Qual avaliação é possível nos tempos atuais sobre a macro e micro políticas na resposta brasileira ao HIV/aids? A pergunta foi o tema da mesa que o diretor-presidente da ABIA, Richard Parker, participou nessa quarta-feira (12), durante o “Seminário Coro de Vozes numa Teia de Significados sobre Cuidado às Pessoas Vivendo com HIV/Aids na Rede de Atenção à Saúde”, no Rio de Janeiro.
De acordo com Parker, enquanto a solidariedade era um marco ético-político para a construção de políticas públicas no enfrentamento da epidemia entre os anos 1990 e 2000, o Brasil foi exemplo para o mundo. “Os avanços científicos eram utilizados pela política para garantir o acesso e o tratamento das pessoas vivendo com HIV/aids e na construção de campanhas de prevenção”, lembra o diretor.
Ele explica que, no entanto, a mudança começa a partir de 2010. “As campanhas de prevenção começaram a ser atacadas pela bancada religiosa e conservadora no Congresso Nacional. Desde o ano passado, com o governo Bolsonaro, o desmonte da política para a aids tem sido rápido e assustador.”
“Muitas vezes movimentos que tem tido foco muito identitário tem dificuldades em criar laços de solidariedade com outros grupos porque a identidade acaba funcionando como barreira. O princípio da solidariedade é nossa capacidade de compreender o sofrimento do outro a tal ponto que nos permite ajudar ele, sentindo a dor como se fosse nossa. Por isso, continuo achando que o caminho do enfrentamento da aids não pode perder a solidariedade. O que é fundamental e que perdeu-se nos últimos tempos é vincular a solidariedade com o espírito democrático.”
“Me parece é isso que tem sido perdido no Brasil e em muitos lugares, é um processo que tem acontecido globalmente. Sem reconstruir o valor da democracia será difícil pensar o enfrentamento da aids”, disse Parker.
Para ele, a palavra do momento é resistência. “Precisamos arregaçar as mangas e recomeçar nossa trajetória mais uma vez”, disse.