Como colocar a experiência do viver com HIV em complemento ao conhecimento médico e científico, esse foi o objetivo do debate que aconteceu na tarde deste sábado, 14, durante o 8º Encontro Nacional Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ Brasil) – “Do estigma à perda de direitos fundamentais: resistindo por nenhum direito a menos”.

Segundo Alexsana Tresse, responsável pela assistência e tratamento do HIV no Departamento de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, colocar as pessoas diagnosticadas em tratamento é um dos maiores desafios da política de aids hoje.

Com objetivo de encontrar maneiras de ampliar as ações de testagem, Alexana apresentou medidas como estabelecer parceria com as organizações das sociedade civil, capacitar os profissionais de saúde, descentralizar a testagem paras os serviços e evitar agendamentos em dias e horários específicos já que há disponibilidade de um teste rápido que pode ser feito na hora, evitando assim, a dispersão dos pacientes. “Às vezes 24 horas é tempo suficiente para perder o paciente e não conseguir mais iniciar o tratamento”, explica.

Outro desafio é o número de serviços existentes, uma vez que, a cada ano, 70 mil novas pessoas entram em tratamento. “Para isso, precisamos identificar quais são os serviços que têm disponibilidade de ampliação para também atenderem à essa demanda. Precisamos perguntar, dentre as estratégias de prevenção combinada, qual delas cada serviço pode oferecer?”

Fortalecer o vínculo

“Estamos com quase 100 mil pessoas em abandono de tratamento. Hoje a gente recomenda que as pessoas que estão indetectáveis peguem comprimidos para 90 dias, nesse sentido, o estoque também é um desafio, mas é um facilitador da adesão”, diz Alexsana. 

“Há lugares em que as pessoas vivem a 500 km dos serviços, por isso precisamos achar caminhos mais viáveis. Embora muitas estratégias ainda sejam necessárias para acabar com a epidemia, é certo que é impossível por fim à epidemia sem disponibilizar medicamento para todos”, finaliza.

Dr. Rosa Alencar, médica do Centro de Referência e Testagem (CRT São Paulo), apresentou o plano de enfrentamento do estado. Segundo ela, há sim problemas e ameaças em relação à manutenção desses serviços.

Segundo ela, ações de promoção e prevenção na atenção básica, atividades que favoreçam a inclusão social com vistas à promoção de autonomia, redução do estigma e discriminação em articulação com as organizações da sociedade civil, além da existência de uma rede especializada são maneiras de fazer com que mais pessoas acessem os avanços científicos conquistados.

“Além disso, o acesso ao SAE deve responsável pelo acompanhamento longitudinal das pessoas vivendo com HIV/aids, além de encaminhar para outro serviços especializados”, afirma Dr. Rosa.

“Apesar das dificuldades em se falar sobre sexualidade no Brasil, quando se vai diretamente nos locais, consegue-se essa abertura.”

Especificidades

São Paulo também tem a especificidade em relação à quantidade de pessoas em situação de rua. De acordo com Dr. Robinson Camargo, do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo, acredita-se que pelo menos 5% da dessa população possa estar infectada com o HIV, o que significaria 5250 pessoas.

Dr. Robinson explicou como funcionam as vias de cuidado dentro do município de São Paulo. Foram citadas ações como a parceria com os consultórios de rua, testagem sorológica para HIV, sífilis,  e hepatites B e C.

O ativista Ruy Rico Barros, de Ribeirão Preto queixou-se das diferenças entre as diferentes cidades do Brasil em comparação com a cidade de São Paulo. Ele explica que o serviço de sua cidade não cumpre protocolos simples como a dispensação de medicamento 90 dias àqueles usuários que estão indetectáveis.

Em resposta, Dr. Rosa explicou que a aposta deve ser justamente no trabalho local, no contato com a regiões e nos municípios, “porque é assim que a gente agora está achando que as coisas podem avançar”. Ela também se comprometeu em entrar em contato com o serviço de Ribeirão Preto para questionar essa conduta.

Em complemento, Alexsana explicou que que quando com a nova obrigatoriedade do cadastro de CPF para acessar os serviços de saúde, será possível unificar e melhorar as informações do sistema de saúde e seu banco de dados. “Essa mudança vai acontecer de forma gradativa, a partir de janeiro de 2020 e com excessões para pessoas em situação de rua, indígenas e estrangeiros, por exemplo, mas a ideia é que a gente possa unificar esses dados para melhorar o sistema como um todo”. 

Dica de entrevista

RNP+Brasil

E-mail: comunica@rnpvha.org.br

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

 

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