa analisar quais caminhos devemos seguir daqui para frente na luta contra a aids. A mensagem que fica é de que precisamos estar mais unidos para combater a onda neoliberal que traz retrocessos para todos as políticas de saúde, principalmente a política de aids no mundo.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

 

A Agência de Notícias da Aids cobre a Conferência em Amsterdã com o apoio do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, do Condomínio Conjunto Nacional e da Associação Paulista Viva.

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